Em Porteiras, o cangaço era praticado pela aristocracia. Comerciantes e agricultores defrontavam-se em lutas sangrentas. O heroísmo e a que Quintiliano Saldanha chamou de heroísmo criminal, de que foram portadores Chico Chicote, Sinhô Salviano, Jacu Cardoso, João Basílio, daria livros do tipo dos que escreveram Edgard Wallace, Johny Cooper, Armitage Trail, Ponson de Terracil. Chico, Sinhô, Jacu e João, eram brancos, ricos e pertenciam à nobreza da região. (JÚNIOR, 2001, p. 167).
Resultado da adoção da Política das Salvações implantada pelo então Presidente do País, o marechal Hermes da Fonseca, a fim de combater as lideranças políticas, depôs Antônio Pinto Nogueira Accioly do cargo de Governador do Estado do Ceará e nomeou Marcos Franco Rabelo para o comando do Estado.
Na vila de Porteiras, o coronel Raimundo Cardoso dos Santos, chefe político do lugar, viu a deposição do seu sobrinho aciolino, o juiz Antônio Cardoso dos Santos da Intendência da vila. Em seu lugar, Franco Rabelo nomeou Intendente, Mousinho Cardoso (Pedro Aristides Cardoso dos Santos), irmão de Antônio Cardoso e sobrinho de Raimundo Cardoso dos Santos, e este, influenciado pelo chefe dos rabelistas, resolveu perseguir fortemente o tio para afastá-lo da vila, organizando um processo crime, pela morte de um cabra de Chico Chicote (Francisco Pereira de Lucena), acontecido no meio da feira.
É típico, nesse tocante, um depoimento do coronel Raimundo Cardoso dos Santos, em conversa com o Dr. Alípio Baltar, Juiz de Direito de Jardim, e com o Dr. Paulo Pedro de Moura Montenegro, Promotor de Justiça da mesma Comarca, dizia. “- Quando cheguei a Porteiras, havia mais de cem mulheres da vida. Cabras faziam desordens. Resolvi estabelecer a ordem. Passei a fazer o policiamento com os meus cabras. Algum tempo depois, um dos meus homens de confiança comunicou-me que os cabras do coronel fulano provocavam brigas em todas as feiras. Disse-lhe que mantivesse a ordem. Numa das feiras seguintes, estava em casa, quando me avisaram que havia barulho. Não saí, pois, se o fizesse, os meus cabras só agiriam com ordem minha. Preferi que agissem livremente. Na verdade, um cabra do coronel fulano estava alterando a ordem. Um dos meus cabras atirou e o cabra do coronel fulano caiu morto. Agora, meu cabra vai ser julgado. Uma coisa, porém, eu lhes digo, Dr. Juiz e Dr. Promotor, todo cabra que chegar aqui com desordem fica estirado no chão com uma bala.”
Apesar de não ser responsável pelo crime e obrigado a refugiar-se nas caatingas; para livrar da prisão, refugiou-se em Juazeiro, somente voltando a Porteiras, quando conseguiu retomar a Intendência da vila. Raimundo Cardoso tomou parte na Sedição de Juazeiro, chefiada por padre Cícero e Floro Bartolomeu, bafejados por Pinheiro Machado, caudilho da política federal de Hermes da Fonseca. Vitoriosa a sedição, ao qual depôs o Presidente do Estado Franco Rabelo, Raimundo Cardoso retomou a direção dos destinos de Porteiras, em abril de 1914.
Relativamente à Sedição de Juazeiro, Brejo dos Santos teve a ventura de não ser molestada pela horda de salteadores e assassinos que dali promanaram, não obstante a desmoralização sofrida por um dos capitães de fanáticos nas ruas do Brejo, pouco antes da eclosão daquela desordem coletiva.
De passagem por Brejo dos Santos, Manuel Calixto entrou numa mercearia. Enquanto bebia cachaça, dirigia insultos aos adversários de Floro e exibia uma quantia de 200$000 para quem declarasse ser rabelista. Tendo conhecimento daquela provocação, João Gomes da Silva Basílio dirigiu-se ao jagunço e declarou-lhe: “Pronto, um cabra que vai dizer de graça.” E gritando: “Sou rabelista! Viva Franco Rabelo!”. Foi o bastante, Manuel Calixto meteu o rabo entre as pernas e escafedeu-se para seu habitat. (1).
