A Munganga Promoção Cultural

A MUNGANGA PROMOÇÃO CULTURAL: O Brejo é Isso!

domingo, 19 de julho de 2020

O BREJO E SUA FREGUESIA


A HISTÓRIA DA FREGUESIA DO BREJO DOS SANTOS


146 ANOS DA PARÓQUIA 

SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 

BREJO SANTO - CE


25 de julho de 1876
25 de julho de 2022
 


"O povo reunia-se, para os actos religiosos, em um casebre, levantado no semeterio publico: entedeo pois o Rmo. Missionario que a primeira necessidade d’aquelle povo era uma Capella; e tratou da edificação de uma, com a invocação do Coração de Jezus." Relato sobre a passagem do missionário padre Ibiapina, pelo distrito de Brejo dos Santos, em 1868.


Desenho de Célio Augusto Alves Batista.

    Os termos “Freguesia” e “Paróquia” são sinônimos, não havendo uma estrutura civil separada da estrutura eclesiástica. Nesses tempos, o termo “freguês” (aglutinação da expressão latina filius ecclesiae, filho da igreja, ou simplesmente feligrés, como se refere a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira) servia para designar os paroquianos, que eram, por assim dizer, “fregueses” do pároco.

    No Brasil, durante o tempo da colônia, a Freguesia era exatamente o mesmo que em Portugal, não havendo distinção entre Freguesia e Paróquia como descrito acima. 

    Uma organização semelhante manteve-se durante o tempo do Império do Brasil no qual a Igreja Católica foi mantida como religião oficial do Estado, que tinha o dever de pagar salários para padres e bispos. Deste modo, era adequado que a estrutura administrativa civil não fosse distinta da estrutura eclesiástica. As províncias eram divididas em Vilas e Termos, que por sua vez eram divididos em Freguesias. As Freguesias correspondiam às Paróquias, mas também havia curatos para serviços religiosos em povoações pequenas e sem autonomia política. Por sua vez, os bispos comandavam as dioceses, típica organização administrativa religiosa, que abrangiam geralmente diversas Vilas, ou seja, diversas Freguesias.

    Com a proclamação da República, houve uma total separação entre a Igreja Católica e o Estado brasileiro, de modo que as antigas províncias transformaram-se em estados autônomos divididos em municípios também autônomos que, por sua vez, podem (ou não) ter seu território dividido para fins puramente administrativos. A Igreja Católica passou a manter uma estrutura administrativa distinta.


SINAIS DE CIVILIZAÇÃO


    Com a chegada dos primeiros colonos ao então arraial de Brejo dos Santos, houve o início civilizatório do lugar, onde as famílias começaram a dividir os latifúndios em propriedades produtivas, incrementando a agricultura e a pecuária, estabelecendo o pequeno comércio e, sobretudo, construindo o centro populacional, o qual mal desabrochara, sofreu o impacto da cólera, em meados de abril de 1862. Os vestígios daquela desgraça pública ainda permaneceriam no espírito das gerações vindouras e num pequeno espaço de terreno abandonado, situado ao fundo do atual cemitério São João Batista.

    Malgrado os efeitos da calamidade, o povoado cresceu. A prova de sua evolução ia patentear-se seis anos depois, quando os pioneiros resolveram dotá-lo de um templo católico, cujo terreno foi oferecido por Francisco Alves de Moura. Traçou os limites e lançou a pedra fundamental o notável padre José Antônio de Maria Ibiapina, durante o período de sua visita missionária ao lugarejo, chamada de “Missão do Brejo”, entre os dias 21 de setembro e 03 de outubro de 1868.

    Reza a tradição que no decorrer daquele ato, dirigindo-se ao medidor da área escolhida, dissera em tom profético o grande Missionário do Nordeste: “Estenda a linha que será matriz”.

    Citando o Esboço Histórico do Município de Brejo Santo, Otacílio Anselmo nos traz a segue nota:

    “Nota 24: Embora não exista referência documental à visita do virtuoso Sacerdote à terra brejo-santense, aquele acontecimento se verificou nos primeiros dias de dezembro de 1864, por ocasião de sua ida ao lugarejo Porteiras, onde erigiu um cemitério e impulsionou as obras da Capela de N. Senhora da Conceição. Consequentemente, dezembro de 1864 foi a data de início da construção da atual Matriz de Brejo Santo.” (SILVA, 1956).

