A Munganga Promoção Cultural

A MUNGANGA PROMOÇÃO CULTURAL: O Brejo Isso!

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

ANTÔNIO VICELMO, A VOZ ICÔNICA DO RÁDIO CARIRIENSE



Antônio Vicelmo é a voz icônica do rádio carirense; sem dúvida, um dos mais respeitados jornalistas do Ceará. Nascido em Brejo Santo (CE), em 10 de Janeiro de 1942, e radicado na cidade de Porteiras (CE) durante a infância, é filho da primeira professora nomeada pelo Estado, para ali laborar, d. Maria do Carmo Simplício, e do boticário Vicente Anselmo. Foi naquela terra, sob a proteção de Nossa Senhora da Conceição, onde Vicelmo realizou os primeiros estudos, tornou-se coroinha e sentia em si a vontade de desbravar o mundo, conhecer as notícias de fora, ultrapassar os limites do seu pequeno rincão do sul cearense. Nessa época, o menino sonhava em ser caminhoneiro, perder-se nas estradas do Brasil e matar sua sede e curiosidade do universo, além de Porteiras e Brejo Santo, cidades primas-irmãs, seu único itinerário conhecido. Complementou os estudos em Missão Velha e Crato, cidade esta onde posteriormente veio a residir e concluir o curso de bacharelado em Direito, primeira turma.

Nos seus quase sessenta anos de jornalismo, fosse na rádio Araripe, na rádio Educadora do Crato, ou nos jornais impressos em que teve a oportunidade de atuar, Antônio Vicelmo tornou-se conhecido por difundir a cultura genuína do Cariri, do sertanejo, principalmente no seu viés mais folclórico. Manchetes como “O homem que apanhou da Caipora” e a inusitada entrevista a Vicente Finim, o autodeclarado lobisomem das sete freguesias do Cariri, a despeito de enlouquecerem os editores, fizeram a fama do jornalista, tornando-o em um dos mais cultuados arautos da cultura nordestina. 


 

O jornalismo de Antônio Vicelmo é diferenciado e revolucionário, pois vai além da informação precisa. Misto de poesia, literatura e encantamento, sua palavra é carregada de intimidade e saudosismo, arrastando o ouvinte e o leitor para a nostalgia até do que não se viu, do que não se viveu.

No seu mister de jornalista, Vicelmo teve a sorte de trabalhar ao lado de grandes intelectuais da nossa região, a exemplo de J. de Figueiredo Filho, que nos legou uma inestimável bibliografia, mormente no campo do folclore, coincidente com o afã do jovem Vicelmo daquele tempo. 

É membro do Instituto Cultural do Cariri, que tanto tem feito pela divulgação e preservação de nossa história. 

Segundo Antônio Vicelmo, por ele mesmo: “Mesmo com esse jeito matuto de redigir notícias que, muitas vezes, fugia às regras acadêmicas, fui muito prestigiado pela direção do Diário do Nordeste. Viajei meio mundo por conta do jornal. Andei no rastro  dos cangaceiros nos estados do Ceará, Pernambuco, Bahia, Alagoas e Sergipe. Estive, várias vezes, na Grota do Angico, onde mataram Lampião. Acompanhei as obras de transposição das águas do São Francisco e da Ferrovia Transnordestina, do começo ao fim. Estive em Cabrobó, de onde sai o canal que transporta a água do rio para o Ceará. Documentei a desocupação da cidade de Jaguaribara, que foi inundada pelas águas do Açude Castanhão. Levei para as páginas do jornal o modo de vida dos moradores da Nova Jaguaribara, que deixaram para trás lembranças indeléveis, entre as quais o monumento a Tristão Gonçalves de Alencar, herói do Confederação do Equador, que foi assassinado barbaramente nas terras de Jaguaribara. Mostrei para o mundo o rico patrimônio fossilífero do Cariri. Descrevi as secas e suas consequências; descobri os profetas das chuvas, os mitos que povoam o imaginário popular do Cariri. Quase viro romeiro de tanto falar sobre o Padre Cícero e o beato José Lourenço. Fiz uma série de reportagens sobre os penitentes e o Padre Ibiapina, o apóstolo do Nordeste.”

Entrevistou grandes nomes da nossa cultura, como o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, e o poeta Patativa do Assaré, de quem se tornou amigo íntimo; mas, sobretudo, capturou as vivências do homem sertanejo anônimo, com seus saberes, suas curiosidades, suas idiossincrasias, seus misticismos, suas singularidades. 

Foi o primeiro repórter do Cariri a escrever para o jornal sobre os penitentes de Barbalha, Seu Lunga, Expedito Seleiro, a Casa Grande de Nova Olinda e a Caldeira do Inferno, em Brejo Santo.



  

Fez parte da equipe do Diário do Nordeste que ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo e, em 2014, um texto seu foi objeto de uma questão do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM.