Enquanto isso, como vingança, o filho de Raimundo Cardoso, Joaquim Cardoso, vulgo Jacu, depredou um prédio de Mousinho, em Porteiras e as propriedades do irmão deste, o bacharel Antônio Cardos dos Santos, em Brejo dos Santos.
Pedro Aristides Cardoso dos Santos ou Pedro Aristides Cardoso, mais conhecido por Cel. Mousinho Cardoso, era filho de Aristides Cardoso dos Santos (irmão de Raimundo Cardoso dos Santos) e Lojolina Maria de Castro Filgueiras. Teve os seguintes irmãos: Antônio Cardoso dos Santos, José Cardoso dos Santos ou José Cardoso Sobrinho, João Aristides Cardoso, Próspero Cardoso e Raimundo Cardoso. Casou em Porteiras, no civil, com 18 anos, a 24 de outubro de 1897 (possivelmente nasceu em 1879), com Veneranda Xavier de Souza (Dona Déa Xavier Cardoso), de 17 anos, filha de Aristides Xavier de Souza e de Ana Benigna de Barros.
Veneranda faleceu em 22 de agosto de 1933, de enfraquecimentos, com 49 anos, em Barbalha. O Cel. Mousinho Cardoso faleceu em 09 de fevereiro de 1935 (possivelmente aos 55 anos), devido a um surto cardíaco, quando se encontrava na sede central da Caixa Econômica Federal, no Rio de Janeiro. Foi sepultado em 10 de fevereiro, no cemitério São João Batista, no bairro do Botafogo. Foram pais de: Ana Xavier Cardoso, Doney Cardoso, Maria Xavier Cardoso, Laerte Xavier Cardoso (faleceu criança), Maria Lira Xavier Cardoso (inupta), Maria Lili Xavier Cardoso (casada, sem filhos), Luiz Xavier Cardoso, Maria Adalva Xavier Cardoso, Adalgisa Xavier Cardoso, Maria Dolores Xavier Cardoso.
Vale salientar que Mousinho Cardoso foi Tenente Coronel dos Batalhões Patrióticos de Juazeiro, atuando junto a Pedro Silvino e Floro Bartolomeu. Antes de se apresentar em Juazeiro em março de 1926, Lampião foi recebido no Hotel Centenário, em Barbalha, pelos coronéis Luiz Filgueiras, Antônio Francisco e o próprio Mousinho Cardoso, cuja filha, Maria Cardoso, ofereceu um ramalhete de flores ao Rei do Cangaço.
Segue transcrições da participação do coronel Mousinho Cardoso na campanha dos Batalhões Patrióticos de Juazeiro contra os revoltosos da Coluna Miguel Costa-Prestes, através da narrativa cronológica feita por Fátima Menezes e Generosa Alencar, para a obra Homens e fatos na história do Juazeiro (estudo
cronológico — 1827-1934). Recife: EDUFPE, 1989.
Lê-se: 14 de março de 1926. |
Lê-se 19 de abril de 1926. |
Como mencionado por Floro Bartolomeu, em depoimento ao jornal O Paiz, Mousinho, impossibilitado de viver em Porteiras, cheio de ódio contra Jacu, acompanhado de cangaceiros da Paraíba, invadiu também Brejo dos Santos, estragando suas propriedades e dos Martins. Em represália, Jacu incendiou as propriedades do irmão e da progenitora de Mousinho, travando-se ultimamente uma questão particular entre Jacu e Chico Chicote em virtude de arbitrariedades praticadas contra pessoa ligada aquele fazendeiro e homem de armas. O Cel. Chico Chicote serviu a Guarda Nacional, como Tenente-Quartel-Mestre, no 105° Batalhão de Infantaria da Comarca de Jardim, ingressado em 1898, com apenas 19 anos e tendo como seu Comandante do Batalhão, o seu irmão, o tenente-coronel-comandante Manoel Inácio de Lucena.
Assim noticiou o jornal carioca "O Imparcial", em 16 de fevereiro de 1915:
"Os cangaceiros estão ou não depredando?
FORTALEZA, 15 (A.A.) - "O Unitário" publica o seguinte telegrama transmitido de Juazeiro:
"Proprietários do município de Brejo dos Santos, chegados com a roupa do corpo, relatam que Pedro Cardoso é sobrinho e inimigo do coronel Raimundo Cardoso, á frente de 20 cangaceiros da Paraíba, invadiu a vila, incendiando propriedades, matando e retirando gados, em número superior a 400.
