A Munganga Promoção Cultural

A MUNGANGA PROMOÇÃO CULTURAL: O Brejo Isso!

quarta-feira, 29 de abril de 2020

HISTÓRIAS EXTRAORDINÁRIAS DE UM MENINO SERTANEJO




Quando era criança, a época mais aguardada do ano era a das férias escolares. Isso significava uma passagem para o Paraíso: a casa dos meus avós maternos, no sítio Cancelas, em Porteiras. Tenho certeza de que vovó, até hoje, na longevidade de seus 102 anos, já confundindo sua lucidez com os devaneios próprios da senilidade, deve sonhar que por lá é muito feliz.

O sítio era realmente muito mágico, porque eu, de fato, acreditava-o assim, imerso nas superstições dos mais velhos. Começava por vovô Zé Milagres, um homem bruto, sério, reduto de moral, a quem eu nunca apostaria que uma mentira havia pendido sobre seus lábios; devoto de Nossa Senhora da Conceição, irmão do Santíssimo Sacramento, botava fumo para uma “Caboquinha”, uma entidade encantada que ele jurava: protegia a mata e castigava maus caçadores e intrusos que adentrassem seus limites, sem sua permissão. O fumo era, pois, um agrado oferecido em um dos batentes da janela. Vovô confirmava que ela vinha buscar aquela oferta, soltando um fino assobio que se perdia na madrugada.


- Vovô, e como é a Caboquinha? E ela é forte assim, capaz de resistir às armas?

- Meu fi’, a Caboquinha é assim do seu tamanho, cabelos longos e negros, que cobrem até o próprio rosto. Ela tem força maior que dez homens, porque a força dela é encantada. Ela pode tudo, castiga com uns cipós invisíveis. Conheço história de cabra que saiu todo surrado, na carne viva: peia da Caboquinha. Ela também gosta de fazer travessuras, porque é criança. Quando você observar algum bicho grande, com rabo dado o nó, pode ter certeza que foi obra dela.

Uma legião de netos se aglomerava no batente da casa, sob a luz vacilante de uma lâmpada, cada qual com uma xícara grande de chá de cidreira ou capim-santo. 

Quando vovô acabava a história, era a vez de titia Alice entronizar a sua. Titia era irmã de vovó; depois que enviuvou, foi embora pra São Paulo morar um tempo com seu único filho; mas sentiu saudades do sertão e retornou, ocupando o posto de segunda avó materna, para nossa alegria. Era uma mulher de muita fé, disposta, de inspiradora seriedade, o que conferia às histórias de sua vida um atestado de veracidade. Então, quem de nós, meros pirralhos, para duvidar das histórias fantásticas de titia Alice?


- Lembra, Hosana, daquela vez que fomos comprar querosene, para os candeeiros, e voltávamos, já à noitinha, pra casa?

- Lembro demais, Alice – respondia vovó, com ar de admiração, surpresa e espanto. Naquele dia a gente quase morre de medo daquela assombração!
E a meninada arregalava os olhos, indagava sobre o que tinha acontecido.

Calculando distâncias e apontado detalhes, titia continuava:

- Quando a gente estava mais ou menos perto de casa, ali antes da casa de comadre Maru, debaixo de um juazeiro, avistamos a figura de um homem, assim transparente, sério, com cara de sofrido, como se fosse de fumaça e luz…

- Era uma alma? - alguém, admirado, perguntou.

- Era, sim. Uma alma penada de alguém que enterrou uma botija, apontando para o chão e dizendo: É aqui!

Simone, uma prima que vivia em São Paulo, neta de titia Alice, não sabia o que era uma botija, por isso indagou sobre o que seria.

- Minha neta, uma botija é tesouro amaldiçoado. Certamente foi enterrado por motivo de ambição. Há histórias de botijas riquíssimas, cheias de moedas de ouro, joias… Quem desenterra a botija, além de ficar rico, livra a alma do castigo.

- E vocês não tiveram coragem de desenterrar? - algum outro menino questionou;

Então vovó Hosana interveio:

- Pra se cavar uma botija é preciso muita coragem, muita força. À medida que você vai cavando e chegando mais perto da riqueza, mais assombrações você vai vendo. É cão pulando pra tudo que é lado, galho de árvore... Nós duas, coitadas… Quando a gente se bateu com aquele mal-assombro, só deu tempo de correr em desespero… Caímos quase desmaiadas nos pés de mamãe, querosene derramado, da cor de uma flor-de-algodão! Dormimos no escuro... Perdemos a chance de ficarmos ricas, hein, Alice?…

Não dormi nada naquela noite, impressionado, amedrontado, e fascinado com tudo aquilo. Quando estava para cochilar, ouvi um assobio fino. Certamente era a Caboquinha… Vi o dia nascer, invadindo de luz as frestas da janela.

Juro que desejei, em tantas estradas daquela meninice, que uma alma aparecesse indicando uma botija para ser arrancada. Para mim, nesse tempo, as verdades eram docemente recheadas de fantasia.


29 de Abril de 2020 – Porto Velho, Rondônia.


Hérlon Fernandes Gomes

Para os primos e primas que ouviram comigo histórias extraordinárias como estas.

sábado, 25 de abril de 2020

A PEDRA DO URUBU, A CACIMBINHA E A NASCENÇA

Deve ter sido pelos idos de 1990, eu tinha nove anos. Era uma criança muito curiosa, menino ávido por descobrir a cidade, à medida que crescia. Foi quando, junto a alguns amigos, descobrimos sobre existência da pedra do Urubu, da Cacimbinha e da Nascença, três lugares do mesmo caminho, não muito longe da cidade, os quais deveríamos conhecer.

Eu precisava inventar alguma desculpa para driblar minha mãe. Ela não deixaria jamais seguir nessa ideia. Diria que eu me aquietasse em casa, porque ela não queria saber de notícia minha perto de açude…

Se ela soubesse do plano em curso… Melhor que não soubesse!


A gente não tinha medo de bandidagem. Brejo era uma cidade pacata. O primeiro medo foi atravessar a BR-116, movimentada de carros e carretas que cruzavam de todos os cantos do Brasil. Depois, seguimos até a Matriz do Sagrado Coração de Jesus, entramos para nos benzer. Olhamos o Senhor Morto, deitado numa tumba de vidro; fui me admirar, pela enésima vez dos olhos vivos de uma Nossa Senhora enorme, vestida de azul, com olhar penoso, trancada em uma das torres da igreja, e seguimos no rumo da Usina…



Pouco depois avistamos a pedra do Urubu, suspensa no alto, acima de uma casa, entulhada de mato. O acesso não era fácil, mas arrumamos um jeito de nos embrenhar no mato, pagar o preço de furar os pés nalguns espinhos de juá e chegar até o rochedo, por veredas íngremes, rodeado de ossos.