Por conta de seu profundo conhecimento da história do Cariri, representou o Diário do Nordeste, indo até Roma para acompanhar a comissão que solicitava a reabilitação do Padre Cícero, promovendo de forma singular a cobertura jornalística dessa caravana.

Em 2015, escreveu E era só… 50 Anos de Jornalismo, um apanhado de crônicas que ilustram sua rica caminhada.

É casado com Marisa Maria, seu devotado e eterno amor, com quem teve quatro filhos: Paulo Ernesto, Pedro Henrique, João Ricardo, Marcos Eduardo e Érica Vanessa, esta última, filha do coração.

Muitas são as habilidades e os dons de Antônio Vicelmo. É um multi-instrumentista da arte. Sua casa é também um ateliê, onde, nas horas vagas, fabrica carros e caminhões de madeira, além de aviões, em forma de cataventos, que ornam o jardim de sua aconchegante morada, ao sopé da Chapada do Araripe, no bairro Grangeiro, do Crato, onde sente os cheiros e gostos do Cariri, divertindo-se com as peripécias de seu neto, José, de quem virou “avôhai”, depois que seu filho Pedro Henrique se encantou.

Pragmático, sem medo da morte, que considera uma condição inevitável e natural, Antônio Vicelmo já deixou escrita uma carta de despedida, para ser lida em seu funeral, ressaltando o amor, sentimento que mais exercitou em toda sua vida. Enquanto vive, e a gente espera que assim continue entre nós por muitos anos, continua a nos encantar com sua voz inconfundível, diretamente de seu estúdio particular, cercado de rádios antigos, condecorações, pelas ondas da SomZoom, 106.5, vestido inteiro da alma profunda do Cariri.


Hérlon Fernandes Gomes, Brejo Santo - CE

08 de Agosto de 2023



Para Helaine e Kilmer, minha irmã e meu cunhado, vizinhos de Antônio Vicelmo e d. Marisa, arquétipos desse casal cercado de amor.

Para Bruno Yacub, que me acompanhou para conhecer Antônio Vicelmo pela primeira vez. Identificamo-nos sobremaneira com o festejado jornalista, uma grande inspiração.


sexta-feira, 26 de maio de 2023

O ENCONTRO DA BARONESA DAS CACIMBAS COM O CANGACEIRO MORENO

 

Era Natal de 1939. O bando do cangaceiro Moreno assustava Brejo Santo, no Ceará. Estava homiziado pelas bandas da Capoeira do Cão, onde já havia feito a barbaridade de castrar um homem e arrancar a língua de dois delatores seus. A população estava assustada. Em virtude dessa ameaça, dona Sinhá e o major Firmino Inácio, na Cachoeirinha, mandaram um sinal para Cacimbas, avisando a Maria Pia que naquele ano, infelizmente, não conseguiriam cumprir a obrigação da Missa do Galo. Era melhor não pegarem estrada a cavalo, como costumeiramente faziam. A prima rica de Sinhá mandou um bilhete a outra, tranquilizando-os. Há pouco tempo estava de carro novo, um Ford coupé. Não se preocupassem, que ela os buscaria, participariam do leilão, iriam à missa, com rapidez e em segurança.

Assim se combinou, assim se fez. Já eram duas da madrugada, quando retornavam e se aproximavam de Cacimbas. Divisaram um monturo de caules, galhos e pedras, no meio da estrada, que fez Maria Pia frear bruscamente. Era o bando de cangaceiros!
Sabedores da riqueza de Maria Pia, concluíram que um assalto seria negócio rendoso, por isso estavam ali para emboscá-la. Quem sabe umas joias ou até mesmo o automóvel só para fazerem umas arruaças.
Ameaçadores, os bandidos se aproximavam encandeados pelos faróis do automóvel, coisa rara naquele tempo. Maria Pia demorou a entender que estavam sendo atacados, até que percebeu também que estava sozinha no carro: o marido Zé Pimenta, a prima e o major saltaram do carro na primeira oportunidade, e se embrenharam no meio da caatinga. Ela estava paralisada de surpresa.
Moreno tomou a frente do bando, gritando como autoridade:  
− Aqui ninguém passa, nem mesmo a “baroa” das Cacimbas! Desça do carro, que a gente vai fazer uma vistoria!
Nesse momento, Maria Pia desceu do carro, enfurecida pelo transtorno, mas, principalmente porque não gostava do pejorativo apelido de “baronesa das Cacimbas”. Armada de revólver, gritou mais alto:
− Aqui quem está falando é Maria Pia, estou dentro de minhas terras e quero ver quem é o cabra macho que vai me empatar! – Deus dois tiros para cima e retornou ao carro. Acelerou o tanto que pôde e atravessou rasgando pneus, arrasando escombros e deixando cangaceiros admirados daquela valentia. Moreno gargalhou:
− Arre, diacho! Pense numa muié cangaceira! ­– E se deram por satisfeitos. Precisavam tirar o chapéu para todo aquele ímpeto. A tal “baroa das Cacimbas” era mais macho que muito homem.
Zé Pimenta, major Firmino e dona Sinhá só foram encontrados quando o sol raiava. Para facilitar o resgate, Maria Pia mandou dois moradores seus com as zabumbas para o meio do mato. Ao ouvirem os sons, gritaram. Estavam assustados, picados por todas as espécies de mosquitos. As canelas de dona Sinhá, alvas como leite, escorriam sangue, feridas de carrapichos e arbustos.
 
