A Munganga Promoção Cultural

A MUNGANGA PROMOÇÃO CULTURAL: O Brejo é Isso!

sábado, 28 de agosto de 2021

RIQUEZA, PAIXÃO E DECADÊNCIA DE MARIA PIA: A BARONESA DAS CACIMBAS


A rica viúva Maria Pia - A baronesa das Cacimbas.

                                                              
Os mais velhos diziam, ali pelas bandas de Brejo Santo, quando queriam ressaltar as exageradas posses de alguém:

- Aquele ali compete com Maria Pia, em riqueza!

A mulher ficou conhecida pela vultosa herança recebida, quando, em 1932, faleceu-lhe o pai, o Coronel Pedro Martins, dono de terras sem fim, limitando até os estados vizinhos, além de muito gado e ricos negócios.

Na solidão de seu quarto no velho sobrado, nas Cacimbas, construído pelo seu avô, em 1850, quando já era dono de tudo, Maria Pia refletia sobre para quê lhe serviria tanto dinheiro, se a morte acabou lhe levando tudo o que julgava mais precioso. Primeiro foram os filhos: um, aos seis meses; depois foi a morte de Francisca, sua boneca, a luz de seus olhos, a rosa do jardim, aos 4 anos. Depois o pai; veio, então, a viuvez seguida da partida materna. A morte andava no seu encalço. Só lhe restaram um irmão solteirão e uma irmã viúva, além de muito, muito dinheiro. Tanto que ela nem conseguia mensurar.

Sobrado de Maria Pia.
Sítio Cacimbas, Brejo Santo - CE.

Vencido o nojo do luto, das cinzas de seu coração desiludido, Maria Pia se deixou seduzir por um don juan do sertão: Zé Pimenta. Boticário de Missão Velha, caixeiro-viajante, um dia apareceu no casarão, com sua maleta de novidades, oferecendo óleos perfumados, águas de colônia, essências, unguentos e pílulas para a alegria. Com seu jeito manso, educado, como a tratar Maria Pia igual a uma rainha, reacendeu-lhe uma brasa de paixão que julgava inexistente.

Não demorou muito, tornaram-se amantes. As idas e vindas de Zé Pimenta para visitar a viúva não pareciam ser só de negócios. Logo veio o falatório do povo.

- Largou esposa e filhos para viver com a rica viúva. 

Aquilo foi um escândalo.

Os irmãos de Maria se preocupavam quando tinham notícias de que as propriedades estavam à venda, para bancar luxos exagerados dos dois; viam naquilo a intenção indisfarçável de um golpe e passaram a pressioná-la a abrir os olhos. Cega, Maria Pia achava o sentimento de Zé Pimenta genuíno e decidiu que viveria do jeito que sempre quis, sem dar satisfação a ninguém, sendo feliz, gastando o que era seu.

O festival da extravagância era noticiado por todos. Zé Pimenta ostentava em automóveis, festas regadas a champanhe e orquestra de música; gostava de viajar, conhecer novos mundos. Não demoraria muito para ele e Maria Pia serem rostos conhecidos nas lojas e restaurantes caros de Recife, Fortaleza...

Pelo fim dos anos 60, mandaram abrir uma pista de pouso nas Cacimbas, para descer avião, fretado de Recife, trazendo os amigos de baralho de Zé Pimenta. A notícia de que um avião pousaria ali, arrastou gente da cidade, do Deserto, do Poço para ver aquele espetáculo. Nesse dia, alegre demais pelo som da sanfona e pelo champanhe, Zé Pimenta presenteou os curiosos com voos gratuitos. Fizeram fila e, assim, como do impossível, muita gente se sentiu como um carcará, lá do alto.

Mas aquela vida pródiga, que demorou alguns bons anos, teve um efeito devastador sobre os bens de Maria Pia. Como cupim, roeu todas as riquezas que possuía, até que se viu amontoada de dívidas, sem um tostão furado. Com Zé, foram se recolher em Missão Velha, onde passaram a viver em extrema humildade.

Quem encontrasse Maria Pia, já envelhecida e viúva pela segunda vez, vendendo cocadas pela feira, admirava-se de seu resultado; sem arrependimento, mas com um gosto trágico, narrava a história de sua riqueza, de sua paixão e decadência.

A história de Maria Pia é longa, bordada também pelo folclore popular; mas tudo o que está aqui narrado eu ouvi de gente que conheceu ou morou nas Cacimbas, em Brejo Santo. Conta-se que Maria Pia e Zé Pimenta também fizeram muita caridade por aquele sertão. Dizem que adotaram cerca de quarenta filhos por aquelas redondezas.

Citando Bruno Yacub, no artigo Sobre a origem da família Martins de Morais em Brejo Santo, publicado no blog dA Munganga, segue a descrição genealógica de Maria Pia.

Pedro Martins de Oliveira Rocha foi casado com Francisca Martins Cardoso, filha de Antônio Cardoso dos Santos. São seus filhos:

MARIA MARTINS CARDOSO - casada com Pergentino Martins de Morais, filho de Manoel Martins de Morais e Ana Martins Furtado. Tiverem somente um filho, Pedro Martins Cardoso de Morais.

ANTONIO MARTINS CARDOSO - casado com Amélia Martins Barreto, de quem são filhos: Luiz Martins Barreto, João Martins Barreto e Maria Martins Cardoso (Dona Sinhá, nascida em 31.07.1900 e falecida em 26.06.1971), esta casada com o major Firmino Inácio de Sousa (nasceu em 16.10.1894 e faleceu em 20.07.1973), filho do major José Inácio do Barro e pais de Antônio Martins de Souza, nascido em 29.11.1919 e falecido em 11.04.2018. Dona Sinhá adquiriu em 1919 o sítio Cachoerinha, às margens do Riacho dos Porcos, sede do atual distrito do Poço, em Brejo Santo.

PEDRO MARTINS CARDOSO - de quem são filhos: Maria Pia Martins Cardoso, Alice Martins Cardoso e José Martins Cardoso.

Para saber mais sobre a família Martins, leia SOBRE A ORIGEM DA FAMÍLIA MARTINS DE MORAIS EM BREJO SANTO.

Hérlon Fernandes Gomes

Agradecimentos: A Bruno Yacub, que me trouxe dados colhidos com Heitor Nicodemos; aos irmãos Edmilson Furtado e Edísio Furtado, por compartilharem suas memórias; a Roberto Novais por proporcionar o encontro com Dona Candinha; a senhora Maria Cãndida Alves, Dona Candinha, por ceder suas lembranças e fotos de Maria Pia, sua mãe.


Maria Pia ao centro, já idosa.


Aspecto atual da fazenda Cacimbas, localizada na região do Poço, em Brejo Santo - CE.