    Segue a transcrição inédita e na integra do relato sobre a visita missionária do padre Ibiapina ao Distrito de Paz de Brejo dos Santos, chamada de “Missão do Brejo”, realizada entre os dias 21 de setembro e 03 de outubro de 1868 e publicada no jornal A Voz da Religião do Cariry; Anno II; N° 54; Domingo; 03 de abril de 1870; pág. 4. 


HISTÓRIAS DAS MISSÕES NO CARIRY-NOVO
Nos anos de 1864 e 1868
Escripta por Bernadino Gomes de Araújo
SEGUNDA PARTE.
MISSÕES DE 1868.
MISSÃO DO BREJO.
Cap. 9 e § único
MISSÃO DO BREJO 


    No dia de 21 de Setembro (1868), como já se disse, partio o Rmo. Missionario Apostolico da Povoação de Porteiras para a do Brejo, da mesma freguesia do Jardim, e sendo encontrado no caminho no sítio Muquém por alguns cavaleiros e gente a pé, chegou a povoação, e nesse mesmo dia pregou.

    O Brejo é um arraial com honras de povoação, por ter a Policia ou a Politica entendido conveniente crear ali um discrticto policial (Distrito de Paz).

    Pertecendo ao termo do Jardim é limítrofe de Milagres, de cuja villa dista 7 legoas e com a qual exerce relações commerciaes.

    Verdadeiro oases no meio dos sertões seccos, o Brejo já conta em si uma grande reunião de povo, que se ocupa n’agricultura.

    Do pé d’um serrote duro e escabroso, que se distaca do Araripe, sahem á superfície do terreno algumas fontezinhas, que reunidas formão uma massa d’agoa, e esta, dispargindo-se por uma superfície plana forma depósitos, alagadiços e brejos de muita produção, onde se cultiva com vantagem a cana e produz porção considerável de rapaduras.

    Tendo sido habitado por uma família que tinha apelido de «Santos» tomou o nome de «Brejo dos Santos» pelo qual tem sido conhecido, e destinguido d’outros brejos, em que o Cariry é fértil.

    E tendo essa família praticada alguns crimes, em que se fizeram tristemente celebres, ainda o lugar conserva essas tradições; e suposto que essa família já se tinha extinguido, ainda o povo guardava essas memorias e procurava respeitar-se pelas leis do mais forte; ainda poucos dias antes da missão, tinha escapado das mãos d’um assassino o subdelegado de policia; ainda há pouco o Rdo. Vigario da freguesia tinha sofrido uma ataque a forsa, para coagirem-no a um casamento.

    Aberta a missão, e sendo a concorrência de duas a treis mil pessoas, por ser esse o povo que reside mais próximo, tratou o Rmo. Missionario de combater os vícios dominantes; e era o cangacismo que figurava em primeira escala: e de dotar o lugar com as obras de que mais necessitava. 

    O povo reunia-se, para os actos religiosos, em um casebre, levantado no semeterio publico: entedeo pois o Rmo. Missionario que a primeira necessidade d’aquelle povo era uma Capella; e tratou da edificação de uma, com a invocação do Coração de Jezus. 

    Chegado o material indispensável principiou a obra, e ao mesmo tempo um açude, para inverter o fervor das mulheres.

    A necessidade da obra deu lugar ao prolongamento da missão, que durou 12 dias, com satisfação detodos.

    Tendo findado no dia 3 de Outubro a missão, a deixou o Rmo. como provas de sua passagem, a Capella do Coração de Jesus com os alicerces cheios, de 150 palmos de comprimento, a Capella mór cuberta, um bom Cruzeiro assentado, e um açude para reter aguas, e utilizal-as milhor.

    Achando-se duente de uns tumores que o privarão de montar a cavalo, regressou em uma rede, com um grande acompanhamento, dirigindo-se a povoação de S. Pedro de Milagres (atua Abaiara); onde o veremos.

    Houve um equívoco do Historiador Otacílio Anselmo e Silva, que atribuiu ao ano de 1864 a data de início da construção da Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus. Como podemos observar no documento descrito acima, a data correta do início da construção da Capela, que viria anos mais tarde se tornar Matriz, foi entre 21 de setembro e 03 de outubro de 1868.






Padre José Antônio de Maria Ibiapina
Padre José Antônio de Maria Ibiapina.