Hérlon Fernandes Gomes
Porto Velho, Rondônia
26 de Maio de 2023
Agradecimentos: a Generosa Maria dos Santos, que contou esta e outras histórias interessantíssimas a Bruno Yacub.

quinta-feira, 18 de maio de 2023

NOS ÁLBUNS DE FAMÍLIA, REPOUSA A HISTÓRIA

Quinta-feira é dia de #tbt, dia de retornar ao passado. Há 83 anos, o coronel Manoel Inácio de Lucena - ou coronel Manuel Chicote, comemorava bodas de ouro na sua fazenda, no Barreiro Branco, em Brejo Santo.

Acompanhado de seus onze filhos, genros, noras, netos e amigos, ofereceu farto banquete, acompanhado da Banda de Música e com as bênçãos do padre Pedro Inácio Ribeiro, que amanhã, no festivo 19 de maio, completaria 121 anos.

Fotografias gentilmente cedidas por Divani De Lucena Ferraz, que estarão na iconografia do romance Paiol de Pólvora, a ser lançado brevemente.





quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

96 ANOS DEPOIS, A TRAGÉDIA DE GUARIBAS GANHA UM ROMANCE DE CUNHO HISTÓRICO

 

Eis que, finalmente, o filho nasceu; depois de uma longa gestação. 

Apresento a vocês, PAIOL DE PÓLVORA, meu primeiro romance. 

Foram cinco anos de pesquisas em jornais, processos criminais, dezenas de livros, diversas entrevistas em variados estados deste Brasil, para recontar não somente o famoso Fogo das Guaribas, mas a história de Brejo Santo-CE, minha cidade, desde sua gênese até o fatal e sangrento episódio.

Sempre achei que o plano de vingança encomendado por diversos inimigos de Chico Chicote, no auge do "Império do Bacamarte" renderia uma trama policialesca, com cangaço e misticismo, duas coisas contemporâneas àquele recorte histórico.

Escrevê-lo foi um grande desafio que me impus. Quis reviver, nesse processo, o gosto especial por escritores brasileiros que tanto admiro, a exemplo de Jorge Amado, José Lins do Rêgo, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, além dos latino-americanos Gabriel Garcia Márquez, Laura Esquivel, Isabel Allende, companheiros e companheiras que são a base de toda a minha paixão pela literatura.

Com ilustrações de José Márcio, o romance histórico, subintitulado O Consórcio da Morte, narra o nascimento da Vila de Brejo dos Santos, com foco na figura do coronel Chicote Chicote e seus quarenta e oito anos de idade. No enredo, marcado de aventuras, traições, emboscadas, misticismo e paixão, destaquei personagens importantes da história do Cariri, implicados de alguma forma no contexto, como Lampião – o Rei do Cangaço e o padre Cícero, do Juazeiro.

O livro agora segue para revisão e diagramação.

Conto com vocês, amigos e amigas apreciadores da arte, para, em momento oportuno a ser anunciado,  prestigiar o lançamento deste rebento.

 

Hérlon Fernandes Gomes, Porto Velho, 1º de Fevereiro de 2023


sábado, 15 de outubro de 2022

TICO RC NAS ONDAS DO RÁDIO: O FÃ DO REI E DA MEMÓRIA DA MÚSICA

Tico RC com o cantor Ronie Von, no Brejo Santo União Clube. Roberta ao centro.
Arquivo pessoal.

A história de um lugar pode ser contada pelo conhecimento de seus homens e mulheres, que cresceram, viram e contribuíram com a formação de sua sociedade. Para se conhecer um lugar, é imprescindível, portanto, observar sua gente. 

Brejo Santo é uma cidade do interior cheia de personalidades interessantes. É uma cidade que goza de desenvolvimento, e ainda conserva seu ar pacato, uma certa identidade própria de seu povo.

Quero contar a vocês a história de um menino, que agarrado a suas ilusões infantis conseguiu edificar um sonho: uma rádio comunitária. A história desse menino e dessa rádio são bonitos recortes da história brejo-santense. Esta é história de Tico RC e a rádio Padre Pedro FM.

