A premiada tese do historiador brejo-santense, Padre Antônio Gomes de Araújo, completa 70 anos. Apresentada no 1º Congresso de História da Bahia, em 1949, a obra foi publicada em 1950. Nela, o autor defende que os baianos foram os primeiros homens "civilizados" a ocuparem os domínios do Cariri, exterminando índios e criando gado.
Isso explica muito da nossa cultura diferenciada, da nossa culinária carregada de temperos, do nosso sotaque e de um certo axé que todo caririense possui.
Destaquei trechos importantes do texto, ipsis litteris, para que se permitam viajar na linguagem medida e certa de padre Gomes, e tenham uma ideia sobre os objetivos do estudo. Boa leitura:
“Movidos pela necessidade de reação contra a indiada agressora e pela perspectiva fascinante de metais e gemas, os pioneiros partiram dos arredores da cidade de Salvador, tomando depois afeição pela atividade dos currais, dominada a cortina de arcos e tangapemas e diluída a ilusão das minas.”
“A zona é percorrida por rios secos e serranias de altura medíocre, de platôs e faldas férteis, abrindo-se em depressões vulgarmente conhecidas por boqueirões. Florestas em serras de altura de mil metros, mais ou menos, e às margens de rios, água em lagoas, olhos d’água e cacimbas, barreiros salgados, forragens substanciosas, campos mimosos e agrestes ao lado de caatingas, carrascais e ilhas de cactos, eis outra face da fisionomia natural da terra, tudo conforme acentuou Capistrano de Abreu.”
“Baianos devassadores de sertões foram os primeiros na ordem cronológica a reconhecer o Cariri, subindo o Salgado e o Riacho dos Porcos, e descente este, vindos do Terra Nova e pela Chapada do Araripe, deixando atrás o riacho da Brígida.”
“O fato deve ter ocorrido a partir de 1660. O certo é, ao fechar-se o século XVII e no começo do ano seguinte, colonos situados na zona de Exu Velho, hoje Exu, encosta pernambucana da serra do Araripe, comunicavam com moradores estabelecidos neste vale do Cariri.”
“Findo o século XVII, devassado o território e reduzidos os índios à disciplina social para a nova era iniciada, tornou-se a criação de gado a principal atividade do interior cearense, pertencendo as fazendas em geral aos baianos, os quais passaram a gerí-las pessoalmente, depois de havê-las administrado de longe, por intermédio de prepostos, para tanto especialmente contratados à razão de um bezerro de lucro sobre quatro nascidos.”
Hérlon Fernandes Gomes
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