Pedro Cardoso seguiu para vila de Porteiras, a fim de depor o chefe situacionista Raimundo Cardoso.
As vítimas queixaram-se ao chefe de Brejo dos Santos que se recusou a providenciar, declarando-se neutro na questão.
Até então não foram tomadas ainda providências pelo Governo do Estado. As vítimas pediram auxílio ao Dr. Floro.
Este respondeu que o governo tinha obrigação de providenciar, e que se não providencia, é porque que fazer como fez ao município de Senador Pompeu, onde mandou depor o chefe local."
O mesmo jornal publica o seguinte: É conhecido no Cariri o telegrama que o coronel Benjamim dirigiu aos chefes locais nestes tempos: Não se comprometa na questão de Juazeiro.
Fiz junção com o general Dantas Barreto, Castro Pinto e Miguel Rosa para desmanchar a corte de Juazeiro.
As forças acamparão em Cajazeiras, Crato e Iguatu."
O Jornal sobralense "A Lucta" transcreve o seguinte telegrama recebido pelo padre Leopoldo Fernandes Pinheiro, ex-vigário da freguesia de Brejo dos Santos, em 04 de março de 1915:
"O Revdo. padre Leopoldo Fernandes Pinheiro, vigário da Meruoca, recebeu a semana passada o seguinte telegrama: Milagres, 22 - Brejo dos Santos ameaçado conflagração coronel Raimundo Cardoso atacado Mousinho repeliu agressão, travando combate fazenda Cacimbas havendo diversas mortes. Segundo combate Sítio Poço que ficou totalmente incendiado. Mousinho recuou. Esperam-se novos ataques.
NOTA - Raimundo Cardoso, é chefe atual da vila de Porteiras e foi um dos chefes revolucionários do Juazeiro. Mousinho, ex-chefe rabelista de Porteiras, atualmente foragido nos sertões de Pernambuco é irmão do Dr. Cardoso Santos, proprietário do Sítio Poço."
Em 16 de junho de 1915, o jornal sobralense “A Lucta” novamente transcreve o seguinte telegrama:
“MILAGRES – 11. Família Chicote rompida com Cardoso. Chicotes atacados segunda vez força do governo e cangaceiros. Cardoso resistiram firmemente tiroteio 6 horas. Brejo dos Santos ameaçado Porteiras. Questão gravíssima. Pânico zona.
NOTA – Chicotes e Cardosos são duas famílias poderosas dos Municípios: Chicotes de Brejo dos Santos e Cardosos de Porteiras. Os combates deram-se sobre um sítio sobre o Araripe, propriedade de um membro da família Chicote, no município de Porteiras. Os Cardoso contam com apoio do governo, não obstante, os Chicote pertencem também ao partido barrotista.”
O caso de Porteiras reproduzia o ataque, invasão e saque à Aurora, mais conhecido como a “Questão de Oito”. A despeito de não dirigir-se contra os poderes públicos, as suas consequências influíram no “espirito turbulento de muitos chefes locais naturalmente inclinados á expansão de sentimento de revolta.”
O cangaceiro Raimundo Maximiano de Morais, vulgo Mundinho ou Raimundo Morais é irmão do cangaceiro Róseo Morais, ambos nascidos em Brejo dos Santos e participantes do ataque a Porteiras, como cabras de Chico Chicote. Raimundo Morais, ao ser preso em 1928, foi entrevistado pelo repórter do jornal "O Ceará" e a ele fez a seguinte afirmação:
“Pouco depois dessa façanha (referindo-se ao ataque dos colegiados a Porteiras, no início de junho de 1915), quando se encontrava no sitio Guaribas, de propriedade de Chico Chicote, tomou, por duas vezes, parte na defesa daquela propriedade, atacada por forças do governo.”