Em 11 de junho de 1955, nascia Francisco José Pereira, na Rua da Palha, em uma casa simples, na pacata Brejo Santo, sul do Ceará – no Cariri encantado.

Primogênito de uma prole de seis filhos, Tico, como desde criança foi carinhosamente apelidado, era uma criança inquieta, sonhadora. Sua alegria eram o cinema, os circos, os parques de diversão, as brincadeiras livres.

Alfabetizou-se em uma escola que funcionava no primeiro andar do Cine Paroquial, ambos administrados pelo padre Dermival, coadjutor do padre Pedro Inácio Ribeiro, o bom santo e velho pároco.

A primeira vez que entrou no cinema, foi como se estivesse dentro de um sonho: as imagens em movimento, a música, os artistas... Ria com os filmes de Mazzaropi, conhecia o Brasil pelos filmes da Cinelândia! Seu grande ídolo era Waldick Soriano, que lhe aparecia nas canções executadas no sistema de som de Zezim Moreira e dos parques de diversão que de vez em quando davam a alegria de se instalar no Brejo perdido. Se quisessem encontrar Tico, nessas ocasiões, pudesse estar certo da grande probabilidade de ele estar colado à cabine de som, olhando admirado as capas dos LPs, com os retratos expostos dos artistas, perguntando mil e uma coisas ao locutor.

Foi numa noite dessas que ele foi contagiado por um ritmo, por um artista. O sistema de som executava acordes novos, uma música diferente, rebelde. Correu até a cabine para saber quem era o artista.

- É Roberto Carlos, menino!

Tico chegou em casa feliz, cantando o viciante refrão: Só quero que você me aqueça neste inverno, e que tudo mais vá pro inferno.

O pai, católico devoto, não gostou daquela música e seu estilo, ordenando que o filho abandonasse essa história de jovem guarda e seus modismos. Fosse gostar de Nelson Gonçalves, que era um cantor de respeito. Todavia, não obstante os reclamos do pai, ouvir Roberto Carlos e seguir a moda do iê-iê-iê passaram a ser o pecado secreto de Tico.

Desde menino, premido pela necessidade e em busca de poder vivenciar seus pequenos luxos, vendia guloseimas feitas pelo pai, no Cine Paroquial e nos jogos de futebol acontecidos num quadro atrás da Igreja Matriz. Eram cocadas e amendoins torrados e caramelizados. Tico voltava para casa de bolsos cheios e tabuleiro vazio.

Na época, a palavra bullying ainda não se fazia ouvir como hoje, mas a prática de certo preconceito em cima da condição de um simples vendedor de cocadas, fez o menino abandonar o ofício. Que moça teria gosto em namorar um com aquele futuro?

Uma manhã, passando pela calçada do Cine Alvorada, o adolescente Tico sentiu o coração acelerar ao ler na tabuleta, enfeitada com letras garrafais: CINE ALVORADA EXIBE “ROBERTO CARLOS, EM RITMO DE AVENTURA.”

Foi tomado por um êxtase, mas a situação financeira não estava boa; cinema era luxo. O desânimo bateu, mas foi embora logo. Seguiu até a praça, conversar com um amigo engraxate. Ele fazia bico de limpar o cinema em troca de uma entrada. Não teria ele a moral de colocá-lo para dentro, a ver o filme? Ajudaria a limpar o salão, estava muito bem disposto.

Naquele dia, o engraxate e Tico estavam com sorte. O primeiro havia recebido umas encomendas de um grã-fino, da Rua do Araújo, para engraxar-lhe uma dúzia de sapatos; já Tico, porque pegava aquela oportunidade, como um presente precioso. Aquele ingresso era tudo o que ele queria.

Deu-se a limpar o cinema, como uma joia: para fazer jus ao desejo e porque Roberto Carlos merecia estrear no Brejo, em grande estilo. Cortinas de veludo sacudidas, cadeiras limpas, uma por uma... Chão varrido, passado o pano, com um cheiro fresco de eucalipto, Tico acendeu todas as luzes do cinema e ficou a sonhar com a tela branca e o momento em que apareceria seu ídolo. Despertou do devaneio com a chegada de Sr. Benôni, o dono do cinema, assustado com aquelas luzes todas acesas, em plena luz do dia. Não era dono de Paulo Afonso! E afinal, o que ele fazia ali?

Tico explicou todas as manobras, descreveu a limpeza, enfatizando as minúcias:

- Desafio o senhor a encontrar um resto de chiclete sequer pregado nas poltronas, sêo Benôni...

O chefe estava realmente admirado:

- Este cinema só esteve tão limpo e bem arrumado, assim, no dia da inauguração. Você é mesmo caprichoso, rapaz! Está contratado. Mas você não merece ser um varredor, Tico. Vejo um futuro em você. Você será meu ajudante de bilheteria. – A verdade é que Benôni Anselmo, o maior amante da sétima arte que Brejo Santo já teve, comovia-se com o amor do menino por um ídolo, pela arte. Ele também fora assim.


