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sábado, 22 de janeiro de 2022

LAMPIÃO, CANGAÇO E NORDESTE – AGLAE LIMA DE OLIVEIRA – O FESTEJADO LIVRO E SUA HISTÓRIA COM SR. ANTÔNIO DA PIÇARRA – 1ª PARTE

Em 1970, uma mulher se tornou a sensação do momento, entrando pela TV nos lares brasileiros, no famoso programa Show Sem Limite, de J. Silvestre, respeitado apresentador da TV Tupi. O programa era desses da pergunta milionária. A professora Aglae, de Cabrobó-PE, foi sabatinada na atração, respondendo a tudo sobre um difícil e interessante assunto: LAMPIÃO. Os programas se avolumavam, a audiência era grande e a professorinha aproximava-se da resposta premiada.

- Absolutamente certa a resposta, dona Aglae! – bradava o apresentador.

Com J. Silvestre - Fotografia: Revista O Cruzeiro - 11/08/1970.

Ela foi uma apaixonada pela história do cangaço, rendendo a publicação de impressionante livro a respeito, intitulado Lampião, Cangaço e Nordeste. Dedicou uma vida a pesquisar, visitando lugares, consultando sobreviventes do período. Nertan Macedo, que honrou as orelhas do livro; e Rachel de Queiroz, que o prefaciou, assim escreveram sobre autora e obra:

“Sem contar jamais com verbas e recursos oficiais, Aglae não fez pesquisa livresca, buscando nas fontes consagradas o que entre nós foi dito e escrito sobre os cangaceiros. Ela própria, nascida e vivida no sertão, conviveu, durante duas décadas, não apenas com a paisagem que emoldurou o Capitão do Cangaço, mas com os cabras sobreviventes da terrível aventura, que lhe ditaram memórias e reminiscências inesquecíveis sobre a vida comunitária do grupo bandoleiro, fatos, hábitos, higiene, sexo, maneiras de encarar as coisas, os homens e os animais. [o livro] é uma fonte de consulta obrigatória a quantos queiram conhecer o cangaço nômade na intimidade.” (Nertan Macêdo)

“Hoje ninguém poderá pretender discutir cangaço e cangaceiros - especialmente quando se tratar daquele que foi chamado o Rei do Cangaço, Lampião -, sem se curvar ante a professora Aglae Lima de Oliveira, autoridade máxima no assunto. (...) Aglae domina o assunto, conhece-o profundamente, vive a história de Virgulino, interpreta-a, recorda-a quase como uma testemunha - , o que de certa forma o foi. Pois se a moça não viu, porque nem era nascida então, ou era pequena demais para entender o que assistia, soube depois recolher no testemunho direto dos contemporâneos, na visita aos cenários do drama (que ocupou lugar tão dilatado no tempo e no espaço do Nordeste), no interrogatório paciente e minucioso dos sobreviventes da grande tragédia sertaneja, a sua verdade mais autêntica.” (Rachel de Queiroz)

Sr. Antônio Teixeira Leite, o famoso Antônio da Piçarra e a escritora Aglae, na Fazenda Piçarra - 1970

Sobre Lampião, resumiu Aglae à revista O Cruzeiro, de 11/08/1970: "Na minha concepção, foi um fenômeno sociológico e psicológico. Um gênio militar perdido nas caatingas. Grande capacidade de liderança. Amava e odiava, alimentava e assaltava, era herói e covarde. Foi profundamente nacionalista. Sua vida foi a luta de um homem contra o destino. Lampião era astuto e calculista e não se pode dizer que era totalmente ruim. É que seu lado mau tem sido muito explorado. Ele não cansava de repetir as quatro coisas que mais gostava: gado gordo, cavalo de passada boa, mulher e arma de fogo."

A distante Piçarra, no Cariri, localizada no município de Porteiras-CE, foi um dos pontos para onde convergiu a escritora, em busca de conversar com Sr. Antônio, 75 anos de idade,  memória viva de sua complicada relação com Lampião: de coiteiro a delator, premido pelas questões legalistas. De fato, a Piçarra foi palco de importantíssimas diligências cangaceiras. Foi lá, por exemplo, onde aconteceu, em 1928, uma das mais penosas baixas no bando do Rei do Cangaço, a morte de Sabino Gomes, o lugar-tenente de Lampião.

Vilson é a criança em primeiro plano, com o avô, primo e tio.

Fui me encontrar com Wilton Santana (Vilson), filho-neto de Sr. Antônio, que me contou a bonita história de afeto entre ele e o seu velho invisível - o seu velho indivisível avôhai; e como foram as visitas de Aglae em busca de todos os detalhes sobre o cangaço. À época, Vilson era uma tenra e curiosa criança, que cresceu apaixonado pelas histórias do perigoso sertão. Ele me contou os detalhes desses encontros.

... Continua

Hérlon Fernandes Gomes

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