A
RUA DO JUÁ
E
A CONSTRUÇÃO DO PRIMEIRO CAMPO DE AVIAÇÃO NA CIDADE
Durvinha e Moreno, 1936. Imagem do filme de Benjamim Abrahão/ Imovision. |
Por volta de 1939, fugindo de
Tacaratu, em Pernambuco, os cangaceiros Moreno (Antônio Inácio da Silva), sua
companheira Durvinha (Durvalina Gomes de Sá) e o cabra João Garrincha, depois
de uma estafante caminhada, chegaram a Brejo Santo, onde esperaram o anoitecer
para poderem se aproximar da casa do pai de Moreno, localizada na Rua do Juá
(Rua Tiburtino Inácio), o trecho, na altura do Clube das Mães,
temendo uma emboscada. Com o escurecer, Moreno se dirigiu a casa do progenitor
e bateu na porta. De dentro da residência soou uma indagada voz:
- É Antônio, pai!
O velho Manoel Inácio da Silva
abriu a porta, se abraçou com o filho, o abençoando. Depois de conversarem por alguns
minutos, os cangaceiros se dirigiram para outro local onde foram procurar uma
dormida, longe dos casebres, na solidão da mata, na segurança do cobertor negro
espalhado pela noite fria.
Um dos amigos de Moreno, um rapaz
chamado Francisco, morador da famosa Rua da Lama, pediu pra acompanhar Moreno.
O cangaceiro armou o rapaz, com um mosquetão e o jovem sumiu antes do
amanhecer, levando a arma.
No período de tempo em que Moreno
permaneceu em Brejo Santo, cometeu uma série de atrocidades, destacando-se a
mais infanda, aquela em que um homem e uma mulher, moradores do Sítio “Imbuzeiro”,
acusados de delação, foram, em represália, seviciados com requintes de
perversidade. A mulher tivera a ponta da língua cortada com punhal, enquanto o
homem fora castrado.
Enquanto isso, o então
Interventor Municipal, José Matias Sampaio, recebera comunicado do Governo Estadual,
o interventor Menezes Pimentel, orientando-o a construir um campo de aviação
para receber o Chefe de Polícia e Segurança Publica.
O “aeroporto” fora construído no
Sítio Capoeiro, região entre os Sítios Pau D’arco e Malhada do Boi. Para a terraplanagem daquele
“aeroporto” foram contratados centenas de trabalhadores, tarefa executada em
tempo recorde, tendo sido toda custeada pelos cofres municipais.
O Secretário de Polícia e
Segurança Publica o capitão Cordeiro Neto viria supervisionar os trabalhos do
Comandante da tropa dos duzentos soldados, que para cá vieram para capturar o
cangaceiro Moreno.
Notícia do jornal Diário de Notícias (RJ), de 30 de junho de 1939. |
O comandante Cel. Antônio de
Oliveira, conhecido por Antônio das Coans, contava com a atuação policial
competente do subtenente Alfredo Dias que, por sua vez, tinha para executar
tarefas, no sentido do aprisionamento de Moreno, e de sua total confiança, os
sargentos Germano e Arnou.
O sargento Arnou consegue chegar
ao Sr. Pedro Antônio, portador de uma carta de Moreno a um fazendeiro, em cuja
carta solicitava ajuda financeira, mas jamais aqueles soldados, sargentos,
tenente, comandante conseguiriam prender Moreno, que conseguiu fugir para
outras terras.
Toda perseguição a Moreno se dava
apenas na zona leste da cidade, hoje o Bairro São Francisco, naturalmente, por aquela
parte da cidade residir os pais e tios de Moreno.
Pois bem, o delegado da cidade
soube rápido da chegada dos cangaceiros e enviou alguns soldados para a captura
de Moreno. Os combatentes cercaram a casa de Manoel Inácio. Um dos
guarnecedores se aproximou e foi dar uma volta nos arredores da residência, na
intenção de ver se encontrava com Moreno. Ofuscado pela escuridão, outro
soldado que fazia o cerco, viu na hora em que uma figura armada se aproximou da
frente da casa e imaginando ser Moreno, disparou o mosquetão. O homem caiu.
Atordoado pelo barulho do tiro, Manoel Inácio acordou, acendeu a lamparina e
saiu gritando:
- Mataram meu filho! Mataram meu
filho!
No meio da confusão, pela
claridade difusa da lamparina, Manoel Inácio constatou que o morto não era seu
filho. O soldado que havia realizado o disparo correu para averiguar a presa
abatida e tamanha surpresa, chorou a tragédia onde tombara um dos amigos de
farda e por esse crime, na ânsia de tornar-se herói, teria que prestar contas como
afoito e bisonho, ofuscado pela noite, sendo traído por seus reflexos de
guerrilheiro.
O policial morto pelo “fogo amigo”
tratava-se do soldado Oliveira e este namorava Geralda Simplício, Professora da
cidade.
Ao amanhecer, Moreno se dirigiu a
cidade, encontrando no caminho, com um colega que havia estudado com ele. O
amigo relatou o que tinha acontecido na noite anterior, pedindo para que ele
não seguisse na direção da casa do pai, pois corria o risco de ser morto ou
preso e, ainda, por seu pai já ter saído da cidade, temendo represálias por
parte da polícia. Moreno então agradeceu a informação e ganhou as caatingas,
retornando “pras Alagoas”.
Dedicamos esse artigo aos filhos e demais descendentes de Moreno e Durvinha, em especial a querida amiga Nely Maria da Conceição (Lili) e aos parentes em Brejo Santo.
O Brejo é Isso!
Bruno Yacub Sampaio Cabral
Dedicamos esse artigo aos filhos e demais descendentes de Moreno e Durvinha, em especial a querida amiga Nely Maria da Conceição (Lili) e aos parentes em Brejo Santo.
O Brejo é Isso!
Bruno Yacub Sampaio Cabral
Referência Bibliográfica
- LIMA, João de Sousa; Moreno e
Durvinha, Sangue, amor e fuga no cangaço; Editora Fonte Viva; Paulo Afonso –
BA; 2007;
MACÊDO, Lenira; Juarez: Questão
de honra, coragem e missão; Expressão Gráfica Editora; Brejo Santo – CE; 2009;
- ARAÚJO, Francisco Alves;
Veredas do chão nativo; Brejo Santo – CE; 2003;
- SILVA, Otacílio Anselmo; Esboço
Histórico do Município de Brejo Santo; em Itaytera, N° 2; Crato – CE; 1956;
- Jornal Diário de Notícias; Anno
X; N° 5114; Rio de Janeiro (RJ), 30 de junho de 1939; pág. 2.
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