De cima da pedra, vi o Brejo como nunca havia visto: vasto na amplidão. Havia gigantes coqueirais dispostos sobre a várzea, como resistentes soldados do seu tempo, com seus troncos finos suspensos sobre o pântano. Também se via claramente a desigualdade social, constatável na diferença das moradas do resto da cidade e das taperas que se erguiam Serrote, uma favela de gente pobre, esquecida pelo Estado. Eu ainda não tinha consciência política, porque menino quer é brincar; mas tenho certeza de que foi minha primeira indagação sobre a injustiça social: Por que uns têm tanto; e tantos, tão pouco? Tive de despertar do devaneio, para seguirmos para a Cacimbinha.

Passamos por uma lavanderia pública, mas não nos demoramos. Algumas mulheres se aglomeravam, cercadas de meninos, para lavar roupa, chorar lamentações e rir de bobagens. Não achamos o lugar interessante, melhor seguirmos para ver aquela estrada bonita, cercada por um paredão rochoso.


A estrada da Cacimbinha realmente era um lugar deslumbrante. Até o ar que a cercava era diferente: frio, perfumado dos cheiros que desciam de cipós, de musgo e flores silvestres. Um tropel de jumentos, armados de cangalhas, ia e voltava, carregando água para as circunvizinhanças e para toda a cidade, acompanhado de homens, mulheres e crianças, com uma lata ou um balde de cargas.


A Cacimbinha era, então, aquele tanque de pedra aberto no pé desse paredão de rochedo, que se estende naquela região. Naquele reservatório, filtrava-se incessantemente uma água cristalina, que matava principalmente a sede da gente do Serrote, desprovida de água encanada; mas muita gente ganhava a vida vendendo essa água da Cacimbinha para famílias das mais abastadas da cidade. Eu me admirei, na minha inocência infantil, e perguntei para a aglomeração:



- Mas ela se enche sozinha?


Ao que uma forte mulher me respondeu, equilibrando um imenso balde de flandre, cheio d’água, sobre uma rodilha na cabeça:


- Não, menino. Quem enche a Cacimbinha é Deus! - e seguiu, passo certo, desafiando os pedregulhos, segurando um menino pelo braço, mais parecendo uma atração de circo, não derramava uma gota d’água, não vacilava no seu destino.


Por fim, deixando a Cacimbinha, depois de passarmos por um juazeiro, que servia de cemitério para santos quebrados, avistamos os primeiros reflexos da água da Nascença! Marmeleiros e camarás compunham a perfumaria natural. Santo Deus! Era a coisa mais linda que eu já tinha visto em Brejo Santo. Foi como se tivesse descoberto um tesouro. Aquela lagoa natural, gênese da história da cidade, era imensa. Era um paraíso.



Demos um jeito de passarmos rasteiros sob o arame e ali estávamos, em silêncio diante do êxtase. Inspecionamos o local e encontramos uma pequena trilha, que levava até uma pedra: nosso eleito trampolim. Nadei, boiei e me diverti como um rei naquele dia.


A Cacimbinha e a Nascença secaram, mas permanecem cheias na saudade de um menino. Felizmente, a pedra do Urubu resiste, em dias melhores, e hoje é um desses portais por onde me reconecto a esse passado feliz.

Hérlon Fernandes Gomes

SOBRE A ORIGEM DA FAMÍLIA MARTINS DE MORAIS EM BREJO SANTO

Serra do Poço, Brejo Santo - CE.


    Em Esboço Histórico do Município de Brejo Santo, Otacílio Anselmo nos traz as seguintes informações sobre a região do Poço: 
    "A tradição não menciona a época em que se acostou aquelas terras o seu primeiro habitante. Sendo absolutamente certo que o fato aconteceu antes de 1714, atribui-se que o evento se verificou no limiar do século XVIII.
    Quando à última indagação, é historicamente certo que o povoamento de Brejo Santo começou simultaneamente no atual sítio Nascença e na região do Poço, que é um novo distrito da Comuna.
    O Poço, por motivo de ordem geográfica, não se desenvolveu. O estabelecimento da estrada dos boiadeiros, que partindo de Vila Bela para o Cariri passava no pátio da fazenda Nascença, distanciando-o da rota dos povoadores da região caririense.
    Num documento muito antigo figura o nome de um dos primeiros barões feudais, cujos domínios se estendiam àquelas paragens.
    Trata-se do testamento de Matias de Lima Taveira, lavrado no sítio Tabocas, aos 17 dias do mês de agosto de 1750, pelo qual se vê que o testador possuía terras no Poço, Canna Braba e Canna Brabinha.
    Outro opulento possuidor de terras no Poço, depois de Taveira, foi o capitão Bartolomeu Martins de Morais, cidadão português, casado com Ana Maria Ferreira, tronco dos Martins de Morais. Suas fazendas de gado vacum e cavalar estavam situadas no Poço, Porteiras, Pilar e Riachão."

Serra da Canabravinha, limite dos municípios de Brejo Santo e Mauriti - CE.