Depois daquela incrível matinê, Tico voltou para casa duplamente feliz: por ter visto seu ídolo na gigante tela do cinema e pelo convite para trabalhar na bilheteria do luxuoso Cine Alvorada, que dava banho de suntuosidade no modesto Cine Paroquial. Ganhava a oportunidade de trabalhar onde o mundo era fantasia e arte e cativava para junto de si um grande amigo.

O adolescente Tico. Na moda da jovem guarda.
Arquivo Pessoal.

Em casa, no quintal cercado de varas e cheio de árvores frutíferas, ele criava seus espetáculos. Era o próprio circo, onde gatos eram leões e cachorros eram ursos; era a sua rádio, onde ele apresentava um show de calouros para os amigos e anunciava principalmente sucessos do Rei.

Deixa de trabalhar do cinema, porque recebe uma proposta para trabalhar de contínuo no escritório de contabilidade de Aldo Leite, onde logo se destacará pela dedicada organização de suas tarefas. Com seu primeiro salário, compra um rádio – seu brinquedo de luxo.
Enlace Matrimonial. Arquivo Pessoal

É nessa época que conhece Verinha, uma moça estagiária do trabalho, que roubou seus encantos desde o primeiro instante. Tornaram-se logo amigos. Verinha era moça prendada, modista de mão cheia e gostava de ler as revistas do rádio. Tinha muita afinidade com Tico – corrigia até “seus erros de português ruim”; desenhava e costurava suas roupas, ao estilo dos artistas da jovem guarda. Tico, assim, apaixonou-se inevitavelmente pela moça, e tristemente sentia que ela era muita areia pro seu caminhão. Lutou, para não ultrapassar além de suas intenções de fiel amigo, até que, não suportando mais as dores de cotovelo daquele amor platônico, resolveu arriscar. Levou um gravador para a janela da moça, de noite, onde pôs a tocar, por umas três vezes, PROPOSTA, sucesso da época, de Roberto Carlos: Eu te proponho/Não dizer nada/Seguirmos juntos/A mesma estrada/Que continua/ Depois do amor/ No amanhecer.

Casam-se logo. A primogênita do casal leva o nome de Roberta. Vai ver seja dessa época que se incorporou definitivamente o “RC” ao seu nome, sigla de seu ídolo, tão marcante em tantos momentos de sua vida.

Tico e sua eterna namorada: Verinha.
Arquivo Pessoal.

Tico, de estudante de contabilidade, passa a professor desse curso, no renomado Colégio Padre Viana, cativado por mais um grande amigo que a vida lhe confirma: o professor José Teles de Carvalho. Seu escritório e sua carreira seguem de sucesso. A família recebe mais dois filhos, Paulo Renato e Ana Carla.
Com o Professor José Teles de Carvalho.
Arquivo Pessoal

No final dos anos 80, Tico RC guia um programa musical na Rádio AM Sul Cearense, sobre o Rei Roberto Carlos. Amante da boemia, sua vida é marcada pela presença certa em festas famosas no Brejo Santo União Clube. Foi membro atuante em promoções afins, como o famoso Baile Preto e Branco, organizado pela maçonaria, que reunia a fina sociedade de Brejo Santo.

Com o cantor Altemar Dutra. Brejo Santo União Clube. Arquivo Pessoal.

Com o cantor Nelson Gonçalves e amigos. Brejo Santo União Clube. Arquivo Pessoal.


Por essas noites boêmias brejo-santenses, conheceu Altemar Dutra, Ronie Von, Nelson Gonçalves, Moacir Franco, Jerry Adriani, Renato e seus Blue Caps, Waldick Soriano e tantos outros. Infelizmente, nunca teve o prazer de poder encontrar o Rei Roberto Carlos, de pertinho assim e dar-lhe um abraço do tamanho de sua admiração e dedicação.

Em 31 de Julho de 1996, em prédio particular construído onde antes era sua casa, na antiga Rua da Palha, passou a funcionar a primeira Rádio FM de Brejo Santo: a Padre Pedro FM, 104,9, uma rádio comunitária concedida a um grupo de amigos, do qual Tico era o grande entusiasta.

Sob a proteção divina de Padre Pedro Inácio Ribeiro, que nomeia a FM, a rádio segue no ar há 26 anos. Por ela já passaram muitos locutores e colaboradores inesquecíveis, com programas educativos, a exemplo da memorialista Marineusa Santana e outros de raízes sertanejas, como dos saudosos Chagas Arcelino e Expedido FM, espécies de Ludugero de seu tempo, além de tantos outros homens e mulheres de gabarito da nossa cultura.

Tico: cercado pelo Rei e pela memória da música.

