Há quarenta anos, em 1980, chegava a Brejo Santo, com 32 anos de idade, Fernando Maia da Nóbrega, para assumir a gerência da Caixa Econômica Federal.
Fernando Maia da Nóbrega em 1980, agência da Caixa Econômica de Brejo Santo - CE. |
O sobralense, criado no Cariri, educado em grande parte ali no Juazeiro do Norte, cresceu admirando a história da região, lendo autores de bibliografia respeitada, a exemplo de João Brígido e Irineu Pinheiro. Recebeu com entusiasmo a notícia de que passaria um tempo precioso de sua vida em Brejo Santo, a terra do respeitado historiador padre Antônio Gomes de Araújo.
Um dia, passeando pela cidade, deparou-se com a bandeira do município: duas faixas vermelhas e uma azul no centro, com três estrelas dispostas em triângulo. O que os astros significavam? Perguntou a um, a dois, a três… Ninguém sabia lhe responder. Um sinal de que a gente desconhecia sua história.
A cidade causou-lhe excelente impressão. Sentiu-se muito bem acolhido por aquela gente de riso fácil e espírito companheiro. Logo fez boas amizades, entre elas o prefeito da cidade, Dr. Lucena, um jovem médico, também amante da leitura e da história, e Djalma Lucena, ambos descendentes do Coronel Chico Chicote, personagem de uma das passagens históricas do Cariri que mais lhe empolgavam. Aquele convívio acendia ainda mais a centelha por se descobrir mais.
Em uma dessas muitas conversas, fosse na Caldeira do Inferno ou durante um café na casa de um amigo, Fernando contou de sua surpresa sobre o fato de muitos brejo-santenses não conhecerem a própria história e propôs que fosse feito um trabalho de resgate daquela memória, ameaçada de se perder. Reuniriam em livro, pela primeira vez, a história de Brejo Santo.
Tomados de empolgação, visitaram o cemitério indígena recém-descoberto em terras do Sr. Luís Bastos; deslocaram-se muitas vezes até as ruínas de Guaribas, cenário de luta sangrenta de chumbo cerrado; descortinaram distritos e ouviam os mais velhos, em busca das fontes orais mais distantes… Padre Antônio Gomes à época, infelizmente já estava acometido de Alzheimer e não pôde servir de diretriz ao trabalho daqueles jovens.
As fontes bibliográficas eram raras e praticamente desaparecidas. Por muitos finais de semana, Fernando se deslocaria até Fortaleza, para se enfurnar na Biblioteca Menezes Pimentel a garimpar dados em velhos registros, livros raros e microfilmes, dos quais legou estudo sobre os primeiros habitantes e as sesmarias de Antônio Mendes Lobato e Lira, reconstruindo as veredas históricas do Brejo, desde 1718. Acrescentando o que ouviu da oralidade, como a história de Maria Barbosa e o caso do mestre Antônio, além de realizar estudo sobre os símbolos oficiais da cidade, Fernando intitulou sua pesquisa como De Brejo da Barbosa a Brejo Santo – breve sinopse do município.
Biblioteca Pública Estadual Governador Menezes Pimentel |
Dr. Lucena, auxiliado pelos conhecimentos de genealogia de Djalma, escreveu outro apêndice, intitulado Ruas, Educação e Origens Familiares. Ambos acordaram, também, sobre a necessidade de reeditar três importantíssimos documentos históricos sobre a cidade: Esboço Histórico do Município de Brejo Santo (1956) e A tragédia de Guaribas (1972), ambos de Otacílio Anselmo e Um Civilizador do Cariri (1955), de Padre Antônio Gomes de Araújo.
Dr. Francisco Leite Lucena, então prefeito de Brejo Santo |
Djalma Lucena, advogado, neto do Coronel Chico Chicote. Profundo conhecedor da genealogia de Brejo Santo. Importante colaborador na criação do livro. |
Ao longo desses quase quarenta anos, desde sua publicação, o livro é uma raridade de ser encontrada, mas foi graças a ele, sem dúvida, que a história de nossa gente se perpetuou. Por muito tempo ele recebeu o título de O Livro do Brejo, por realmente ser único. Felizmente a produção bibliográfica foi avançando, ao longo do tempo, e outros autores vêm dando sua contribuição.
Marcus Garvey, filósofo jamaicano, um dia disse que “um povo sem conhecimento de seu passado histórico, origem e cultura é como uma árvore sem raízes”. Tenho a impressão de que o advento desse livro, criado na ânsia altruísta de difundir o conhecimento e a cultura, foi um desses momentos raros, quando as raízes do nosso povo foram plantadas de forma profunda e fecunda.
Fernando Maia da Nóbrega é hoje aposentado, reside em Fortaleza e mantém vivo esse amor pela história. Por onde passou, deixou um rastro dessa sua paixão, como na obra De Humaitá a Senador Pompeu, além do livro sobre a História da Caixa Econômica do Ceará. Já publicou na Revista Itaytera, além de contribuições para o blog do renomado e saudoso escritor Daniel Walker. Atualmente trabalha em livro em que resgata crimes históricos, além de personagens importantes na história do Cariri e adjacências, como Floro Bartolomeu, Chico Chicote, Belchior de Iguatu e Pinto Madeira.
Francisco Leite de Lucena, conhecido por Dr. Lucena, é figura querida de Brejo Santo, onde reside e ainda atua, como respeitado médico. Continua a exercitar o gosto pela arte, não abrindo mão de uma boa leitura, de uma boa música e de rever um clássico da sétima arte.
Djalma, advogado, vive em Brejo Santo. É apaixonado por história e genealogia. Uma fonte oral importante do conhecimento acerca da formação das famílias brejo-santenses.
Djalma, advogado, vive em Brejo Santo. É apaixonado por história e genealogia. Uma fonte oral importante do conhecimento acerca da formação das famílias brejo-santenses.
Aos senhores, curadores da história e da cultura, o nosso muito obrigado.
O Brejo é Isso!
O Brejo é Isso!
Hérlon Fernandes Gomes
P.S.: Entrevistei Sr. Fernando Maia da Nóbrega, que me confessou o desejo de poder regressar a Brejo Santo e rever esses amigos queridos. Há uma omissão da nossa gente em relação ao autor, que até hoje não o agraciou com o título de cidadão brejo-santense.
P.S.: Aproveitamos o ensejo para disponibilizar trecho de entrevista concedida por Dr. Lucena acerca do livro:
Parabéns ao Herlon por ressuscitar a memória da nossa terra.
ResponderExcluirO Dr. Lucena foi,na época, um fantástico prefeito. Cabe a ele o desenvolvimento do moderno Brejo Santo.
Parabéns ao autor dessa postagem com breve relato sobre a história de Brejo Santo e, especialmente, pela menção da iniciativa do nosso colega economiário Fernando Maia ao instigar a busca dos documentos e relatos históricos da criação e desenvolvimento dessa importante cidade do Cariri cearense. Fernando Maia é isso mesmo, ele tem uma extraordinária percepção da vida e uma visão privilegiada de tudo o que circula ao seu redor, portanto, é merecedor dessa homenagem. Um abraço caro amigo. Paulo Roberto Borges de Lima
ResponderExcluirQue publicação magnífica! Obrigado por compartilhar gratuitamente o livro Brejo Santo, a maior parte dos meus ancestrais são desta cidade. Muito Obrigado!
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