Em 21 de junho de 1915, o jornal carioca "O Paiz" publica uma entrevista com Floro Bartolomeu da Costa sobre o assunto:
"FORTALEZA, 20. O Dia publicou a seguinte entrevista com o Dr. Floro Bartolomeu: Disse que é real o ataque a Porteiras, pelos cangaceiros ás ordens de Chicotes, chefe situacionista em Brejo dos Santos, e Domingos Furtado, ex-chefe aciolysta e rabelista e hoje situacionista em Milagres. É verídica a notícia de que José Inácio tomasse parte de movimento, sendo Antônio Pinto, Deputado Estadual, e gente do chefe de Porteiras, agora deposto. É disso sabedor, em virtude de ter ouvido José Inácio dizer que, apesar do convite de Domingos Furtado, não entrara na questão, senão como intermediário para uma acomodação. Não duvida que os cabras de Missão Velha e Barbalha, por condescendência com os respectivos chefes, desafetos de Antônio Pinto, principalmente o último coronel João Macedo, nomeado Intendente com o fim de afrontar Antônio Pinto, quando ficou ao nosso lado, no rompimento da Assembleia Legislativa, no ano passado, se incorporassem ao grupo atacante, devendo-se tudo isso ao descaso do Governo do Estado, negando as providencias que o caso exigia, em tempo oportuno, que a questão e ataque foram motivados pelo seguinte: Assumido o governo, o coronel Rabelo, nomeou Intendente o chefe de Porteiras, Mousinho, sobrinho de Raimundo Cardoso, e este, influenciado pelo chefe dos rabelistas, resolveu perseguir fortemente o tio para afastá-lo do município, organizando um processo crime, pela morte de um individuo, pelo qual foi pronunciado, apesar de não ser responsável pelo crime e obrigado a refugiar-se nas caatingas; para livrar da prisão, foi a Juazeiro, permanecendo até o fim, porque, voltando a Porteiras, como Intendente e chefe, consentiu imprudentemente, por falta de ascendência paterna, que seu filho Joaquim Cardoso, vulgo Jacu, estragasse um prédio de Mousinho e as propriedades do irmão deste, bacharel Antônio Cardoso; tudo isto acontecendo quando ele, Floro, permanecia na Capital. Se tivesse presente, não consentiria, como não consentiu, que se fizesse a seus adversários Manoel Dantas, Francisco Botelho, Francisco Brito e Domingos Furtado, chefes de Missão Velha, São Pedro, Crato e Milagres.
Mousinho, impossibilitado de viver em Porteiras, cheio de ódio contra Jacu, acompanhado de cangaceiros da Paraíba do Norte, invadiu o marco último de Brejo dos Santos, estragando as propriedades deste e dos Martins. Em represália, Jacu incendiou as propriedades do irmão e da progenitora de Mousinho, travando-se ultimamente uma questão particular entre Jacu e Francisco Chicote, chegaram as coisas ao estado atual (...)".
"FORTALEZA, 20. Causou sensação o telegrama enviado desta Capital ao Dr. Floro Bartolomeu, comunicando que o Governo do Estado havia solicitado do Governo Federal a remessa de uma unidade do Exército para estacionar em Juazeiro, alegando que essa localidade é responsável pelo caso de Porteiras, distante daquela 15 léguas, e que estão entre os chefes situacionistas adversários do Dr. Floro Bartolomeu.
Este, em palestra, disse compreender os velhos planos do governo, mas "não pegará em rabo de macaco", e aqui permanecerá, acrescentando que o povo de Juazeiro, por intermédio de Dr. Sá (...)".
Antevendo as consequências daquela rixa, o coronel Basílio Gomes da Silva, então chefe político de Brejo dos Santos, dirigiu o seguinte telegrama ao padre Cícero:
“MILAGRES – N° 9, 07.05.1915. Exmo. Revmo. Pe. Cícero. Confiando vosso incontestável valor este posto por Vossa Revma. Minha humilde disposição, tomo liberdade pedir vossa valiosíssima intervenção para pacificar questão Chicotes Cardoso marcham em inconciliável conflito. Peço intervenção urgente. Saudações. Basílio Gomes.”
Após os ataques de Jacu Cardoso às propriedades no Poço e nas Cacimbas, em Brejo dos Santos, Mousinho Cardoso, José Inácio de Souza, o truculento cacique do Barro, então povoado da vila de Milagres e Chico Chicote mandaram assaltar, a mão armada, a propriedade do seu pai, o Cel. Raimundo Cardoso, em Porteiras. Praticado o assalto, os mancomunados, expediram eles mesmos telegramas à imprensa de Fortaleza, do Rio de Janeiro e ao Presidente da República, clamando por providencias e alegando não confiarem no Governo do Estado.
