A história da formação da
povoação de São Sebastião, em Brejo Santo - Ceará é contada através da sabedoria popular, passada entre
as gerações e esta tradição oral ainda hoje é presente.
Antigas veredas da Queimada do Meio, Vila São Sebastião, Brejo Santo - CE. |
Povoado de São Sebastião. Fonte: Google Earth. |
Na primeira metade do século XIX,
a colonização das margens do Riacho dos Porcos, desde sua nascente, em Jardim,
até o encontro com o Rio Salgado, em Quimami, já tinha iniciado, tanto pelo "Sertão de Fora" (pela colonização baiana), como pelo "Sertão de Dentro" (pela colonização
pernambucana).
No território onde hoje se
encontra o município de Brejo Santo, existiam currais de gado cavalar e vacum,
tanto na região do Poço e Canabravinha, como também na região próxima ao sopé
da Chapada do Araripe, chamada de Nascença. Foi por conta das estradas de
acesso aos Cariris Novos que passavam pelo pátio da Nascença, a razão pelo
início da ocupação urbana naquela área.
Pois bem, devido ao flagelo da calamitosa seca que assolou o nordeste brasileiro entre 1877 e 1879, Inácio Pereira da Silva e sua prole deixaram a vila de Sousa, na província da Paraíba
e foram para a vila de Santo Antônio de Jardim (hoje Jardim-CE), de onde por conta de conflitos políticos, foram
embora para o sítio Baixio do Couro (hoje Penaforte-CE) e posteriormente pediu
guarida ao coronel Domingos Leite Furtado, este chefe político da vila de
Milagres, acolhendo Inácio Pereira e sua família em uma de suas propriedades,
localizada no sítio Ludovico, às margens do Riacho Tamanduá, hoje região de fronteira entre os municípios de Brejo Santo e Milagres.
Foi devido à orientação do
próprio Cel. Domingos Furtado, que Inácio Pereira comprou uma parte de terra localizada aproximadamente a uma légua do distrito de Brejo dos Santos, existindo no centro da
propriedade uma grande clareira, local onde era comum a prática de queimadas de
Angicos (Anadenanthera colubina) para a retirada de uma das matérias-primas para confecção de sabão, o local era conhecido como a Queimada do Meio, próximo ao Riacho Porteiras.
Antiga ponte sobre o Riacho Porteiras. |
Na Queimada do Meio, a família se
instalou e começou a labuta na propriedade com criações e cultivo da terra.
Chegaram a construir um açude, que hoje serve como atrativo de recreação e
lazer para a comunidade. Inácio era devoto de Santo de Antônio e sempre fazia
questão de comemorar sua devoção, participando de novenários e os festejos eram sempre animados
com banda cabaçal. Na Vila São Sebastião, a tradição da cultura popular ainda se encontra viva e pujante, através da banda cabaçal Mestre Elias Rosinha, com mais de sessenta anos de atuação.
Banda Cabaçal Mestre Elias Rosinha. Foto: Seculte Brejo Santo. |
Inácio Pereira da Silva foi
assassinado numa Semana Santa, por lavradores que estavam trabalhando em sua roça, na Queimada do Meio, no ano de 1877. Após o final de mais um dia árduo na lavoura, tentando tirar da terra seca, dura e judiada pela mais devastadora seca da história do Brasil, alimentos para abastecer sua família, Inácio precisou voltar a plantação e quando lá chegou, deparou com os mesmos trabalhadores colhendo, sem seu consentimento, as poucas vagens de feijão brotadas no meio daquela sequidão. Inácio então tentou dar voz de prisão aos saqueadores, porém, estes partiram para atacar Inácio, matando-o. Neste ínterim, os filhos de Inácio ao perceberem que já tinha passado o horário do pai estar em casa, vão a sua procura e o encontram morto no meio da roça, junto aos assassinos: eram dois homens e uma mulher. Como vingança, os filhos de Inácio matam os dois homens no mesmo local e escalpelam a mulher, que também participou da morte do pai. Tanto Inácio, quanto os seus assassinos foram enterrados na mesma roça, local do fatídico fim do patriarca povoador da Vila São Sebastião.
Em 1977, em memória do centenário da morte de Inácio Pereira da Silva, seus descendentes decidem construir um cruzeiro no mesmo local de sua morte e descanso final.
Foram seus filhos: José
Inácio da Silva, Joaquim Inácio da Silva, Antônio Inácio da Silva, João Inácio
da Silva, Francisco Inácio da Silva, Manoel Inácio da Silva, Francelina Inácio
da Silva, Josefa Inácio da Silva, Francisca Inácio da Silva, Antônia Inácio da
Silva e Maria Inácio da Silva.
Com o passar dos anos, em 1927
houve um grande surto de doença misteriosa, que vinha dizimando a comunidade. Os
filhos e netos de Inácio Pereira apavorados, fizeram seus rogos: "Se aquela
epidemia fosse embora, a família pagaria a promessa instalando um quarto de
oração, em agradecimento a São Sebastião".
A epidemia cessou e a comunidade
começou a chamar de milagre, se mobilizando para o pagamento da promessa. O
Vigário da Paróquia Sagrado Coração de Jesus na época, era o padre Raimundo
Nonato Pita. Este, além de aprovar a ideia, convenceu a comunidade a construir
uma capela no mesmo local da antiga casa de Inácio Pereira, sendo São Sebastião seu patrono, com sua primeira missa realizada
em 20 de janeiro de 1930 pelo padre Pedro Inácio Ribeiro.
Aspecto da antiga capela de São Sebastião. |
Aspecto das tradicionais festas do padroeiro, no povoado de São Sebastião. |
A partir da religiosidade do povo
do lugar, ao passar dos anos, foi mudando a denominação de sítio Queimada do Meio para sítio
São Sebastião.
Já é hábito que, quando citamos o
povoado de São Sebastião, chamamos de “Vila de São Sebastião”, erroneamente.
Legalmente, o "São Sebastião" ainda possui a denominação de “Sítio” ou “Povoado”,
pois até o momento, nunca houve projeto de lei que o elevasse a categoria de
Vila.
Assim se formou a comunidade de
São Sebastião, em Brejo Santo-CE.
O Brejo é Isso!
Por Bruno Yacub Sampaio Cabral
Aspecto atual da comunidade São Sebastião, Brejo Santo - CE.
Referências:
- Vila São Sebastião, Seu Povo e
Sua História; Jovens Felizes em Cristo (J.F.C.); Brejo Santo, Ceará; 2007;
- Entrevista com Pedro José Lino (Pedro Juca), bisneto de Inácio Pereira da Silva, em janeiro de 2023.
Mais uma vez, venho parabenizar os historiadores /pesquisadores Bruno Yacub e Hérlon Fernandes. Artigo histórico rico em detalhes. Meu apreço e respeito à toda comunidade caririense. Sou filho dessas terras...abraço minha origem com muito esmero e apreço.
ResponderExcluirTenho 19 anos, cresci e me criei nessa vila e nunca tinha ouvido falar da metade dessa história. Enquanto lia meus olhos brilhavam, apaixonado pela riqueza história do meu lugar. Obrigado por registrarem tudo isso.
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