    Pois bem, já em 1748 fixado na Ribeira do Riacho dos Porcos e, em dado momento, o maior posseiro da zona, em terras que vieram a integrar-se aos territórios dos municípios de Milagres, Mauriti, Brejo Santo, Porteiras e Jati, o capitão Bartolomeu Martins de Morais, português, nascido no ano de 1729, no Concelho e Distrito do Porto, em Portugal, filho de Dom Bartolomeu Martins de Morais, nascido em São Sebastião da Vila Pouca da Beira, Concelho de Oliveira do Hospital, Coimbra, Portugal e N. M. Martins, natural da cidade de Porto, Portugual. Bartolomeu Martins de Morais foi casado com a baiana, da cidade de Salvador, Ana Maria Ferreira. É tronco, com Ana, da família Martins de Morais, do Cariri, muito entrelaçada com Furtado Leite, Filgueiras e Cardoso. Seus latifúndios se transmitiram aos filhos, dez ao todo. São eles:
    JOÃO MARTINS DE MORAIS – Capitão, agropecuarista, nasceu a 15.08.1761, na freguesia de São José dos Cariris Novos, Missão Velha, Ceará. Casou-se a 02.02.1801, em território atualmente pertencente ao município de Mauriti, Ceará, com Antônia Maria do Espírito Santo Furtado Leite. Tiveram nove filhos: Rita Martins de Morais, Ana Rosa Martins de Morais, João Martins de Morais (filho), Joaquina Maria Martins de Morais, Rosa Martins de Morais, Antônia Martins de Morais, Pedro Martins de Morais, Antônio Martins de Morais.
    JOANA MARTINS DE MORAIS – Nasceu nos Cariris Novos, Ceará, e foi a 2ª esposa de Gonçalo de Oliveira Rocha, Tenente (viúvo de Francisca de Jesus), um dos destacados colonos do rincão brejo-santense, que nasceu no ano de 1703, na vila de Penedo, Alagoas, filho de Bento de Oliveira Rocha e de Joana da Rocha. Gonçalo faleceu a 20.08.1799, e foi sepultado em 21.08.1799, na Igreja Matriz de Missão Velha, Ceará. O casal senhoreou a Fazenda Nascença, limítrofe do Sítio Brejo, junto de cujas terras molhadas surgiu a cidade de Brejo Santo. Tiveram quatro filhos: Pedro Martins de Oliveira Rocha, Gonçalo de Oliveira Rocha Júnior (Gonçalinho), Joana Martins do Espírito Santo, Maria Martins de Oliveira Rocha e Rita Francisca de Jesus (filha do 1° casamento de Gonçalo com Francisca de Jesus). 
    "De Joana descendem, entre outros, os Lucenas (Chicotes), os Martins de Oliveira e os Cardosos, de Brejo Santo; os Filgueiras, do Roncador (Barbalha); Sampaio Filgueiras, de Barbalha, Jardim e Pernambuco, e os Sampaio Macedo, de Crato." (ARAÚJO, 1957).
    É necessário reconhecermos e corrigirmos um equívoco histórico. O capitão Gonçalo de Oliveira Rocha Júnior, o Gonçalinho, nascido na Fazenda Nascença, no atual município de Brejo Santo, Ceará, casou-se com Joana Pereira Filgueiras, que nasceu em terras do atual município de Barbalha, Ceará. Esta, filha de Inácio dos Santos de Oliveira Brito e de Francisca Teodora Pereira Filgueiras. (Joana, portanto, é sobrinha materna do Capitão Mor de Crato e Governador d’Armas do Ceará, José Pereira Filgueiras). O capitão Gonçalinho faleceu no ano de 1824, assassinado, no Sítio Cantagalo, em Missão Velha e não no ano de 1850, durante o ataque do corpo policial provincial de Crato à Fazenda Nascença, comandada pelo chefe político da vila de Milagres, Manoel de Jesus da Conceição Cunha, quando a maioria dos filhos de Gonçalinho morreu, conhecidos como a família Santos.
    FRANCISCA RODRIGUES DE LIMA – Casou-se com Pedro Francisco Vasques, que nasceu na Galiza, Espanha. Tiveram três filhos: João Francisco Vasques, Rita Maria de Lima e Pedro Francisco Vasques Júnior.
    ANTONIO MARTINS FERREIRA – Casou-se no ano de 1796, no atual município de Porteiras, Ceará, com Maria Caetano de Melo, que nasceu em Porteiras.
    MARGARIDA MARTINS DE MORAIS – Foi a primeira esposa de Nazário Carlos da Silva Saldanha (casado três vezes). Pais do padre Miguel Carlos da Silva Saldanha.
    ROSA MARIA MARTINS DE MORAIS – Nasceu no Cariri cearense, casou-se no ano de 1796, na freguesia de Milagres, Ceará, com Antônio Pereira da Silva, que nasceu na freguesia de Foz de Douro, Concelho e Distrito do Porto, Portugal. No de 1790, já se fixara no Cariri. Sem informação sobre descendentes.
    ISABEL MARIA MARTINS DE MORAIS – Casou-se no ano de 1799, na freguesia de Milagres, Ceará, com Luciano Pereira da Silva, que nasceu em Icó, Ceará. Residiam em Milagres. Sem informação sobre descendentes.
    JOSÉ MARTINS DE MORAIS - Casou-se 1° em Piancó, Paraíba, com Maria José de Souzel, que nasceu em Bom Sucesso do Piancó, Paraíba. Casou-se a 2ª vez com Antônia Josefa de Sousa, que nasceu na província de Sergipe, filha de Francisco Xavier das Chagas e de Antônia Ferreira da Costa. Sem informação sobre descendentes.
    MANUEL MARTINS DE MORAIS - Sem informações.
    INÊS MARTINS DE MORAIS – Nasceu em 11.11.1769, no Sítio Pilar, no povoado de Milagres, Ceará. Sem mais informações.
    O neto paterno do capitão Bartolomeu Martins, o Comandante Superior da Guarda Nacional da Província do Ceará, Pedro Martins de Oliveira Rocha, filho de Joana Martins de Morais e Gonçalo de Oliveira Rocha, nascido nos Cariris Novos, foi chefe político em Milagres, da facção contrária à do Juiz local, Manuel de Jesus da Conceição Cunha. Afigurou-se o maior senhor de fazendas entre seus pares na área dos atuais municípios citados. Por milhares contaram-se as cabeças de gado de seus campos. Com alguns destes, confinaram, do lado de Pernambuco, as fazendas Mameluco e de Amargoso, de propriedade de Amaro Florentino de Araújo Lima, amigo e compadre daquele Martins milionário de gados e terras, e, de anos, pois faleceu aos cento e vinte anos de idade, segunda a tradição, no sobrado da Fazenda Poço, e está sepultado na capela do sítio Nazaré, a dois passos da cidade de Milagres. Este Martins alternava a residência nas suas Fazendas Poço e Cacimbas, a qual por transmissão hereditária, passou a sua neta paterna, a viúva Maria Pia Martins Xavier. Foi o mesmo Martins, tio-avô do coronel Joaquim Cardoso dos Santos, Quinco Cardoso, que chegou a possuir para mais de três mil cabeças de gado em Brejo Santo, nas últimas décadas do século dezenove, ele, bisneto do citado capitão Bartolomeu Martins de Morais, e pai do primeiro Juiz togado daquele município, Antônio Cardoso dos Santos. 

Capela de Nossa Senhora dos Remédios, no Sítio Nazaré, em Milagres.
Local de sepultamento do Comandante Superior Pedro Martins de Oliveira Rocha,
falecido com 120 anos de idade, segundo a tradição.

    Pedro Martins de Oliveira Rocha foi casado com Francisca Martins Cardoso, filha de Antônio Cardoso dos Santos. São seus filhos:
    MARIA MARTINS CARDOSO -  casada com Pergentino Martins de Morais, filho de Manoel Martins de Morais e Ana Martins Furtado. Tiverem somente um filho, Pedro Martins Cardoso de Morais.
    ANTONIO MARTINS CARDOSO -  casado com Amélia Martins Barreto, de quem são filhos: Luiz Martins Barreto, João Martins Barreto e Maria Martins Cardoso (Dona Sinhá, nascida em 31.07.1900 e falecida em 26.06.1971), esta casada com o major Firmino Inácio de Sousa (nasceu em 16.10.1894 e faleceu em 20.07.1973), filho do major José Inácio do Barro e pais de Antônio Martins de Souza, nascido em 29.11.1919 e falecido em 11.04.2018. Dona Sinhá adquiriu em 1919 o sítio Cachoerinha, às margens do Riacho dos Porcos, sede do atual distrito do Poço, em Brejo Santo.

Firmino Inácio de Sousa (Major Firmino)
e Maria Martins Cardoso (Dona Sinhá Martins).

Major Firmino Inácio (Pai) à esquerda, Antônio Martins (Filho) ao centro
e Dona Sinhá Martins (Mãe) à direita.

Aspecto atual da casa pertencente ao Major Firmino Inácio e Dona Sinhá Martins,
no sítio Cachoeirinha, distrito do Poço, em Brejo Santo - CE.