CRONOLOGIA DO TRABALHO DE PADRE IBIAPINA NO CARIRI:


Missão Velha – missões – 14/10 a 24/10/1864 – Casa de Caridade – 02/02/1865;
Barbalha – 14/11/1864 – cruzeiro, cemitério dos coléricos, matriz – Casa de Caridade: 1869;
Conceição do Cariri (Porteiras) – vigílias de Penitência; restauração da capela;
Jardim – tríduo preparatório e solenidade de Santo Antônio – 07 a 20/06/1868; bênção da nova matriz; cemitério com capela e jardim;
Goianinha, Porteiras, Brejo, São Pedro, Milagres, Missão Velha – missões – 17/08 a 31/10/1868;
Crato – 21/06 a 13/07/1868 – pregou missões, construiu cemitério, açude com estrada de acesso;
Barbalha – missões – 29/07/1868 até 13/08/1868 – matriz;
Goianinha (Jamacaru) – reforma e ampliação da capela de N. Sra. das Dores – 17/08/1868 a 31/08/1868; e açude;
Porteiras – capela e açude – 11 a 29/09/1868;
Brejo Santo – capela do Sagrado Coração de Jesus – (primeira semana – 10/1868);
Vila de São Pedro (Abaiara) – ficou até 25/10/1868 – missões; cemitério; açude; estrada;
Crato – 01/11/1868 até 02/01/1869 :
– dia 1º/11/1868 inauguração do Instituto do Coração de Maria (Colégio Cratense);
– jornal semanal “A Voz da Religião no Cariri” – 08/12/1868 até 27/11/1870;
– curso de instrução religiosa para adultos – 15/11;
– inauguração da Casa de Caridade – 07/03/1869;
Caldas – Capela Bom Jesus – 16/03/1869:
– Cruzeiro do Caldas e missa na solenidade do Domingo de Ramos – 21/03/1869;
Milagres – açude – outubro/1868;
Barbalha – bênção da Casa de Caridade – 25/03/1869:
– instalação da Casa de Caridade – 28/03/1869 ;
Milagres – abril, maio, junho/1869 e permaneceu até 05/07/1869; voltou entre 10 e 17/04/1870 em missões; Casa de Caridade: 29/06/1869;
Abaiara – capela de São Pedro: 11 ou 12/07/1869.

Fonte: Padre Francisco Roserlândio de Souza, diretor do Departamento Histórico Diocesano Padre Antônio Gomes de Araújo/ Diário do Nordeste.

A CRIAÇÃO DA FREGUESIA

    Com a construção da Capela já iniciada em 1868, os moradores do povoado lançaram a ideia de criação da Freguesia, com aprovação prévia do Vigário da vila de Jardim, padre Joaquim de Sá Barreto, no primeiro semestre de 1875. O referido Pároco, que se fez patrono dos solicitantes, se dirigiu com o apelo por escrito ao Dom Luís Antônio dos Santos, Marquês de Monte Pascoal e primeiro Bispo da Província do Ceará, que se encontrava na cidade de Crato, empenhado na construção do Seminário Diocesano São José.

    Pois bem, o resultado saiu positivo, com a LEI PROVINCIAL N° 1.708, DE 25 DE JULHO DE 1876, sancionada pelo Presidente da Província do Ceará, Francisco de Farias Lemos, criando assim a Freguesia de Brejo dos Santos e lhe traçando os limites territoriais, separando-a das vilas de Jardim e Milagres.

    Segue a transcrição inédita e na íntegra da Lei que criou a instalação de uma Paróquia em Brejo Santo, como também a instalação oficial de sua Matriz, a então capela do Sagrado Coração de Jesus. Observamos também a delimitação territorial do futuro município.

    Como Igreja Matriz, porém, ela só viria a ser instituída canonicamente em 29 de maio de 1893, em obediência à Provisão expedida pelo bispo do Ceará, Dom Joaquim José Vieira.

LEI, N° 1708 – DE 25 DE JULHO DE 1876.

    Crea uma freguezia na povoação do Brejo dos Santos, desmembrada das do Jardim e Milagres.

    O Desembargador honorário Francisco de Farias Lemos, dignitário da Imperial Ordem da Rosa, comendador da de N. S. da Conceição da Villa de Viçosa, de Portugal, e presidente da província do Ceará etc.

Faço saber a todos os seus habitantes que a assembleia legislativa provincial decretou e eu sanciono a lei seguinte:

Art. 1°: Fica creada uma freguezia na povoação do Brejo dos Santos, desmembrada das do Jardim e Milagres, e erecta em matriz a capella do Coração de Jesus.

Art. 2°: Os limites da nova freguezia são: - partindo do sítio Sobradinho – ao sudeste vae do corrente existente á margem do rio da Barra ao sul, descendo por ele; a leste vae ao sítio Macapá, Poço e Serra da Canna Brava, e d’ahi pelas extremas da freguezia de Milagres, buscando o norte até chegar á ponta da Serra do sítio – S. Felipe – pela fralda da Serra; ao oeste até chegar ao predito sítio Sobradinho.