A participação do major Zé Inácio no conflito se dá por parceria firmada entre o Cel. Chico Chicote, desde o ataque à vila de Aurora em 1908, quando o chefe situacionista do lugar, o Cel. Antônio Leite Teixeira Neto, foi deposto sob armas de 600 jagunços. Devido a essa ação, ficou na tradição oral em Brejo dos Santos, que “Chico Chicote trouxe a Aurora em lombo de burros”, isto é, o Coronel das Guaribas trouxe para Brejo dos Santos, parte dos espólios e saques conquistados no combate. E logo mais esse episódio iria se repetir em Porteiras.
Em 1909, Chico Chicote ainda participaria no levante organizado por chefes políticos de Milagres, Missão Velha, Barbalha e outras vilas próximas, reunindo cerca de 1.000 homens em armas para atacar o Cel. Antônio Luiz Alves Pequeno, do Crato, que levanta um exército equivalente em sua defesa. Da intervenção de amigos comuns resulta, a muito custo, a apaziguamento dos ânimos, sendo evitado o combate.
Pois bem, tomadas essas medidas preliminares, finalmente, no dia 13 de junho de 1915, os colegiados à frente de cerca de 300 cangaceiros atacavam a vila de Porteiras, defendida pelo tenente Artur Inácio, com uma força estadual composta de 40 praças e 02 oficiais. Após 11 horas de fogo, seu último reduto foi o cemitério de onde se retraiu com o chefe deposto. Esgotadas as munições, a força estadual abandonava a vila, que ficava entregue à sanha dos vencedores.
Continua.
Por Bruno Yacub Sampaio Cabral
O Brejo é Isso!
Notas
1) - Sobre o episódio, segue o texto de Otacílio Anselmo e Silva, publicado no livro Padre Cícero - Mito e Realidade; Editora Civilização Brasileira; 1968; págs. 471 e 472:
Vitoriosa a "revolução'', o Pe. Cicero chamou ao Juazeiro o Cel. Basílio Gomes, antigo chefe aciolino de Brejo Santo. Cidadão pacífico e absolutamente alheio ao movimento recém-findo, Basílio não hesitou em atender a solicitação do seu velho amigo, fazendo-se acompanhar do Pe. Raimundo Monteiro Dias, Vigário local, do velho Silião e Tobias Gomes de Sá. Para surpresa de Basílio e seus companheiros, nada de importante lhe fora dito ou perguntado durante meia hora de palestra com o seu anfitrião. Passado esse tempo, o Pe. Cicero sugeriu uma visita dos caravaneiros ao Dr. Floro, o que foi feito.
Só então Basílio Gomes percebeu o verdadeiro sentido do convite que lhe fizera o sacerdote. Isto porque, em dado momento, Floro exclamou: "Basílio, você tem dois genros rabelistas e é consogro de outro partidário de Franco Rabelo. Se eles erguerem a cabeça, mandarei esbandalhá-los!" (Floro referia-se a Pedro Pereira de Lucena, vulgo Pedro Chicote, João Inácio de Lucena, este recém-destituído do cargo de Prefeito de Brejo Santo, e ao Cel. José Florentino de Araújo Lima, mais conhecido por José Amaro).
Conforme já ficou demonstrado, a vida do Pe. Cícero é pródiga de casos que equivalem a este em sutileza e disfarce. Dessa feita, porém, o velho sacerdote transbordou as medidas, ao faltar com a devida lealdade a um dos seus melhores amigos, utilizando-o, além disso, como tabela para pressionar adversários. Por outro lado, o episódio teve o mérito de revelar o papel histórico de Floro Bartolomeu no cenário político do Juazeiro, qual seja o de alter ego do Pe. Cicero, como tão bem definiu mais tarde o Pe. Manuel Correia de Macêdo. Enfim, acentue-se a inocuidade de que se revestira a intimidação, em face da inexistência de hostilidade de Brejo Santo ao Juazeiro, a não ser uma exemplar reprimenda de João Basílio em Manuel Calixto, em plena rua daquela cidade, e a atitude máscula do Cel. José Amaro, recusando-se a contribuir com dinheiro para o movimento sedicioso.
Leia mais
A Fonte bibliográfica será apresentada na terceira parte do artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário