A Munganga Promoção Cultural

A MUNGANGA PROMOÇÃO CULTURAL: O Brejo Isso!

quarta-feira, 8 de abril de 2020

UM CIVILIZADOR NO CARIRI - PARTE III (FINAL)

Para lembrarmos dos 80 anos de falecimento do primeiro chefe político e o gestor municipal de maior duração na história de Brejo Santo, A Munganga Promoção Cultural disponibiliza para os leitores, o texto "Um Civilizador no Cariri", de autoria do Padre Antônio Gomes de Araújo e publicado na revista A Província; Ano 3; N° 3; em 7 de julho de 1955; Crato - Ceará; págs. 127 a 146. O texto será dividido em três partes.

CORONEL BASÍLIO GOMES DA SILVA

80 ANOS DE FALECIMENTO

08.04.1940
08.04.2020

UM CIVILIZADOR NO CARIRI 

PARTE TRÊS (FINAL)


Na foto: Brejo Santo, em 1918. Figuras representativas do Município em cordial reunião na Casa Paroquial. Sentados da esquerda para a direita: Cel. Manoel Inácio Bezerra, Prefeito na época; padre Raimundo Monteiro Dias, que foi Vigário no período de 1913-1915; padre João Alboíno Pequeno, pároco na época, filho de Crato e falecido como Monsenhor, em São Paulo, Capital; padre Plácido Alves de Oliveira, Vigário de Milagres; Cel. Basílio Gomes da Silva, que governou o Município de 1893 a 1909, chefiando o Partido Republicano Cearense (Aciolino), em cuja legenda figurou como candidato a Deputado Estadual nas eleições de 1896; João Gomes de Moura. Em pé na mesma ordem: Manoel Inácio de Lucena (Cel. Manoel Chicote), Prefeito em 1912-1914; Cel. Manoel Leite de Moura, Prefeito no período de 1929-1930, José Leite de Moura, irmão do precedente; Antônio Gomes de Santana (Antônio Generosa); Antônio Teixeira Leite (Antônio da Piçarra); Misael Fernandes Pinheiro, Coletor Estadual; Alcides Cavalcanti, primeiro Agente da Estação Telegráfica, natural de Alagoas; Emanoel Antônio Cabral (Bom de Ouro); José Luís Tavares Campos, Joaquim Gomes da Silva Basílio (Quinzô), Prefeito de 1914-1916; José Nicodemos da Silva, irmão do precedente, Prefeito no período de 1918-1919. Foto de Osael.  Fonte: AQUINO, J. Lindemberg de; Valorização do Cariri; Revista Itaytera; Ano III; Nº III; pág. 190; Crato-CE; 1957.


OSTRACISMO SUAVE

Em 1912, tombava a oligarquia Acioli, e, com ela, o Partido Republicano Cearense tomava o caminho do ostracismo, ambos depostos pela força. Caído do poder o Conselheiro Antônio Pinto Nogueira Acioli, montou-se a oposição com o tenente-coronel Franco Rabelo na presidência do Ceará.

Basílio Gomes, fiel à disciplina partidária e aos princípios, seguiu a sorte da situação estadual decaída. Dispôs, porém, as circunstâncias de jeito tal, que seu genro, João Inácio de Lucena veio a tornar-se o chefe local da nova situação política instaurada no Estado, e o prefeito do município. Assim, o realismo político do austero chefe lhe proporcionou um ostracismo cômodo à sombra do clã da família, assegurando, por outro lado, a continuidade do sossego de que desfrutava a comunidade da terra brejo-santense. E passou a apoiar administrativamente o novo prefeito.

O REGRESSO

Pelos fins de 1913, o segundo fundador Juazeiro do Norte (o primeiro foi padre Pedro Ribeiro da Silva, um Pinheiro Bezerra de Menezes, cem por cento), o padre Cicero Romão Batista, então decaído chefe politico desse município, mal suportando o ostracismo a que estava relegado, rebelou-se contra a situação estadual, assessorado pelos chefes aciolinos caririenses, com a conferência do caudilho politico Pinheiro Machado, árbitro da política federal, e superiormente orientado pelo médico baiano, Floro Bartolomeu da Costa, aventureiro hábil.

Basílio Gomes não tomou parte nessa rebelião armada, direta ou indiretamente, embora amigo particular, político e compadre do sacerdote, o qual, nem por isso, sensibilizou-se, pois, conhecia o feitio temperamental de seu correligionário, todo avesso à solução violenta. 

Daí por que, vitoriosa a rebelião com a tomada de Crato por José Pedro, em 25.01.1914, seguida da derrota das últimas forças legais em Miguel Calmon, e da premeditada intervenção federal - Brejo Santo não recebeu a visita incômoda de elementos armados descontrolados, qual ocorreu noutras localidades do Cariri fora deste. E o padre Cícero e Floro Bartolomeu, os esteios da rebelião no Cariri, não ignoravam que o intendente de Brejo Santo auxiliara a legalidade (1).