Art. 3°: Revogam-se todas as disposições em contrário.

Mando por tanto, todas as autoridades, á quem o conhecimento e execução da referida lei proceder, que a cumpram e façam cumprir tão interinamente como nella contém. O secretário do governo desta província a faça imprimir, publicar e correr.

Dada no palácio do governo da província do Ceará, aos 25 de julho de 1876, 55° da Independência do Império.

L.S.

Francisco de Farias Lemos 

Carta de lei, pela qual V. Exc. Manda executar o decreto da assembleia legislativa provincial, que houve por bem sancionar, creando uma freguezia na povoação do – Brejo dos Santos, desmembrada do dos Jardim e Milagres, como nella se declara.

Para V. Exc. Ver. 

Afio Beserra de Menezes a fez.

Nesta secretaria do governo do Ceará foi selada e publicada a presente lei aos 12 de julho de 1876.

O secretario,

Antonio Dias de Pinna Junior.


    Ao observarmos a descrição da Lei n° 1708, de 25 de julho de 1876, notamos que, para a delimitação do território da nova Freguesia, houve desmembramentos de áreas, tanto da vila de Jardim, como também de Milagres. Através dessa análise, podemos afirmar que houve um pertencimento territorial oficial das terras que viriam a se formar posteriormente, o município de Brejo Santo, antes da criação da Freguesia, também à vila de Milagres, além, é claro, das relações comerciais, pois aquela urbe era a vila mais próxima deste arraial.

Matriz de Santo Antônio, Jardim - CE.
Fonte: IBGE.

Matriz de Nossa Senhora dos Milagres, Milagres - CE.
Fonte: IBGE.

    A primeira divisão territorial que se formou o município de Brejo Santo, veio através da Resolução n° 1023, de 14 de novembro de 1862 (e não a Lei Provincial n°. 1.708, de 25 de julho de 1876), que dispõe sobre a criação do Distrito de Paz de Brejo dos Santos, pertencendo a Comarca de Jardim e assinada pelo então Presidente da Província do Ceará, José Bento da Cunha Figueiredo Júnior.


                        


CHEGADA DO PRIMEIRO VIGÁRIO ENCOMENDADO 


Padre Francisco Lopes Abath
Primeiro Vigário (Encomendado)
da Freguesia de Brejo dos Santos
1877 - 1903.

    Apesar de criada em 25 de julho de 1876, somente em 02 de setembro de 1877, chegava à Freguesia seu primeiro Vigário, o padre Francisco Lopes Abath.

    O Padre Abath nasceu em Crato - CE, a 1° de fevereiro de 1848. Filho de Manoel Lopes Abath e Josefa de Araújo.  Sua ordenação sacerdotal se realizou a 11 de julho de 1875, na Capela Provisória do Seminário do Crato. 

    Ao chegar na povoação de Brejo dos Santos, o novo vigário percebeu que a renda da freguesia era tão pequena que, a sua alimentação vinha do sítio, propriedade de Joaquim Napoleão de Araújo. Foi o Padre Abath, o que construiu a Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, no mesmo local onde já existia a capelinha edificada em 1868, através da missões de Padre Ibiapina. 

   Naquele tempo, o sertão começava a sofrer os terríveis efeitos da seca, que se prolongariam até 1879, acompanhada de incursões de cangaceiros vindos da província da Paraíba e da vila de Milagres, frequentes na nova paróquia, cuja escrita acusou, no ano de 1878, 126 batizados e 16 casamentos.

    Zeloso condutor das almas de Deus, Padre Abath vivia para sua caridade paroquial. Foi durante um quarto de século, o 1° Vigário de Brejo Santo, onde faleceu a 13 de janeiro de 1903, estando sepultado na Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus, em Brejo Santo.

    Alguns aspectos daqueles tempos foram registrados pelo padre Abath, no “Livro de Tombo da Freguesia de Brejo dos Santos”, trecho este transcrito pelo padre João Casimiro Viana Arrais, em 1° de julho de 1903:

Transcrição

Por achar-se muito estragado, o livro no qual foi escrito a chegada do Pe. Francisco Lopes Abath, meu antecessor, a esta freguesia, o transcrevo para este livro com inteira fidelidade.

No dia dois de setembro de 1877 cheguei a esta freguesia como vigário encomendado, e tomei posse pelas onze horas do mesmo dia, assistindo ao acto o Rvmo. Vigário de Missão Velha, Pe. Felix Aurélio Arnaud Formiga.