A antiga vila da Cachoeirinha marca a sede do distrito Poço em Brejo Santo - CE,
localizada às margens do riacho dos Porcos.
A capela de Nossa Senhora de Sant'Ana foi edificada ainda no século 19
por Pedro Inácio dos Santos, um dos irmãos Santos,
família proprietária do Sítio Nascença.
Adquirida por Sinhá Martins em 1919,
neste mesmo ano iniciou-se a ampliação do templo.
A vila da Cachoeirinha foi destruída por uma enchente
do riacho dos Porcos no início dos anos 1970.

Interior da capela, parte ampliada a partir de 1919.

Altar da capela, na parte edificada por Pedro Inácio dos Santos,
na segunda metade do século 19.

Local dos restos mortais do Major Firmino Inácio, Dona Sinhá Martins
e seu filho, Antônio Martins.

Capela Senhora Santana, no sítio Cachoeirinha,
sede do distrito do Poço, em Brejo Santo - CE.

O Riacho dos Porcos, hoje perenizado pelas águas da transposição
do Rio São Francisco, margeia o sítio Cachoeirinha.

Foto aérea do sítio Cachoeirinha.
Observa-se a Barragem dos Porcos ao sul (parte superior da foto).
Esta é uma das cinco barragens instaladas pelo Projeto de Transposição do Rio
São Francisco em Brejo Santo.  Fonte: Google Earth.

    PEDRO MARTINS CARDOSO -  de quem são filhos: Maria Pia Martins Cardoso, Alice Martins Cardoso e José Martins Cardoso.

A rica viúva Maria Pia - A baronesa das Cacimbas.

Maria Pia ao centro, já idosa.

Sobrado do coronel Pedro Martins Cardoso,
 na fazenda Cacimbas, em Brejo Santo - CE.

Aspecto atual da fazenda Cacimbas, em Brejo Santo - CE.

   
 Os capitães José Landim, Manuel Antônio de Jesus e Bartolomeu Martins de Morais, assinaram, respectivamente, as atas das eleições dos Procuradores das Obras da Matriz da Povoação de São José dos Cariris Novos, realizadas, sucessivamente, em dois de maio de 1786 e em primeiro de janeiro de 1792. 
    Aquela povoação que foi o núcleo inicial da atual cidade de Missão Velha e sede da primeira freguesia criada e inaugurada no Cariri, primeiro sob a invocação de Nossa Senhora da Luz, substituída, depois, pela de São José.

FALECIMENTO DO CAPITÃO BARTOLOMEU MARTINS DE MORAIS 


    O citado capitão Bartolomeu Martins de Morais, faleceu em 25 de maio de 1794, com sessenta e cinco anos de idade, e sepultado em 26 de maio de 1794 na Matriz da primeira Freguesia dos Cariris Novos, ao qual, ajudou a erguer.
    Transcrevo o registro do óbito do capitão Bartolomeu Martins de Morais, inserido no Livro de Registro de Óbitos; fl. 36; Paróquia de Missão Velha; 1788-1806, cit. "Aos vinte e cinco de maio de mil setecentos e noventa e quatro faleceu Bartolomeu Martins de Morais, de idade de sessenta e cinco anos, casado que era com Ana Maria Ferreira, sem sacramentos por morrer apressadamente, sepultado envolto em hábito branco nesta Matriz, encomendado pelo Reverendo da Cura André da Silva Brandão, de que mandou fazer esse assento e assinou. 
    André da Silva Brandão, Pároco." 

FALECIMENTO DO TENENTE GONÇALO DE OLIVEIRA ROCHA 


    Por igual, transcrevo o registro do óbito do tenente Gonçalo de Oliveira Rocha, marido, em segundas núpcias, de Joana Martins de Morais, citada, filha do referido capitão Bartolomeu Martins de Morais, inserido no Livro de Registro de Óbitos; fl. 67; Paróquia de Missão Velha; 1788-1806, cit. "Aos vinte dias do mês de agosto de mil setecentos e noventa e nove, faleceu da vida presente, na idade de noventa e seis anos, Gonçalo de Oliveira Rocha, casado que era com Joana Martins, recebeu o sacramento da Penitência, foi amortalhado em hábito branco, encomendado pelo Reverendo Pároco André da Silva Brandão e sepultado das grades para cima nesta Matriz, de que fiz assento, em que assinei. 
    O Cura André da Silva Brandão." 

Alguns aspectos da Serra do Poço

                                  Face leste da Serra do Poço. Registro feito a partir da Serra da Canabravinha.






Alguns aspectos da Serra da Canabravinha






O Brejo é Isso!




Fonte bibliográfica

- ARAÚJO, Padre Antônio Gomes de; Os Arnaud no Cariri; Obras do Padre Antônio Gomes de Araújo vol. 3; Coleção Estudos e Pesquisas; vol. VII; Faculdade de Filosofia do Crato; 1980;
- ARAÚJO, Padre Antônio Gomes de; O magnífico Reitor da Universidade do Ceará; Obras do Padre Antônio Gomes de Araújo vol. 3; Coleção Estudos e Pesquisas; vol. VII; Faculdade de Filosofia do Crato; 1980;
- ARAÚJO, Padre Antônio Gomes de; Nota Genealógica, os Furtado Leite; Revista Itaytera; n° 3; Ano 3; Instituto Cultural do Cariri; 1957;
- FILHO, J. de Figueiredo; História do Cariri; Volume 3; Capítulo 10° ao 14°; Coleção Estudos e Pesquisas; Faculdade de Filosofia do Crato; 1966;
- Jornal Centenário de Brejo Santo; Tribuna do Ceará; 1990;
- LIMA, Francisco Augusto de Araújo; Siará Grande- Uma Província Portuguesa no Nordeste Oriental do Brasil; volume II página 652. - volume I pagina 313-Volume I, pagina 387 - volume IV pagina 1925-volume IV pagina 2111; Editora Premius; Fortaleza; 2001;
- PINHEIRO, Irineu; Efemérides do Cariri; Imprensa Universitária do Ceará; 1963;
- SILVA, Otacílio Anselmo e, Esboço Histórico do Município de Brejo Santo, em revista Itaytera N° 2, Instituto Cultural do Cariri, Crato - CE, 1956;
- www.geni.com - acesso em 13 de janeiro de 2020.

sábado, 18 de abril de 2020

O BREJO ARCAICO E A GUERRA DE PINTO MADEIRA

CONFLITOS POLÍTICOS E SOCIAIS NO CARIRI ANTIGO


Local do fuzilamento de Joaquim Pinto Madeira, na manhã de 28 de novembro de 1834.
Está localizado no Bairro que leva seu nome, em Crato - CE.
Fonte: ejaf-escolajosealves.blogspot.com


PADRE JOÃO MARTINS DE MORAIS


    O padre João Martins de Morais, companheiro do padre Antônio Manoel de Sousa, o famoso padre “Benze Cacetes”, sacrificado em sua carreira eclesiástica e nos haveres, pela causa de Joaquim Pinto Madeira, ficou no rol dos esquecidos.

    Natural do Sítio Coité, na época pertencente a vila do Crato, atualmente localizado no município de Barbalha, Joaquim Pinto Madeira foi um militar, rico proprietário rural e chefe político da vila de Jardim, que ao tomar conhecimento da abdicação de D. Pedro I, acompanhado de um grupo de partidários, entre eles o vigário de Jardim, padre Antônio Manuel de Sousa, marchou para a vila do Crato, onde levantou o grito de rebelião, em 27 de dezembro de 1831. De imediato, prendeu seus adversários liberais e readmitiu todos os que haviam sido demitidos por ordem do governo da Regência, no episódio que passou à história como Guerra de Pinto Madeira. 

  O general Pedro Labatut, um mercenário francês que atuava no Brasil desde as lutas pela independência, foi o encarregado de combater Madeira, que na iminência de ser derrotado rendeu-se às forças legais no lugar Correntinho, próximo à Santa Fé, em Crato.

    Na manhã de 28 de novembro de 1834, menos de quarenta e oito horas após seu julgamento, Pinto Madeira fora levado para seu calvário, no Alto do Barro Vermelho, subúrbio da vila de Crato - hoje bairro Pinto Madeira. Durante o percurso fúnebre do qual faziam parte o carrasco, dois guardas, algumas autoridades e dois padres chamados “confessores da agonia”, o condenado teria pedido a estes que conseguissem com as autoridades presentes a permutação de sua pena por enforcamento para fuzilamento em atenção à função militar que exercera. Depois de muita discussão o pedido de Pinto Madeira foi concedido.

    Ainda que de cunho regional, essa rebelião está vinculada às demais rebeliões ocorridas no período regencial, tais como a Cabanagem, a Sabinada e a Balaiada.

    Pois bem, a família Martins de Morais seria a grande aliada de Pinto Madeira no Vale do Riacho dos Porcos, tendo como importante representante o padre João Martins de Morais. Este era filho de mulher forte do Cariri antigo, Dona Antônia Maria do Espirito Santo Furtado Leite (Iaiá Velha) e do capitão João Martins de Morais (Pai). Esta, uma simples sertaneja que no decurso das guerrilhas em prol da casa dos Braganças, no primeiro reinado, em 1824, desempenhou papel saliente, concebendo na própria residência, manobras táticas, prestando serviço de enfermagem aos feridos, abastecendo de gêneros alimentícios os combatentes, etc.

    O padre João Martins de Morais deixa sua Fazenda Poço onde residia, com seus genitores e seus irmãos, e vai a auxilio do seu colega e um dos cabecilhas da revolta de 1831. Refiro-me ao padre Benze Cacetes, vigário colado na Barra do Jardim, Antônio Manoel de Sousa. Os dois Sacerdotes tomam parte saliente na Guerra de Pinto Madeira.

    Durante os anos em que Pinto Madeira era a maior influência política do Cariri, os Morais gozariam dos favores e proteção do potentado caririense. Durante as décadas de 1820 e 1830 estenderam seus domínios desde o Vale do Riacho dos Porcos até o Brejo da Barbosa, onde adquiriram várias propriedades e se tornaram igualmente donos de vastas extensões de terras por toda a região. Outra família próspera, a Furtado Leite, estendia seus domínios desde a povoação de Milagres ao Buriti e ao Cuncas. Logo essas poderosas famílias se uniriam através de laços matrimoniais ou acordos políticos.

    O diário, sob o título "Expedição do Ceará em auxílio do Piauí e do Maranhão", escrito por Tristão Gonçalves Pereira de Alencar, e publicado na revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, demonstra que o citado João Martins de Morais (Pai) manteve relações oficiais com os chefes da Expedição, o próprio Tristão Gonçalves e José Pereira Filgueiras, quando estes se encontravam estacionados em Crato, de passagem para aquelas províncias. Em ofício, solicitaram ao João Martins, auxílio para a Expedição em marcha, no que foram atendidos, pois, em 15 de maio de 1823, o mesmo João Martins entregava, em Crato, aos dois chefes, 38 cabeças de gado no valor de 228$000 réis, a 6$000 cada uma.

Fonte: Revista Trimensal do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; Tomo XVLIII; 
Parte I; Rio de Janeiro; 1885;pág. 432.

    Nascido em dezembro de 1801, no Sítio Riachão, atualmente no município de Milagres, Ceará, padre João Martins de Morais era filho legítimo do capitão João Martins de Morais (nascido em 15.08.1761 na Freguesia de São José dos Cariris Novos, atualmente no município de Missão Velha) e de Dona Antônia Maria do Espírito Santo Furtado Leite (nascida em Umburanas, atualmente no município de Mauriti). Casaram-se em 02.02.1801. Neto paterno do capitão Bartolomeu Martins de Morais, português da cidade do Porto, e de sua esposa, Ana Maria Ferreira, da cidade de Salvador, Bahia; neto materno do capitão Gregório do Espírito Santo, do então distrito de Milagres e de sua mulher, Isabel Furtado Leite, sendo Isabel, por sua vez, filha do tenente-coronel Luís Furtado Leite de Almeida, português, da Ilha de São Miguel e de sua mulher, Beatriz de Sousa, da ribeira baiana de Pambu (atual Bom Conselho). Além de João Martins de Morais, eram filhos do casal João Martins e Antônia Maria: Rita Martins de Morais, Ana Rosa Martins de Morais, Joaquina Maria Martins de Morais, Maria Antônia Martins de Morais, Rosa Martins de Morais, Antônia Martins de Morais, Pedro Martins de Morais e Antônio Martins de Morais.

    O coronel Bartolomeu Martins de Morais e o citado tenente-coronel Luís Furtado Leite de Almeida, estabelecidos na ribeira do Riacho dos Porcos, na passagem da primeira para a segunda metade do século 18, fundaram acolá, as famílias Martins de Morais e Furtado Leite, marcantes na vida econômica, social e política em terras atualmente dos municípios de Milagres, Mauriti, Brejo Santo, Porteiras e Jati. Foram as Fazendas Poço e Coité, os núcleos econômicos, respectivamente dos Martins de Morais e dos Furtado Leite.

    Parente do padre João Martins de Morais, Dr. Leite Maranhão, afirma que o Sacerdote “se retirou para a Bahia, na Guerra do Pinto, porque era partidário deste”.

    Monsenhor Raimundo Augusto, igualmente parente do citado Sacerdote, conserva, a respeito do assunto, a tradição vigente na família. Em resumo diz ele que o padre João Martins de Morais tomou parte ativa na rebelião empreendida por Pinto Madeira. Vencido este, o Sacerdote passou a viver oculto, não sem ciência dos pais, é claro. Sobrevivido copioso inverno, não se aguentou. Não tendo cessado as perseguições aos pintistas e sendo um deles, a mãe tentou solução de arranjo de família, e neste sentido, expediu positivo com carta para Dona Joana Martins do Espírito Santo Filgueiras, a quem pedia proteção para o filho perseguido. A destinatária, sobrinha materna do pai do Sacerdote, portanto prima deste último, era então, casada com o capitão Romão Pereira Filgueiras, irmão do famoso caudilho, já desaparecido, Capitão-Mor de Crato, José Pereira Filgueiras.

    O casal era partidário radical do anti-pintismo, pelo que a resposta fulminante: “O destino do padre João Martins de Morais será a forca”. Isso obrigou o Sacerdote a procurar asilo entre seus parentes da Bahia, afirma o citado monsenhor Augusto, provavelmente em Pambu, berço da bisavó do mesmo padre João Martins, Dona Beatriz de Sousa Silveira. Lá faleceu o Sacerdote.

    Na versão do general Joaquim Pinheiro Monteiro, o padre João Martins de Morais refugiou-se em Penedo, Alagoas, acompanhado de sua genitora. Vejamos: “Mãe e filho são deixados em Penedo por circunstancias imperiosas. Aquela volta ao Ceará, mas já sem o filho, que abalado pela violência do exílio não resiste ao traumatismo moral e falece, em janeiro de 1835”.

    Dona Antônia, além de ser proprietária da Fazenda Poço, possuía também outros imóveis dentre os quais se salienta o Sítio Pedra Branca.

   Ali costumava passar, em companhia do esposo João Martins, a época da safra, assistindo a fabricação rotineira da rapadura.

    Com a ausência que durou três longos anos, esta sua última propriedade fora ocupada devidamente pelo Tenente da Milícia, José Gregório Tavares consorciado com Josefa Maria da Conceição.
Dona Antônia, porém, mulher varonil não obstante, ferida pelo infortúnio e profundamente abalada pela morte do filho, tenta e consegue reivindicar seus direitos espoliados.

    Envidou esforços titânicos para isso. Por esse tempo chegam ao Cariri o Visitador Diocesano e seu secretário. Acompanha-os Antônio Raimundo Brígido dos Santos que se dizia muito prejudicado pelos pintistas. Requer ao Juiz de Paz, João Dantas Ratheia um Libelo Civil a fim de ser indenizado de vultoso prejuízo, apontando como principal responsável, o padre João Martins de Morais.

    O Juiz bem parcial na causa foi contrário, à pretensão, justa de Dona Antônia. A matrona, porém, não se abate. À frente de grupo armado, decide-se a reivindicar pela força, seu direito, que a justiça prevaricadora lhe negara, sem apoio na lei. Após dias de luta, Dona Antônia, em março de 1835, tenta ação judicial e obtém então, ganho de causa. Apodera-se do mencionado Sítio que estava sob domínio de José Gregório Tavares. Ali viveu ainda longos anos.

    Mais tarde outro personagem aparece, portanto, coberto pela poeira dos arquivos, o padre João Martins de Morais. Sua mãe, pela tenacidade, pode também ser enquadrada na galeria das mulheres varonis do Cariri do século 19, entre as quais se sobressaem as heroínas Bárbara Pereira de Alencar e sua nora Ana Triste, a mulher de Tristão Gonçalves de Alencar Araripe. Não podemos esquecer a firmeza de convicção da sertaneja Joana Martins do Espírito Santo Filgueiras que preferiu sufocar o amor de família a seu primo padre João Martins de Morais, apontando-lhe, enérgica, como única saída naquela emergência de cúmplice do pintismo: a forca.


    O Brejo é Isso!


    Por Bruno Yacub Sampaio Cabral.

    Leia também:


DOS SANTOS DO BREJO AO BREJO DOS SANTOS


    Fonte bibliográfica

- ALENCAR, Tristão Gonçalves Pereira de; Expedição do Ceará em auxílio ao Piauí e Maranhão; revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; Tomo XLVIII; Parte I; Pág. 432; de 1885; Rio de Janeiro;

- ARAÚJO, Padre Antônio Gomes de; Os Arnaud no Cariri; Obras do Padre Antônio Gomes de Araújo vol. 3; Coleção Estudos e Pesquisas; vol. VII; Faculdade de Filosofia do Crato; 1980;

- ARAÚJO, Padre Antônio Gomes de; O magnífico Reitor da Universidade do Ceará; Obras do Padre Antônio Gomes de Araújo vol. 3; Coleção Estudos e Pesquisas; vol. VII; Faculdade de Filosofia do Crato; 1980;

- BRÍGIDO, João; Ceará, Homens e Fatos; Edições Demócrito Rocha; Fortaleza; 2001;

- BRITO; Sócrates Quintino da Fonseca e; A rebelião de Joaquim Pinto Madeira, Fatores Políticos e Sociais; Universidade Federal de Santa Catarina (Mestrado); Florianópolis; 1979;

- IRFFI, Ana Sara R. P. Cortez; Pinto Madeira e seu exército de cabras: Conflitos políticos e sociais no Cariri cearense pós independência; Clio, Revista de Pesquisa Histórica; N° 35; Jan-Jun 2017; Recife;

- FILHO, J. de Figueiredo; História do Cariri; Volume 3; Capítulo 10° ao 14°; Coleção Estudos e Pesquisas; Faculdade de Filosofia do Crato; 1966;

- LEITE; Maria Jorge dos Santos; A influência das liberais no Cariri cearense e a Sedição de Pinto Madeira; XXVII Simpósio Nacional de História; Natal; 2013;

- LIMA, Francisco Augusto de Araújo; Famílias Cearenses Um; Editora Premius; Fortaleza; 2001;

- LIMA, Marcelo Ayres Camurça; Acordo e conflito: Relação das oligarquias agrárias, setores comerciais e camadas populares nas primeiras décadas da República Velha, no Ceará; Revista de Ciências Sociais; V. 16/17; N° 1/2; Fortaleza; 1985/1986;

- MARANHÃO, Leite; Contribuição ao estudo genealógico das principais famílias de Milagres; Revista do Instituto do Ceará; Tomo LXIV; Ano LXIV; Emp. Editora Fortaleza Ltda; 1950;

- PINHEIRO, Irineu; Efemérides do Cariri; Imprensa Universitária do Ceará; 1963;

- PINHEIRO, Irineu; Joaquim Pinto Madeira e a Revolução de 1832; Revista do Instituto do Ceará; Tomo LVII; Ano LVII; Emp. Editora Fortaleza Ltda; 1943;

- PINHEIRO, Raimundo Teles; Guerra do Pinto (síntese); Revista do Instituto do Ceará; Tomo XCIX; Ano XCIX; Fortaleza; 1985;

- SOUSA, Carlos César Pereira de; Milagres: nossa terra cariri; Fortaleza; Expressão Gráfica e Editora; 2021;

- STUDART, Guilherme; Diccionário Bio-bibliográfico Cearense: Joaquim Pinto Madeira; Typo-lithographia A Vapor; v. 2; Fortaleza; 1910;

http://ejaf-escolajosealves.blogspot.com/2015/03/joaquim-pinto-madeira.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Pinto_Madeira

quarta-feira, 8 de abril de 2020

UM CIVILIZADOR NO CARIRI - PARTE III (FINAL)

Para lembrarmos dos 80 anos de falecimento do primeiro chefe político e o gestor municipal de maior duração na história de Brejo Santo, A Munganga Promoção Cultural disponibiliza para os leitores, o texto "Um Civilizador no Cariri", de autoria do Padre Antônio Gomes de Araújo e publicado na revista A Província; Ano 3; N° 3; em 7 de julho de 1955; Crato - Ceará; págs. 127 a 146. O texto será dividido em três partes.

CORONEL BASÍLIO GOMES DA SILVA

80 ANOS DE FALECIMENTO

08.04.1940
08.04.2020

UM CIVILIZADOR NO CARIRI 

PARTE TRÊS (FINAL)


Na foto: Brejo Santo, em 1918. Figuras representativas do Município em cordial reunião na Casa Paroquial. Sentados da esquerda para a direita: Cel. Manoel Inácio Bezerra, Prefeito na época; padre Raimundo Monteiro Dias, que foi Vigário no período de 1913-1915; padre João Alboíno Pequeno, pároco na época, filho de Crato e falecido como Monsenhor, em São Paulo, Capital; padre Plácido Alves de Oliveira, Vigário de Milagres; Cel. Basílio Gomes da Silva, que governou o Município de 1893 a 1909, chefiando o Partido Republicano Cearense (Aciolino), em cuja legenda figurou como candidato a Deputado Estadual nas eleições de 1896; João Gomes de Moura. Em pé na mesma ordem: Manoel Inácio de Lucena (Cel. Manoel Chicote), Prefeito em 1912-1914; Cel. Manoel Leite de Moura, Prefeito no período de 1929-1930, José Leite de Moura, irmão do precedente; Antônio Gomes de Santana (Antônio Generosa); Antônio Teixeira Leite (Antônio da Piçarra); Misael Fernandes Pinheiro, Coletor Estadual; Alcides Cavalcanti, primeiro Agente da Estação Telegráfica, natural de Alagoas; Emanoel Antônio Cabral (Bom de Ouro); José Luís Tavares Campos, Joaquim Gomes da Silva Basílio (Quinzô), Prefeito de 1914-1916; José Nicodemos da Silva, irmão do precedente, Prefeito no período de 1918-1919. Foto de Osael.  Fonte: AQUINO, J. Lindemberg de; Valorização do Cariri; Revista Itaytera; Ano III; Nº III; pág. 190; Crato-CE; 1957.


OSTRACISMO SUAVE

Em 1912, tombava a oligarquia Acioli, e, com ela, o Partido Republicano Cearense tomava o caminho do ostracismo, ambos depostos pela força. Caído do poder o Conselheiro Antônio Pinto Nogueira Acioli, montou-se a oposição com o tenente-coronel Franco Rabelo na presidência do Ceará.

Basílio Gomes, fiel à disciplina partidária e aos princípios, seguiu a sorte da situação estadual decaída. Dispôs, porém, as circunstâncias de jeito tal, que seu genro, João Inácio de Lucena veio a tornar-se o chefe local da nova situação política instaurada no Estado, e o prefeito do município. Assim, o realismo político do austero chefe lhe proporcionou um ostracismo cômodo à sombra do clã da família, assegurando, por outro lado, a continuidade do sossego de que desfrutava a comunidade da terra brejo-santense. E passou a apoiar administrativamente o novo prefeito.

O REGRESSO

Pelos fins de 1913, o segundo fundador Juazeiro do Norte (o primeiro foi padre Pedro Ribeiro da Silva, um Pinheiro Bezerra de Menezes, cem por cento), o padre Cicero Romão Batista, então decaído chefe politico desse município, mal suportando o ostracismo a que estava relegado, rebelou-se contra a situação estadual, assessorado pelos chefes aciolinos caririenses, com a conferência do caudilho politico Pinheiro Machado, árbitro da política federal, e superiormente orientado pelo médico baiano, Floro Bartolomeu da Costa, aventureiro hábil.

Basílio Gomes não tomou parte nessa rebelião armada, direta ou indiretamente, embora amigo particular, político e compadre do sacerdote, o qual, nem por isso, sensibilizou-se, pois, conhecia o feitio temperamental de seu correligionário, todo avesso à solução violenta. 

Daí por que, vitoriosa a rebelião com a tomada de Crato por José Pedro, em 25.01.1914, seguida da derrota das últimas forças legais em Miguel Calmon, e da premeditada intervenção federal - Brejo Santo não recebeu a visita incômoda de elementos armados descontrolados, qual ocorreu noutras localidades do Cariri fora deste. E o padre Cícero e Floro Bartolomeu, os esteios da rebelião no Cariri, não ignoravam que o intendente de Brejo Santo auxiliara a legalidade (1).

Instalado o governo intervencional no Estado, Basílio Gomes recebeu carta do padre Cícero, enviada por positivo, solicitando a remessa dos nomes dos que deviam construir as novas autoridades do município. Para prefeito, o Patriarca apontou o nome de seu filho, o referido Joaquim Gomes da Silva, homem pacífico, como o pai, e jornalista, cuja pena figurou na imprensa regional, no semanário “O Cetama”, que se editou em Barbalha, sob a direção de Henrique Lopes. 

Restaurado no controle da política de sua comuna, Basílio Gomes reconheceu, como chefe político no Estado, ao Dr. José Acioli, que passou a chefiar aqueles que se mantiveram fiéis à memória politica de Nogueira Acioli, o governador deposto 1912. 

De 1914 a 1927, sucederam-se, no executivo municipal de Brejo Santo, quatro prefeitos, nomeados por indicação de Basílio Gomes: Joaquim Gomes da Silva, citado, (1914-1916); Manuel Inácio Bezerra, seu primo (1916-1918); José Nicodemos da Silva, retro-citado, (1918-1920) e João Inácio de Lucena, citado, (1920-1927). 

VOLTA VIDA PRIVADA 

Nesse último ano, vergado ao peso dos 81 de idade, Basílio Gomes abandonou a atividade politica, satisfeito de haver escrito um capítulo substancial da evolução histórica de Brejo Santo: a fundação do distrito e da vila, a criação, organização e consolidação da administração municipal; a instituição do patrimônio do município; a construção do Paço Municipal e Cadeia Pública; a obtenção de uma agência de correio da primeira unidade escolar do ensino primário estadual instalada naquele pedaço do Cariri. Capítulo heroico e imortal, escrito num rincão pobre, encravado e esquecido num ângulo de fronteira, a 600 quilômetros de Fortaleza, sem comunicações, castigado pelas secas; incursões de bandidos e policiais cangaceiros, abandonado dos poderes estaduais. Capítulo em que esponta o talento criador, a perspectiva rasgada, o vigor do empreendimento e da realização, a vontade de aço, a tenacidade indomável e o patriotismo acendrado.

Maria da Conceição de Jesus, esposa de Basílio Gomes faleceu em 06.07.1919, como mostra o Livro de Registro de Óbitos da paróquia de Brejo Santo, 1918 - 1921, fls. 31 verso.






Recolhendo-se á vida privada depois de meio século de vida pública, Basílio Gomes recolhia a convicção de haver sido na segunda, uma projeção da primeira, quanto ao esforço criador e à capacidade administrativa. Realmente, educou os filhos para a vida, e, neste particular, constituiu padrão. Tendo-se iniciado pobre no setor econômico, chegou a possuir, adquiridos ao calor da atividade honesta, quase 10 sítios e fazendas. Em sua fazenda-sitio, Nascença, instalou o primeiro engenho de ferro que Brejo Santo conheceu servindo à indústria da rapadura no município. Chegou a possuir 8 rezes vacuns, em suas fazendas - Currais. 