Instalado o governo intervencional no Estado, Basílio Gomes recebeu carta do padre Cícero, enviada por positivo, solicitando a remessa dos nomes dos que deviam construir as novas autoridades do município. Para prefeito, o Patriarca apontou o nome de seu filho, o referido Joaquim Gomes da Silva, homem pacífico, como o pai, e jornalista, cuja pena figurou na imprensa regional, no semanário “O Cetama”, que se editou em Barbalha, sob a direção de Henrique Lopes. 

Restaurado no controle da política de sua comuna, Basílio Gomes reconheceu, como chefe político no Estado, ao Dr. José Acioli, que passou a chefiar aqueles que se mantiveram fiéis à memória politica de Nogueira Acioli, o governador deposto 1912. 

De 1914 a 1927, sucederam-se, no executivo municipal de Brejo Santo, quatro prefeitos, nomeados por indicação de Basílio Gomes: Joaquim Gomes da Silva, citado, (1914-1916); Manuel Inácio Bezerra, seu primo (1916-1918); José Nicodemos da Silva, retro-citado, (1918-1920) e João Inácio de Lucena, citado, (1920-1927). 

VOLTA VIDA PRIVADA 

Nesse último ano, vergado ao peso dos 81 de idade, Basílio Gomes abandonou a atividade politica, satisfeito de haver escrito um capítulo substancial da evolução histórica de Brejo Santo: a fundação do distrito e da vila, a criação, organização e consolidação da administração municipal; a instituição do patrimônio do município; a construção do Paço Municipal e Cadeia Pública; a obtenção de uma agência de correio da primeira unidade escolar do ensino primário estadual instalada naquele pedaço do Cariri. Capítulo heroico e imortal, escrito num rincão pobre, encravado e esquecido num ângulo de fronteira, a 600 quilômetros de Fortaleza, sem comunicações, castigado pelas secas; incursões de bandidos e policiais cangaceiros, abandonado dos poderes estaduais. Capítulo em que esponta o talento criador, a perspectiva rasgada, o vigor do empreendimento e da realização, a vontade de aço, a tenacidade indomável e o patriotismo acendrado.

Maria da Conceição de Jesus, esposa de Basílio Gomes faleceu em 06.07.1919, como mostra o Livro de Registro de Óbitos da paróquia de Brejo Santo, 1918 - 1921, fls. 31 verso.






Recolhendo-se á vida privada depois de meio século de vida pública, Basílio Gomes recolhia a convicção de haver sido na segunda, uma projeção da primeira, quanto ao esforço criador e à capacidade administrativa. Realmente, educou os filhos para a vida, e, neste particular, constituiu padrão. Tendo-se iniciado pobre no setor econômico, chegou a possuir, adquiridos ao calor da atividade honesta, quase 10 sítios e fazendas. Em sua fazenda-sitio, Nascença, instalou o primeiro engenho de ferro que Brejo Santo conheceu servindo à indústria da rapadura no município. Chegou a possuir 8 rezes vacuns, em suas fazendas - Currais. 

Com esse espírito progressista, insistiu junto ao seu primo, o citado Manuel Inácio Bezerra, para que dotasse Brejo Santo com o primeiro beneficiador de algodão movido a vapor, quebrando a monotonia das bolandeiras locais de madeira, o que se concretizou... Pois Bezerra era inteligência – bitola – larga. 

NO CHÃO DA MORTE 

Treze anos viveu ainda o Patriarca de Brejo Santo, olhar alongado e vitorioso sobre á epopeia saída de suas mãos, que os sucessores ampliam sem descontinuidade o complexo politico - administrativo do antigo Brejo da Barbosa. Poderia morrer tranquilo. 

A uma da manhã do dia sete de abril do ano de mil novecentos e quarenta, na sua Casa Grande do bairro Taboqueira, da cidade de Brejo Santo, vítima duma queda que lhe separou algumas vértebras, Basílio Gomes da Silva cerrou os olhos a esta vida. Profundo abalo comoveu a população. O comércio não abriu as portas, antecipando-se e ao funéreo, feriado municipal decretado pela Prefeitura, ao qual desfraldou a Bandeira Nacional a-meio-pau nos altos de frontão da Casa da Edilidade (2). 

Em torno do esquife, escreve o Padre Leopoldo Fernandes, gemiam milhares de corações anuviados pela tristeza daquele dia de luto - derradeira consagração àquele que se consagrara inteiramente à terra que deixava envolta na penumbra triste de uma saudade infinda. 

Na câmara ardente e a caminho do campo santo, o caixão mortuário esteve envolvido numa bandeira nacional, por determinação do Executivo Municipal. Nessa viagem derradeira, a cidade moveu-se como u'a mole, no último adeus a seu Patriarca. A porta do cemitério, um destacamento da Polícia Militar do Estado, prestando as homenagens do estilo, fez a salva fúnebre. 

Adeus apoteótico da gratidão de Brejo Santo ao maior de seus maiores varões beneméritos! A seu civilizador! 

O Brejo é Isso!

Extraído do texto "Um Civilizador do Cariri"; do Padre Antônio Gomes de Araújo; publicado na revista A Província; Ano 3; N° 3; em 7 de julho de 1955; Crato - Ceará; págs. 127 a 146.

Notas:

(1) - Sobre o episódio, segue o texto de Otacílio Anselmo e Silva, publicado no livro Padre Cícero - Mito e Realidade; Editora Civilização Brasileira; 1968; págs. 471 e 472:

"E já que voltamos ao labirinto das responsabilidades, ci­temos um caso igualmente verdadeiro. Vitoriosa a "revolução'', o Pe. Cicero chamou ao Juazeiro o Cel. Basílio Gomes, an­tigo chefe aciolino de Brejo Santo. Cidadão pacífico e abso­lutamente alheio ao movimento recém-findo, Basílio não he­sitou em atender a solicitação do seu velho amigo, fazendo-se acompanhar do Pe. Raimundo Monteiro Dias, Vigário local, do velho Silião e Tobias Gomes de Sá. Para surpresa de Ba­sílio e seus companheiros, nada de importante lhe fora dito ou perguntado durante meia hora de palestra com o seu anfitrião. Passado esse tempo, o Pe. Cicero sugeriu uma visita dos caravaneiros ao Dr. Floro, o que foi feito. 

Só então Basílio Gomes percebeu o verdadeiro sentido do convite que lhe fizera o sacerdote. Isto porque, em dado momento, Floro exclamou: "Basílio, você tem dois genros ra­belistas e é consogro de outro partidário de Franco Rabelo. Se eles erguerem a cabeça, mandarei esbandalhá-los!" (Floro referia-se a Pedro Pereira de Lucena, vulgo Pedro Chicote, João Inácio de Lucena, este recém-destituído do cargo de Prefeito de Brejo Santo, e ao Cel. José Florentino de Araújo Lima, mais conhecido por José Amaro). 

Conforme já ficou demonstrado, a vida do Pe. Cícero é pródiga de casos que equivalem a este em sutileza e disfarce. Dessa feita, porém, o velho sacerdote transbordou as medidas, ao faltar com a devida lealdade a um dos seus melhores amigos, utilizando-o, além disso, como tabela para pressionar adversários. Por outro lado, o episódio teve o mérito de revelar o papel histórico de Floro Bartolomeu no cenário político do Juazeiro, qual seja o de alter ego do Pe. Cicero, como tão bem definiu mais tarde o Pe. Manuel Correia de Macêdo. Enfim, acentue-se a inocuidade de que se revestira a intimidação, em face da inexistência de hostilidade de Brejo Santo ao Juazeiro, a não ser uma exemplar reprimenda de João Basílio em Manuel Calixto, em plena rua daquela cidade, e a atitude máscula do Cel. José Amaro, recusando-se a contribuir com dinheiro para o movimento sedicioso."

(2) - Existe um equívoco sobre a data de falecimento de Basílio Gomes da Silva. Embora Padre Antônio Gomes de Araújo afirma ser dia 07 (sete), a data de falecimento, no Livro de Registros de Óbitos, n° 15, de 1938 a 1946, página 35, da paróquia de Brejo Santo, mostra o registro original, datado em 08 (oito) de abril de 1940 e assinado pelo padre Pedro Inácio Ribeiro.

Capa do Livro de Registros de Óbitos da paróquia de Brejo Santo.

Página 35 do Livro de Óbitos (1938 - 1946), da paróquia de Brejo Santo,
 onde se encontra o registro original do falecimento de Basílio Gomes da Silva.

Detalhe do registro de óbito de Basílio Gomes da Silva,
datada em 08 (oito) de abril de 1940 e não 07 (sete) de abril de 1940.

Lápide do Cel. Basílio Gomes da Silva.
Seu túmulo se encontra no cemitério público São João Batista, em Brejo Santo - CE.

Jazigo da família Leite Basílio, onde se encontra os restos mortais do coronel Basílio Gomes da Silva.



O Brejo é Isso!

Por Bruno Yacub Sampaio Cabral


Leia também:

BASÍLIO GOMES DA SILVA: UM CIVILIZADOR NO CARIRI - PARTE UM

BASÍLIO GOMES DA SILVA: UM CIVILIZADOR NO CARIRI - PARTE DOIS


Extraído do texto "Um Civilizador do Cariri"; do Padre Antônio Gomes de Araújo; publicado na revista A Província; Ano 3; N° 3; em 7 de julho de 1955; Crato - Ceará; págs. 127 a 146.


Leia na íntegra, o livreto intitulado de "Homenagem à memória do coronel Basílio Gomes da Silva, o honrado chefe de Brejo Santo", escrito pelo Padre Leopoldo Fernandes Pinheiro, em julho de 1940.

Homenagem à Memória do Coronel Basílio Gomes da Silva O honrado chefe de Brejo Santo

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