Tendo esta freguesia se desmembrado das de Jardim e Milagres, compreendendo os districtos de Brejo e Porteiras, nesta tem uma capella e um cemitério, ambos em obras, n’aquelle está a matriz em obra, e um pequeno cemitério, sendo o Padroeiro da freguesia o Sagrado Coração de Jesus.

O Districto de Porteiras compreende uma parte da serra do Araripe, e é por isso, mais própria para a agricultura; o Brejo, porém, sendo sertão, parte mais a criação de gado, a exceção de uma parte de terra que é muito agrícola.

As chuvas neste anno foram excassas, tanto no Cariry como nos sertões visinhos, o que fez afluir para esta e outras freguesias visinhas, onde poderiam encontrar recursos, uma multidão de emigrantes superiores aos recursos dos logares.

Durante a secca e anos seguintes acrescem grandes terrores nos habitantes, que ameaçados em sua vida e propriedade deixaram suas residências.

Somente depois de perseguidos e presos os bandidos, voltaram para os logares de suas residências.

Nestas circunstancias, ficaram os povoados desta freguesia bastante desabitados, reduzindo-se Porteiras a oito moradores.

Em no anno de 1880 tentaram os habitantes de Porteiras transferir a sede da freguesia para aquella povoação, porém a Assembleia Legislativa Provincial deixou desfavorável esta petição, em virtude da informação do Exmo. Rvdo. Bispo Diocesano que vai abaixo transcripta.

Residência Episcopal do Ceará, 25 de agosto de 1880. Exmo. Sr. Conselheiro André Augusto Fleris. Em ofício de 19 do corrente, solicita V. Excia. o meu parecer sobre a petição dos habitantes de Porteiras, da Freguesia de Brejo dos Santos, dirigida à Assembleia Legislativa Provincial, em que pedem a transferência da sede da dita Freguesia da povoação de Brejo dos Santos, onde se acha, para a de Porteiras. Alegam eles ser o distrito de Porteiras mais populoso e, em sua maioria, de proprietários abastados, ao passo que os habitantes de Brejo acham-se em extrema pobreza, sem poderem concorrer com o aumento da respectiva Igreja.

Ao que tenho a honra de responder que o meu parecer é que a sede da dita Freguesia continue a ser na povoação de Brejo dos Santos, como foi designada com a criação da Freguesia. Porque, se os habitantes de Porteiras dizem que o seu distrito tem mais população, o mesmo Pároco atesta que assim é, mas que acha-se ela disseminada pelas abas da serra, ao passo que a de Brejo dos Santos está aglomerada junto à Matriz, formando o povoado do mesmo nome.

Quanto ao dizerem que os de Brejo se acham em extrema pobreza, acho ser mais uma razão para se não mudar a sede para Porteiras, cujos habitantes abastados e ricos, como são segundo eles mesmos dizem, estão mais no caso de procurar os socorros espirituais no Brejo dos Santos do que estes que moram em Brejo, que, estando em extrema pobreza, ficarão privados de socorros espirituais, e sem meio de os procurarem, caso seja mudada de sede.

Luis, Bispo do Ceará.

Brejo dos Santos, 10 de julho de 1880.

Está conforme o original

Vigário Padre João Casimiro Viana

Brejo dos Santos, 1° de julho de 1903.

                                              


O padre Francisco Lopes Abath está sepultado na 
Igreja Matriz da Paróquia Sagrado Coração de Jesus. 
 Primeiro Vigário da Freguesia de Brejo dos Santos, teve papel
 importante no crescimento do lugarejo, em um dos períodos mais 
turbulentos de nossa história. A Grande Seca (1877-1879) 
proporcionou o surgimento de bandos de cangaceiros, 
devastando o que já não tinha mais por aqui.


PADRE JOÃO CASIMIRO VIANA 


    A 13 de janeiro de 1903, um infausto acontecimento abalou a alma do povo de Brejo dos Santos: falecia o padre Abath.

    O pranteado vigário foi substituído pelo não menos virtuoso padre João Casimiro Viana, que assumiu suas funções em 25 de fevereiro do mesmo ano.

    Natural de Lavras (atual Lavras da Mangabeira - CE), nasceu em 07 de setembro de 1876. Filho do Capitão João Casimiro Viana e Dona Mariana Infante Luna. Irmão de Balbina Lídia Viana Arrais, primeira Professora publica para a cadeira do sexo feminino de Brejo Santo. 

