Artigo escrito pelo jatiense Otacílio Anselmo e Silva, publicado em revista Itaytera, n° 18, 1974, Instituto Cultural do Cariri, Crato.
Minhas primeiras impressões sobre Dona Balbina remontam ao
ano de 1919, pouco antes de sua aposentadoria, em Brejo dos Santos, de cuja
localidade foi a primeira professora pública.
Lembro-me bem que, apesar da idade, ela continuava a ter os
traços de sua antiga beleza helênica. Era alta, esbelta e fisicamente perfeita.
À luz da Biometria, ajustava-se-lhe a classificação dolicocéfala. Fora, por
certo, loura na juventude, tal era a cor dos olhos - duas pérolas de um azul já
desbotado, emolduradas numa face de alvura marmórea.
Rematava-lhe a harmonia de formas os seus bastos e longos
cabelos brancos, que, bipartidos ao meio, davam-lhe o sinete de austeridade,
honradez e brandura que caracterizavam sua personalidade. Mas o que mais
impressionava de D. Balbina era o caráter sem jaça, a nobreza de mestra, o
equilíbrio moral.
Filha do casal João Casemiro Viana Arrais - Mariana Infante
Lima, Balbina Lídia Viana Arrais - este o seu nome de batismo - nasceu no
município de Lavras (Lavras da Mangabeira), no dia 5 de dezembro de 1862.
Capitão João Casimiro Viana Arrais, pai de Dona Balbina. |
Os restos mortais do pai de Dona Balbina se encontram no cemitério São João Batista, em Brejo Santo. |
Como ocorria antigamente, ela fez os seus primeiros estudos
no próprio lar, com os pais, e, à falta de estabelecimentos públicos, em
escolas particulares.
Sua juventude foi passada sob o regime dos lares sertanejos
de antanho, entre o lar, a escola e a igreja.
Aos 22 anos de idade, isto é, em 1884, a moça Balbina foi
levada a Fortaleza, onde submeteu-se a concurso para o Magistério Público, no
antigo Liceu do Ceará, tendo sido aprovada com distinção.
No ano seguinte, ingressou no professorado oficial por
nomeação do Presidente Honório Benedito Ottoni.
Eis o seu título de nomeação:
“Juiz de Direito Carlos Honório Benedito Ottoni, Comendador
da Ordem da Rosa, Presidente da Província do Ceará, etc.
Nomeio D. Balbina Rolina Viana Arrais para o cargo de
professora da cadeira do sexo feminino de São Pedro do Crato.
Palácio do Governo do Ceará, em 16 de janeiro
de 1885.
a) Carlos Honório Benedito Ottoni
Cumpra-se e registre-se.
Inspetoria Geral da Instrução Pública do Ceará, em 16 de janeiro
de 1885.
Domingues”
A margem desse documento há um selo do Império, de forma
elítica, com o dístico da Secretaria do Governo.
Na qualidade especial de uma das primeiras professoras
públicas do Cariri, Balbina Viana Arrais inicia a sua carreira com uma
disposição de ânimo que lhe acompanharia até o fim de sua longa e fecunda existência.
De São Pedro do Crato (atual Caririaçu) começou a sua peregrinação
pelas Vilas e Cidades da região caririense.
Em 21 de novembro de 1887, sob o governo do Dr. Enéas de
Araújo Torreão, foi removida para a vila de Várzea Alegre, aonde efetuou-se o
seu casamento com Lydio Dias Pedroso, farmacêutico, filho de Crato.
Objeto de origem alemã, para confecção de "pílulas". Pertencente ao Sr. Lídio Pedroso, esposo de Dona Balbina. Acervo de Ronaldo Lucena. |
Lídio Dias Pedroso, esposo de Dona Balbina. |
Jornal "Constituição" (CE), 10 de junho de 1888. |
Esse acontecimento tornou-se um fato decisivo para a vida de D. Balbina. Realmente, logo depois começou a arrastar as consequências de haver- se unido a um cidadão cujas convicções políticas eram opostas à situação dominante.
Adviram, daí, as remoções da jovem professora para as
localidades onde o império da força era a lei suprema.
Por ato do Governador Luís Antônio Ferraz, ela foi removida
para a cidade de Lavras, a 4 de setembro de 1890.
Jornal "A Pátria" (CE), 07 de agosto de 1890. |
Na gestão do Major Benjamim Liberato Barroso, em 17 de março
de 1892, removeram-na para a cidade de Barbalha. Dessa cidade, a 9 de setembro
de 1893, sob o governo do Ten. Cel. José Freire Bizerril Fontenelle, D. Balbina
foi removida para o ensino misto da cidade de Iguatu. Decorrido menos de um
ano, por ato de 27 de junho de 1894, do mesmo presidente, ela sofreu outra
remoção para a vila de Várzea Alegre.
Jornal "A República" (CE), 20 de junho de 1892. |
Jornal "A República" (CE), 23 de fevereiro de 1894. |
Finalmente, pelo Presidente Antônio Pinto Nogueira Acióli,
teve a sua última remoção, com data de 25 de junho de 1898, para a vila de
Brejo dos Santos.
A antiga vila de Brejo dos Santos marcou o fim da vida nômade
de D. Balbina, por motivo do falecimento do esposo, fato ocorrido em 20 de
agosto de 1898.
A primeira escola pública de Brejo dos Santos foi instalada à
Rua da Taboqueira, numa ampla casa de propriedade do Cel. Basílio Gomes da
Silva, chefe do executivo municipal (1893 1909). Do velho solar da Taboqueira a
escola transferiu-se para o centro da Vila.
Placa da Escola de Dona Balbina, em Brejo Santo. Acervo de Ronaldo Lucena. |
Cinco anos após o falecimento do seu esposo, que lhe deixou
apenas uma filha, D. Balbina passou a ter o consolo da companhia de um irmão, o
Pe. João Casimiro Viana Arrais, o qual, nascido a 7 de setembro de 1876 e
ordenado em Salvador (setembro de 1901), havia sido coadjutor em Itapipoca e
vigário de Trairi.
A chegada do Padre Viana naquela vila, ocorrida em 1903, como
segundo vigário, produziu um novo impulso de progresso à terra.
Padre João Casimiro Viana Arrais, foi vigário da Freguesia de Brejo dos Santos de 1903 até seu falecimento, em 1911. |
Do próprio púlpito iniciou uma campanha esclarecedora sobre o
cultivo do algodão. Incentivando o plantio e fazendo até distribuição de
sementes da malvácea, os seus ensinamentos e o seu poder de persuasão deram os
resultados esperados, inclusive a instalação de uma fábrica de beneficiamento
cujo aquisitor foi o fazendeiro Manuel Inácio Bezerra. Além disso, auxiliado
por Antônio Bernardes de Maria, o Pe. Viana construiu a capela de Bom Jesus da
Esperança e reedificou a de Senhora Santana, no Poço.
Capela de Bom Jesus, na vila Esperança. Templo construído por Pe. Viana. |
No dia 20 de abril de 1911, falecia o Padre Viana, tendo
legado aos seus paroquianos, além da moral cristã, o surto de progresso agroindustrial
de que atualmente se beneficia aquele município. (O Pe. Viana faleceu quando
escrevia um artigo para o jornal “Cetamas”, de Barbalha, do qual era exímio e
constante colaborador).
O restos mortais do Pe. Viana estão sepultados na Matriz do Sagrado Coração, em Brejo Santo. |
Desaparecido o irmão, D. Balbina permaneceu na sua rotina
diuturna, desenvolvendo o meio.
O dia 16 de setembro de 1919, assinala a sua aposentadoria,
sob o governo do Dr. João Tomé de Sabóia e Silva. Sua missão, porém, continuou
através da filha, Balbina Pedrosa Viana Arrais (Dona Pedrosinha), diplomada em
Fortaleza.
D. Balbina Lídia Viana Arrais faleceu no dia 28 de fevereiro
de 1951, aos 89 anos. Era ela uma das criaturas raras para quem o Sol deveria
parar. Espírito cristão por excelência, caráter sem jaça e equilíbrio moral a
toda prova, D. Balbina jamais se aposentou das funções de mestra. Até os
últimos dias de sua vida estava sempre rodeada de crianças aprendendo a ler.
Jazigo da família Viana Arrais no cemitério São João Batista, em Brejo Santo. |
Foi presidente do Apostolado da Oração, desde sua fundação
até falecer, instituição esta criada pelo Padre Viana, e da Confraria de Na.
Sa. Do Carmo, fundada pelo Padre Monteiro. Já nos últimos anos de sua
existência, mandou erigir um grande cruzeiro de madeira no alto do cerro que
ladeia a cidade.
Mestra utilíssima do ensino público no Cariri, primeira
professora de Brejo dos Santos, onde alfabetizou duas gerações, D. Balbina já
devia ter o seu nome eternizado na aludida cidade, como prova de justiça e
sentimento de gratidão do seu povo.
Notas:
Nos jornais publicados na época, encontramos o nome de D. Balbina mencionado de formas tipográficas divergentes:
- Balbina Lídia (ou Lydia) Viana (ou Vianna) Arrais (ou Arraes);
- Balbina Pessoa Viana Arrais;
- Balbina Rolina Viana Arrais.
Links de artigos sobre Dona Balbina:
Balbina Lídia Viana Arrais
A primeira Professora pública de Brejo Santo
Lançamento do Livro "Balbina Lídia Viana Arrais - A Mestra"
O Casarão da Família Viana Arrais
O Casarão dos Vianna Arrais, um lar de saberes e ensinamentos
Fontes bibliográficas:
- Silva, Otacílio Anselmo e, em revista Itaytera, n° 18, 1974, Instituto Cultural do Cariri, Crato;
- AMIC - CANAO, Balbina Lídia Viana Arrais - A Mestra, 2007, Brejo Santo.
O Brejo é Isso!
Bruno Yacub Sampaio Cabral
Pesquisador
Notas:
Nos jornais publicados na época, encontramos o nome de D. Balbina mencionado de formas tipográficas divergentes:
- Balbina Lídia (ou Lydia) Viana (ou Vianna) Arrais (ou Arraes);
- Balbina Pessoa Viana Arrais;
- Balbina Rolina Viana Arrais.
Capa do livro "Balbina Lídia Viana Arrais - A Mestra". Publicação organizada pela Associação da Cultura - Casarão, Nascença e outros (AMIC - CANAO), em 2007. |
Campus da Universidade Federal do Cariri, em Brejo Santo. |
Atual sede da Escola Estadual de Educação Profissional Balbina Viana Arrais. |
Links de artigos sobre Dona Balbina:
Balbina Lídia Viana Arrais
A primeira Professora pública de Brejo Santo
Lançamento do Livro "Balbina Lídia Viana Arrais - A Mestra"
O Casarão da Família Viana Arrais
O Casarão dos Vianna Arrais, um lar de saberes e ensinamentos
Fontes bibliográficas:
- Silva, Otacílio Anselmo e, em revista Itaytera, n° 18, 1974, Instituto Cultural do Cariri, Crato;
- AMIC - CANAO, Balbina Lídia Viana Arrais - A Mestra, 2007, Brejo Santo.
O Brejo é Isso!
Bruno Yacub Sampaio Cabral
Pesquisador
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