Tico, pilotando seu sonho, ao longo dos anos, vem formando ouvintes fieis e forjando novos fãs do Rei. Suas histórias, nas ondas do rádio, são crônicas espontâneas de saudades, embaladas quase sempre por um clássico da jovem guarda.

A Rádio Padre Pedro FM faz parte da minha memória afetiva. Dia desses, dentro do meu carro, em Porto Velho, sintonizei uma playlist no meu Spotfy, criada com base nesse passado nostálgico. Jerry Adriani cantava “Rosas Rubras”, transportando meus sentidos a um longínquo final de tarde de sábado, família reunida, churrasco assando, feijão verde no fogo, cerveja e saudade.

Tico RC é uma personalidade autêntica, homem orgulhoso de suas conquistas, pai e avô dedicado. A vida lhe é próspera, coroada de sua grande família, agora com mais duas filhas, Ana Renata e Ana Júlia, além dos netos e netas.

A Rádio Padre Pedro FM é o Divã de Tico, onde o fundador se abre em reflexões, em rememorar o passado, a criança que foi, o menino que ainda vive nele; suas emoções, detalhes de um passado imorredouro.

Por mais de um quarto de século, posso dizer que a Rádio Padre Pedro FM é uma companhia frequente em diversos lares de Brejo Santo, zona urbana, zona rural, seja no café, no almoço, no fim das tardes, nos sábados, domingos e feriados, como um livro falado, um companheiro, um amigo conselheiro, que resgata lembranças e momentos felizes, com o melhor da canção. Tico RC e a Rádio Padre Pedro FM são cultura e são do povo.


Hérlon Fernandes Gomes, Porto Velho, Rondônia. 16 de Outubro de 2022.


Para meus pais, Sebastião e Tôta, fãs da rádio Padre Pedro FM, amigos de Tico RC e família. Ao amigo Paulo Renato, que tem seguido os caminhos do pai, navegando com o ouvinte pelas ondas do rádio.

domingo, 29 de maio de 2022

COROAÇÃO DE NOSSA SENHORA EM BREJO SANTO - POR MARINEUSA SANTANA


Coroação de Nossa Senhora no interior da Matriz do Sagrado Coração de Jesus,
em 31 de maio em 1949.
Ministrada pelo Padre Pedro Inácio Ribeiro.