Com esse espírito progressista, insistiu junto ao seu primo, o citado Manuel Inácio Bezerra, para que dotasse Brejo Santo com o primeiro beneficiador de algodão movido a vapor, quebrando a monotonia das bolandeiras locais de madeira, o que se concretizou... Pois Bezerra era inteligência – bitola – larga. 

NO CHÃO DA MORTE 

Treze anos viveu ainda o Patriarca de Brejo Santo, olhar alongado e vitorioso sobre á epopeia saída de suas mãos, que os sucessores ampliam sem descontinuidade o complexo politico - administrativo do antigo Brejo da Barbosa. Poderia morrer tranquilo. 

A uma da manhã do dia sete de abril do ano de mil novecentos e quarenta, na sua Casa Grande do bairro Taboqueira, da cidade de Brejo Santo, vítima duma queda que lhe separou algumas vértebras, Basílio Gomes da Silva cerrou os olhos a esta vida. Profundo abalo comoveu a população. O comércio não abriu as portas, antecipando-se e ao funéreo, feriado municipal decretado pela Prefeitura, ao qual desfraldou a Bandeira Nacional a-meio-pau nos altos de frontão da Casa da Edilidade (2). 

Em torno do esquife, escreve o Padre Leopoldo Fernandes, gemiam milhares de corações anuviados pela tristeza daquele dia de luto - derradeira consagração àquele que se consagrara inteiramente à terra que deixava envolta na penumbra triste de uma saudade infinda. 

Na câmara ardente e a caminho do campo santo, o caixão mortuário esteve envolvido numa bandeira nacional, por determinação do Executivo Municipal. Nessa viagem derradeira, a cidade moveu-se como u'a mole, no último adeus a seu Patriarca. A porta do cemitério, um destacamento da Polícia Militar do Estado, prestando as homenagens do estilo, fez a salva fúnebre. 

Adeus apoteótico da gratidão de Brejo Santo ao maior de seus maiores varões beneméritos! A seu civilizador! 

O Brejo é Isso!

Extraído do texto "Um Civilizador do Cariri"; do Padre Antônio Gomes de Araújo; publicado na revista A Província; Ano 3; N° 3; em 7 de julho de 1955; Crato - Ceará; págs. 127 a 146.

Notas:

(1) - Sobre o episódio, segue o texto de Otacílio Anselmo e Silva, publicado no livro Padre Cícero - Mito e Realidade; Editora Civilização Brasileira; 1968; págs. 471 e 472:

"E já que voltamos ao labirinto das responsabilidades, ci­temos um caso igualmente verdadeiro. Vitoriosa a "revolução'', o Pe. Cicero chamou ao Juazeiro o Cel. Basílio Gomes, an­tigo chefe aciolino de Brejo Santo. Cidadão pacífico e abso­lutamente alheio ao movimento recém-findo, Basílio não he­sitou em atender a solicitação do seu velho amigo, fazendo-se acompanhar do Pe. Raimundo Monteiro Dias, Vigário local, do velho Silião e Tobias Gomes de Sá. Para surpresa de Ba­sílio e seus companheiros, nada de importante lhe fora dito ou perguntado durante meia hora de palestra com o seu anfitrião. Passado esse tempo, o Pe. Cicero sugeriu uma visita dos caravaneiros ao Dr. Floro, o que foi feito. 

Só então Basílio Gomes percebeu o verdadeiro sentido do convite que lhe fizera o sacerdote. Isto porque, em dado momento, Floro exclamou: "Basílio, você tem dois genros ra­belistas e é consogro de outro partidário de Franco Rabelo. Se eles erguerem a cabeça, mandarei esbandalhá-los!" (Floro referia-se a Pedro Pereira de Lucena, vulgo Pedro Chicote, João Inácio de Lucena, este recém-destituído do cargo de Prefeito de Brejo Santo, e ao Cel. José Florentino de Araújo Lima, mais conhecido por José Amaro). 

Conforme já ficou demonstrado, a vida do Pe. Cícero é pródiga de casos que equivalem a este em sutileza e disfarce. Dessa feita, porém, o velho sacerdote transbordou as medidas, ao faltar com a devida lealdade a um dos seus melhores amigos, utilizando-o, além disso, como tabela para pressionar adversários. Por outro lado, o episódio teve o mérito de revelar o papel histórico de Floro Bartolomeu no cenário político do Juazeiro, qual seja o de alter ego do Pe. Cicero, como tão bem definiu mais tarde o Pe. Manuel Correia de Macêdo. Enfim, acentue-se a inocuidade de que se revestira a intimidação, em face da inexistência de hostilidade de Brejo Santo ao Juazeiro, a não ser uma exemplar reprimenda de João Basílio em Manuel Calixto, em plena rua daquela cidade, e a atitude máscula do Cel. José Amaro, recusando-se a contribuir com dinheiro para o movimento sedicioso."

(2) - Existe um equívoco sobre a data de falecimento de Basílio Gomes da Silva. Embora Padre Antônio Gomes de Araújo afirma ser dia 07 (sete), a data de falecimento, no Livro de Registros de Óbitos, n° 15, de 1938 a 1946, página 35, da paróquia de Brejo Santo, mostra o registro original, datado em 08 (oito) de abril de 1940 e assinado pelo padre Pedro Inácio Ribeiro.

Capa do Livro de Registros de Óbitos da paróquia de Brejo Santo.

Página 35 do Livro de Óbitos (1938 - 1946), da paróquia de Brejo Santo,
 onde se encontra o registro original do falecimento de Basílio Gomes da Silva.

Detalhe do registro de óbito de Basílio Gomes da Silva,
datada em 08 (oito) de abril de 1940 e não 07 (sete) de abril de 1940.

Lápide do Cel. Basílio Gomes da Silva.
Seu túmulo se encontra no cemitério público São João Batista, em Brejo Santo - CE.

Jazigo da família Leite Basílio, onde se encontra os restos mortais do coronel Basílio Gomes da Silva.



O Brejo é Isso!

Por Bruno Yacub Sampaio Cabral


Leia também:

BASÍLIO GOMES DA SILVA: UM CIVILIZADOR NO CARIRI - PARTE UM

BASÍLIO GOMES DA SILVA: UM CIVILIZADOR NO CARIRI - PARTE DOIS


Extraído do texto "Um Civilizador do Cariri"; do Padre Antônio Gomes de Araújo; publicado na revista A Província; Ano 3; N° 3; em 7 de julho de 1955; Crato - Ceará; págs. 127 a 146.


Leia na íntegra, o livreto intitulado de "Homenagem à memória do coronel Basílio Gomes da Silva, o honrado chefe de Brejo Santo", escrito pelo Padre Leopoldo Fernandes Pinheiro, em julho de 1940.

Homenagem à Memória do Coronel Basílio Gomes da Silva O honrado chefe de Brejo Santo