    Ordenou-se na Bahia, a 05 de outubro de 1901. Foi Coadjuntor em Itapipoca por um breve período após sua ordenação. Vigário em Trairí (16.05.1902 a 25.02.1903). E Vigário em Brejo Santo (25.02.1903 a 20.04.1911).

    Sacerdote culto, inteligente e progressista. Padre Viana, do próprio púlpito, iniciou uma campanha esclarecedora sobre o cultivo do algodão, incentivando o plantio e fazendo até distribuição de sementes da malvácea aos seus paroquianos. Incorporado o algodão à lavoura do Município, logo depois era instalada em Brejo dos Santos, uma máquina de beneficiamento, cujo aquisitor foi o cidadão Manuel Inácio Bezerra.

    Ajustando-se admiravelmente ao meio, padre Viana imprimiu um novo ritmo à marcha da civilização na sua nova paróquia. Fundou a Conferência de São Vicente de Paulo; empreendeu a reedificação da Matriz desde seus alicerces. Em 1909, a nave lateral esquerda da Matriz foi construída. As despesas foram efetuadas pelo coronel José Florentino de Araújo Lima; edificou, ajudado por Antônio Bernardino de Maria, a capela do Bom Jesus, da Esperança; fundou uma escola noturna para educação das crianças pobres; criou a Associação do Sagrado Coração de Jesus; ampliou o cemitério e reedificou a capela do mesmo; fez-se professor de português, francês e latim de uma plêiade de jovens; iniciou a reedificação da capela de Nossa Senhora de Santana, na Cachoeirinha, construída por Pedro de Oliveira Santos; fundou em Porteiras uma Conferência de São Vicente de Paulo; fez ali um cemitério; formou um patrimônio para a padroeira de Porteiras, cuja capela ornamentou e supriu os utensílios necessários, e construiu sua própria residência a poucos passos da matriz.




Padre João Casimiro Viana, natural de Lavras da Mangabeira - CE,
nascido em 07 de setembro de 1876.
Foi o 2° Vigário de Brejo Santo
no período entre 25.02.1903 até seu falecimento, 20.04.1911.





Os restos mortais do padre João Casemiro Viana Arrais, 
estão sepultados na Igreja Matriz de Brejo Santo.


A NOVA IMAGEM DO PADROEIRO 

    O padre Leopoldo Fernandes Pinheiro, ao assumir as funções da Paróquia após o falecimento do padre João Casimiro Viana Arrais, constatou que a primeira imagem do Sagrado Coração de Jesus já era pequena. Tratou de encomendar uma nova imagem do padroeiro na França. Em 15 de junho de 1912 chegava a nova imagem do Coração de Jesus à Paróquia, sendo a mesma que continua fixada no altar mor da Matriz, até os dias atuais.


Foto: Francélio Cardoso.

Foto: Paróquia Sagrado Coração de Jesus, Brejo Santo - CE.

Foto: Paróquia Sagrado Coração de Jesus, Brejo Santo - CE.



Relação dos Vigários, Párocos e Cooperadores 

que administraram a Paróquia do Sagrado de Jesus, em Brejo Santo - CE

De 1877 a 2020

01 – Francisco Lopes Abath (Vigário) – 1877 a 1903

02 – João Cassimiro Viana Arrais (Vigário) – 1903 a 1911

03 – Leopoldo Fernandes Pinheiro (Cooperador) – 1911 a 1913

04 - Raimundo Monteiro Dias (Cooperador) – 05.01.1913 a 1915

05 – Manoel da Silva Porto (Cooperador) – 11.11.1915 a 1916

06 – João Alboino Pequeno (Cooperador) – 13.01.1916 a 1918

07 – Luiz Furtado Maranhão (Cooperador) – 1918

08 – Juvenal Colares Maia (Cooperador) – 1918 a 1919

09 – Raimundo Moteiro Dias (Cooperador) – 1919 a 1922

10 – Raimundo Nonato Pita (Vigário) – 31.12.1922 a 1930

11 – Pedro Inácio Ribeiro (Vigário) – 01.01.1930 a 1973

12 – Rubens Gondim Lóssio (Cooperador) – 1948 a 1949

13 – Luiz Antônio dos Santos (Cooperador) – 1949 a 1951

14 – Manoel Pereira Bezerra (Cooperador) – 1951 a 1956

15 – Nicodemos Benício Pinheiro (Cooperador) – 1956 a 1957

16 – Dermival de Anchieta Gondim (Cooperador) – 1957 a 1973

17 - Dermival de Anchieta Gondim (Vigário) – 1973 a 2016

18 – Edivan Carlos Guedes (Vigário) – 24.12.2006 a 2008

19 – Luciano Pinheiro de Brito (Cooperador) - 2009 a 2012

20 - Reginaldo Pedro Muniz (Cooperador) - 2012 a 2016

21 - Pedro André Bitu Bezerra (Cooperador) - 2016

22 - Pedro André Bitu Bezerra (Administrador Paroquial) - Dez/ 2016 a Abr/ 2019

23 - Arnaldo Pereira do Nascimento (Administrador Paroquial) - Abr/ 2019 a Fev/ 2020

24 -Edivan Carlos Guedes (Vigário) - Abr/ 2019 a Fev/ 2020

25 - Fernandes José dos Santos Júnior (Pároco) - Fev/2020

26 - Tarcísio de Sales (Vigário)  - 2020


    Em 13 de novembro de 2016, foi criada a Paróquia São Francisco de Assis, desmembrando a região leste do município, da paróquia Sagrado Coração de Jesus. Teve como seu 1° Vigário, o padre Arnaldo Pereira do Nascimento, atuando até os dias de hoje. Com a criação da nova Paróquia, o território da antiga freguesia foi divido. A Paróquia Sagrado Coração de Jesus, hoje administra as seguintes capelas:

 

 

PADROEIRO

COMUNIDADE

01

Santa Luzia

Alto da Bela Vista

02

São José

Angico Comprido

03

Sagrada Família

Araujão

04

São José

Baixio do Boi

05

São José

Baixio dos Bastos

06

São Luiz Gonzaga

Baixio dos Lopes

07

Senhora Sant’Ana

Baixio dos Sousa

08

Santo Expedito

Bezerro

09

Santo Antônio

Boqueirão

10

Nossa Senhora de Guadalupe

Boqueirão

11

Mãe Rainha

Boqueirão

12

Nossa Senhora Aparecida

Cruz da Velha

13

São Francisco

Estrada do Gado

14

Nossa Senhora de Fátima

Ipueira

15

São José

Ladeira Vermelha

16

Mãe Rainha

Lagoa do Mato do Meio

17

São João Batista

Lagoa do Mato I

18

Mãe Rainha

Lagoa do Mato I

19

Nossa Senhora de Fátima

Lagoa do Mato II

20

São Francisco

Mingú

21

São José Operário

Oitizeiro

22

Sagrado Coração de Jesus

Olho d’Água

23

Nossa Senhora das Dores

Piçarra

24

Nossa Senhora de Lourdes

Pitombeira

25

Mãe Rainha

Pocinhos

26

Santo Antônio

Pontal da Serra

27

Imaculada Conceição

Renê Lucena

28

Mãe Rainha

Santuário da Mãe Rainha

29

São Felipe

São Felipe

30

São Francisco

Salva Terra

31

São Vicente

Sozinho

32

Nossa Senhora das Graças

Timbaúba

33

Imaculada Conceição

Vila da Conceição

34

Imaculada Conceição

Vila Feliz

35

Senhora Sant’Ana

Vila São Francisco

A paróquia São Francisco de Assis lidera as seguintes capelas:

 

PADROEIRO

COMUNIDADE

01

São Sebastião

Vila São Sebastião

02

São Francisco

Vila Cabaceiras

03

Mãe Rainha

Dois Riachos

04

Bom Jesus

Vila Esperança

05

Virgem dos Pobres

Água Vermelha

06

Nossa Senhora de Fátima

Onça e Compra Fiado

07

Santo Antônio

Germana

08

São Sebastião

Vieira

09

Nossa Senhora das Graças

Duas Lagoas

10

Nossa Senhora Aparecida

Morro Dourado

11

São José

Baraúnas

12

Nossa Senhora de Fátima

Deserto

13

São Francisco

Cedro

14

Nossa Senhora de Fátima

Jenipapeiro

15

Sagrado Coração de Jesus

Poço do Pau

16

São Francisco

Passagem de Pedra

17

São Bento

São Bento

18

São Francisco

Muquém dos Cândidos

19

Nossa Senhora do Perpetuo Socorro

Muquém dos Gabriel

20

Nossa Senhora de Lourdes

Lagoa do Mato

21

Senhora Santana

Cachoeirinha

22

Santo Antônio

Lagoa da Vaca

23

Menino Jesus de Praga

Capoeiro

24

Nossa Senhora de Fátima

Vila Cavaco

25

 Nossa Senhora Aparecida

Canabravinha

















Acervo Iconográfico


Igreja Matriz com seu aspecto antes do desabamento, acontecido em 1949.

Igreja Matriz com seu aspecto antes do desabamento, acontecido em 1949.
Atrás da Igreja e em primeiro plano, observa-se a Praça 7 de Setembro (Praça Velha)
e seu coreto em forma de lira.
Aspecto da Igreja Matriz no início da década de 1950.
Ao fundo e à esquerda, observa-se a Praça 7 de Setembro (Praça Velha).
Da esquerda para a direita: João Casimiro, Macedo de Cacá, Assis Cassiano,
Luiz Mendes, Guerra, Chico Inácio e Erivaldo Tavares, 1953.
Registro da Coroação de Nossa Senhora, na Igreja Matriz de Brejo Santo,
possivelmente na década de 1940, antes do desabamento do templo, em 1949.
Observa-se o aspecto do altar-mor da época.

Aspecto do altar-mor da Igreja Matriz de Brejo Santo, após reformar devido ao desabamento
ocorrido em dezembro de 1949. Registro possivelmente realizado
no início de da década de 1950, após 1953.


Aspecto de Brejo Santo no início da década de 1980.

Aspecto de Brejo Santo no início da década de 1980.

Registro da Festa do Padroeiro em 2019.
Foto: Francélio Cardoso.

Registro da Festa do Padroeiro em 2019.
Foto: Francélio Cardoso.
Interior da Igreja Matriz atualmente.

A Freguesia do Brejo dos Santos, após 143 anos de sua criação. 2019.
Foto: Thales Luciano.

Para saber mais sobre a história do desabamento da Igreja Matriz de Brejo Santo, clique aqui.


O Brejo é Isso!

Bruno Yacub Sampaio Cabral



Agradecimentos:

- Paróquia Sagrado Coração de Jesus, Brejo Santo, Ceará;

- Paróquia São Francisco de Assis, Brejo Santo, Ceará.

 

Referências bibliográficas:


- Livro de Tombo da Paróquia Sagrado Coração de Jesus; Brejo Santo; Ceará.
- SILVA, Otacílio Anselmo e; Esboço Histórico do Município de Brejo Santo; em revista Itaytera N° 2; Instituto Cultural do Cariri; Crato; 1956.
- ARAÚJO, Padre Antônio Gomes de; Um Civilizador do Cariri; em revista A Província; Ano 3; Num 3; Crato; 7 de julho de 1955. 
- LEITE, Maria Santana; Reminiscências; Gráfica Universitária; Brejo Santo; 2000.
- MACÊDO, Lenira; Juarez: Questão de Honra, Coragem e Missão; Expressão Gráfica; Brejo Santo; 2009.
- PAULA, Maria Helena de, e ALMEIDA, Mayara Aparecida Ribeiro de; Entre Arraiais, Vilas, Cidades, Comarcas E Províncias: Terminologia das Representações do Espaço no Sudeste Goiano no Século XIX.
- ANDRÉ, João Bosco; Documentos para a História de Missão Velha; Expressão Gráfica e Editora; Fortaleza; 2018.
- GORGÔNIO, Luiz Ferreira; História de Jardim, Suas Contradições e Seu Folclore; 2006.
- BATISTA, Célio Augusto Alves, e GUIMARÃES, Halley; Breve História dos Municípios do Cariri Cearense: Fatos e Dados; Inesp; Fortaleza; 2020. 
- Jornal Pedro II (CE); Anno XXIII; N° 261; Sexta-feira, 14 de novembro de 1862; pág. 2.
- Jornal Gazeta Official (CE); Anno I; N° 37; Quarta-feira, 19 de novembro de 1862; Pág. 1
- Jornal A Voz da Religião do Cariry (CE); Anno II; N° 54; Domingo; 03 de abril de 1870; pág. 4.
- Jornal A Constituição (CE); Ano XIV; N° 88; Quinta-feira; 02 de agosto de 1876; pág. 1.
- https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1653-10-outubro-1855-558661-publicacaooriginal-80156-pe.html. Acesso em: 20 de janeiro de 2020.
- https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio. Acesso em: 20 de janeiro de 2020.
- http://blogs.diariodonordeste.com.br/cariri/educacao/trabalho-missionario-de-padre-ibiapina-no-cariri-completa-155-anos/24881. Acesso em: 24 de janeiro de 2020.
- https://www.vpdicas.com/artigos/o-que-e-freguesia-concelho-distrito. Acesso em: 24 de janeiro de 2020.


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