    O povo brejo-santense é muito devoto de Nossa Senhora. É uma tradição de muitos anos a realização da festa da Coroação da mesma, no dia 31 de maio. Não se sabe ao certo a data da primeira festa da Coroação de Nossa Senhora na nossa cidade.
    Na década de 1930, o Padre Pedro Inácio Ribeiro celebrava esta festa da Coroação de Nossa Senhora, com muito carinho, com a colaboração da Irmandade das Filhas de Maria Imaculada (associadas moças) e das mães cristãs (casadas). Durante o mês de maio, mês dedicado a Nossa Senhora, sua imagem visitava as casas das famílias, especialmente das que pagavam promessas por graças alcançadas. Toda noite era celebrada a novena e a missa na Matriz do Sagrado Coração de Jesus; e em seguida a imagem de Nossa Senhora era conduzida à casa da família segundo a agenda. Ali era rezado o terço, à noite, quando da sua chegada, por todos os devotos que a acompanhava em procissão. No dia seguinte a família anfitriã rezava o terço, ao meio dia, em companhia da vizinhança. Á noite a imagem era reconduzida de volta à Matriz pela família, vizinhos e devotos. Este ritual era reproduzido todas as noites durante todo o mês de maio. No final do mês eram realizadas duas coroações: uma pelas Filhas de Maria e Mães cristãs, numa data combinada, e a outra no dia 31 pela comunidade paroquial, de modo geral.
    Caracterizados de personagens, como por exemplo: o dia e a noite; os astros (o sol, a lua e as estrelas); as virtudes (fé, esperança e caridade); as santas (Bernadete e Rosa) e os anjos, estavam lá no altar bem ornamentado, os artistas que prestariam seus louvores à mãe do Salvador.
    A decoração do altar a cada ano era mais bonita e a cerimônia da coroação deixava a todos encantados pela beleza. Era lindo o altar cheinho de anjos com suas camisolas, coroas e asas nas cores: branca, azul e rosa; parecia o céu na terra.
    Como era emocionante a oferta das rosas , do coração e da coroa ao som do coro das vozes infantis. Mais emocionante ainda era o ponto alto da celebração, a coroação propriamente dita. Um anjo, com voz quase divina, cantava o hino de louvor a Maria, à medida que ia descendo a coroa. Colocada a coroa sobre a cabeça da imagem de Nossa Senhora das Graças todos aplaudiam com os corações inflamados de amor, entre os estrondos e as lágrimas dos fogos de artifício feitos por seu Antônio Generosa.
    Muitas foram as crianças e jovens que tiveram o privilégio de coroar a nossa mãe do céu aqui na terra, na nossa paróquia do Sagrado Coração de Jesus. Entre elas, por exemplo: Noêmia Araújo, Maria Simplício, Filomena Alves, Sandra Rocha e Rosângela Santana (minha filha);e tantas outras.
    Uma vez a coroação foi realizada no altar mor do Sagrado Coração de Jesus. Outro ano o altar foi erigido sob o coro da igreja , ficando a imagem de Nossa Senhora e o anjo que a coroou acima do mesmo. Algumas vezes o altar foi montado na porta principal da Matriz. Certa vez durante a coroação choveu, e os anjos foram retirados as pressas para dentro da igreja pelos familiares; enquanto desmontavam o altar sem que os ornamentos fossem danificados. (Lá estava eu, Marineusa, entre os anjinhos das asas molhadas).
    De outra feita um anjo teve uma das suas asinhas queimada pelas chamas das velas do castiçal (ele se encontrava bem atrás de mim e só depois de muitos anos quando já era adulta, descobri que o anjo da asa queimada, era minha então amiga, Maria Cabral).
   O vigário cooperador Dermival de Anchieta Gondim deu continuidade a celebração por muitos anos, como era costume da paróquia, sem nada modificar. Com o passar do tempo a responsabilidade pela coroação de Nossa Senhora foi passada para as escolas. A cada ano uma delas se encarregava da realização do evento que ocorria como sempre no dia 31 de maio .
    Alguns anos pós a construção da Igreja de São Francisco as famílias daquele bairro tiveram a ideia de Nossa senhora visitar as famílias como no bairro da Matriz, e passaram a realizar uma coroação também lá .Por muito tempo ele esteve sob a responsabilidade de Dona Terezinha de Zé Pecuária e Dona Inês Carlota.
    A população aumentou muito e para evitar que algumas famílias ficassem tristes por não ter a oportunidade de acolher a Imagem de Maria em sua casa, pois são apenas 30 vistas ao mês, foi tomada a decisão de serem feitas as visitas às ruas. Assim as famílias, em mutirão, ornamentavam um altar campal e todas se sentiam visitadas pela mãe de Jesus.
    Maria Santíssima é coroada também nas escolas e nas comunidades rurais.
   Diante das dificuldades, dentre elas a financeira, o vigário resolveu pedir à Secretaria da Ação Social para assumir a responsabilidade para com a Coroação de Nossa Senhora. E desde o ano de 1999 a coroação vem sendo feita pela comunidade sob a responsabilidade da Secretaria Municipal da Ação Social, hoje denominada de Secretaria Municipal de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos.
    A coroação de Nossa Senhora na Matriz de São Francisco de Assis, atualmente é organizada pela Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Eventos.
    Nos últimos anos tem sido escolhido um tema mariano para encenação, como por exemplo: as aparições de Maria, A meditação do terço, O ofício Mariano... E no ano de 2006, quando a paróquia do Sagrado Coração de Jesus comemorou o jubileu de ouro da ordenação sacerdotal do Monsenhor Dermival de Anchieta Gondim, e também jubileu de ouro de permanência dele entre seus paroquianos, “A ação de Maria em sua vida” foi o tema da Coroação, homenageando a Maria da Imaculada Conceição através da vida do seu afilhado de batismo.
    O Monsenhor Dermival de Anchieta Gondim nasceu aos 08 de dezembro, dia da Imaculada Conceição, foi ordenado sacerdote também no dia 08 de dezembro e é um grande devoto daquela que é sua madrinha. Foi encenada a vida do Monsenhor Dermival mostrando a ação de Nossa Senhora em sua vida: no batismo, no chamado à vocação sacerdotal, na sua vida de seminarista , na sua ordenação, exatamente em 08 de dezembro, nas suas visitas aos santuários marianos do mundo inteiro, onde jovens estiveram caracterizadas dos ícones de Maria de acordo com os locais das suas aparições. Foi uma verdadeira apoteose. Além dos paroquianos, estiveram presentes, as irmãs sacramentinas, seus familiares e seu mestre de disciplina Monsenhor José Honor.
    Maria Santíssima foi sempre muito venerada por nosso povo. O amor dedicado a ela manteve os paroquianos do Sagrado Coração de Jesus de Brejo Santo fiéis a religião católica, mesmo quando não eram evangelizados, não faziam a leitura e a meditação da Palavra de Deus, por não ser permitido ao povo uso da Bíblia.
    A Nossa Senhora nossos louvores por ter sempre cuidado da nossa paróquia com tanto amor e carinho, intercedendo ao seu Filho que mandassem sacerdotes íntegros para guiar este rebanho brejo-santense.
    Todas as famílias se reuniam para coroarem Nossa Senhora, como Rainha do céu e da terra. Num altar erigido, geralmente na lateral da Igreja; entre esta e a casa paroquial, Maria era homenageada por crianças e adolescentes que durante todo o mês haviam ensaiado os cânticos da homenagem.

Aspectos da Coroação de Nossa Senhora na Matriz do Sagrado Coração de Jesus, na década de 1980.



Bibliografia

SANTANA, Marineusa; Reminiscências; Brejo Santo; 2001.
SANTANA, Marineusa; Coroação de nossa senhora; https://www.recantodasletras.com.br/contos/501041; acesso em 29.05.2021.

domingo, 10 de abril de 2022

OS CARETAS DA SEMANA SANTA E A MALHAÇÃO DE JUDAS

Lá pela altura dos meus oito anos, que me recorde, a Semana Santa aparecia como uma época de respeito, carregada de medo e mistério. Era a época em que a Igreja refletia e orava sobre o Cristo crucificado.

Havia duas coisas que me metiam muito medo nesse tempo: contava-se a lenda que, na Missa do Galo, o padre procuraria na Bíblia Sagrada um pingo do sangue de Jesus Cristo e, caso não encontrasse o precioso pingo, seria o fim do mundo! Isso me deixava apavorado; mas o que me matava mesmo de medo era a tropa de Caretas soltos nas ruas, pedindo jejuns nas portas das casas, nas bodegas, na feira, nos sítios, arrastando seus chocalhos, com suas máscaras pavorosas de papelão, de couro ou de remendos de pano. Alguns, com ares de líderes, tinham chifres como adornos, chicotes mais ameaçadores – era como se o inferno tivesse baixado na Terra.

O tormento durava do Domingo de Ramos ao Sábado de Aleluia. A meninada vivia com o coração acelerado ao som do primeiro chocalho. Era chororô e gritaria. Uns partiam para debaixo da cama – eu corria a me esconder dentro do móvel da máquina de costura da minha mãe. Ali eu duvidava que Careta me encontrasse!

É uma tradição muito antiga, trazida pelos portugueses e espanhóis, desde o descobrimento do Brasil; mas sua origem pode estar associada a um culto pagão mais distante no tempo, que festeja o início da primavera.

Vovó me contava que os caretas eram os ‘cãos’ que levavam Judas para o Inferno, no Sábado de Aleluia. E me dizia que tudo começou porque Judas Iscariotes teve inveja de Jesus e traiu-o com um beijo dado em sua face. O gesto foi a senha dada aos soldados do Império Romano,  entregando Nosso Senhor para iniciar o triste calvário da crucificação. Como paga pela traição, Judas recebeu trinta moedas de ouro. Consumada a trairagem, arrependeu-se, quis restituir o dinheiro, mas não conseguiu. Cheio de remorsos, enforcou-se numa corda. Os Caretas apareciam para atormentar Judas por tamanha desfeita: a traição contra o Filho de Deus. 

Na minha cabeça, as portas do inferno estavam abertas e os ‘cãos’ estavam soltos para levar Judas de corpo e alma.

Fui crescendo e perdendo a fobia pelos bichos feios. Já me divertia com eles. Gostava de ouvi-los, com sua voz gutural, chamando todo mundo de “padim” e de “madinha”, pedindo dinheiro, fruta, arroz, cachaça...

Descobri que os caretas juntavam tudo o que arrecadavam numa espécie de sítio: um quadrado, demarcado com palmas de coco e uma linha no chão batido de terra. Ao centro, estava amarrado o Judas, um mal-amanhado boneco de pano, recheado de palha de milho, dependurado enforcado com uma corda, às vezes com os bolsos exibindo notas de dinheiro para fora.

O Sábado de Aleluia mais movimentado à que assisti aconteceu em Porteiras, nas cercanias do sítio Cancelas, meu reduto materno. Foi lá onde vi os Caretas mais valentes, mais assustadores, mais violentos e seu “sítio” mais rico. Uma multidão se aglomerava ao redor da demarcação. Muitos homens e rapazes corajosos invadiam o sítio, tentando despistar os horripilantes vigias e se livrar de suas chicotadas. Alguns vestiam até três calças, varias camisas para aguentar as cipoadas e entravam no sítio para tentar a sorte de arrebatar valiosa prenda: uma nota alta, uma garrafa de conhaque, um jerimum maduro... Alguns se feriam graves, não se importavam de exibir os vergões de chicotes na pele. A multidão vibrava cada vez que alguém alcançava um prêmio; mangava quando alguém se lascava na pêia.

Por fim, Judas era surrado e queimado pelos Caretas, cumprindo sua sentença de ir arder nas profundezas do Inferno. 

Algumas comunidades dão nomes aos seus Judas, geralmente políticos que caem na antipatia de sua gente ou perversos criminosos, por exemplo.

Hérlon Fernandes Gomes

10 de Abril de 2022.