A Munganga Promoção Cultural

A MUNGANGA PROMOÇÃO CULTURAL: O Brejo é Isso!

sexta-feira, 22 de maio de 2020

BREJO SANTO – SUA HISTÓRIA E SUA GENTE. UM LIVRO, DOIS AUTORES: 40 ANOS DEPOIS

Há quarenta anos, em 1980, chegava a Brejo Santo, com 32 anos de idade, Fernando Maia da Nóbrega, para assumir a gerência da Caixa Econômica Federal. 

Fernando Maia da Nóbrega em 1980, agência da Caixa Econômica de Brejo Santo - CE.

O sobralense, criado no Cariri, educado em grande parte ali no Juazeiro do Norte, cresceu admirando a história da região, lendo autores de bibliografia respeitada, a exemplo de João Brígido e Irineu Pinheiro. Recebeu com entusiasmo a notícia de que passaria um tempo precioso de sua vida em Brejo Santo, a terra do respeitado historiador padre Antônio Gomes de Araújo. 

Um dia, passeando pela cidade, deparou-se com a bandeira do município: duas faixas vermelhas e uma azul no centro, com três estrelas dispostas em triângulo. O que os astros significavam? Perguntou a um, a dois, a três… Ninguém sabia lhe responder. Um sinal de que a gente desconhecia sua história. 

A cidade causou-lhe excelente impressão. Sentiu-se muito bem acolhido por aquela gente de riso fácil e espírito companheiro. Logo fez boas amizades, entre elas o prefeito da cidade, Dr. Lucena, um jovem médico, também amante da leitura e da história, e Djalma Lucena, ambos descendentes do Coronel Chico Chicote, personagem de uma das passagens históricas do Cariri que mais lhe empolgavam. Aquele convívio acendia ainda mais a centelha por se descobrir mais. 

Em uma dessas muitas conversas, fosse na Caldeira do Inferno ou durante um café na casa de um amigo, Fernando contou de sua surpresa sobre o fato de muitos brejo-santenses não conhecerem a própria história e propôs que fosse feito um trabalho de resgate daquela memória, ameaçada de se perder. Reuniriam em livro, pela primeira vez, a história de Brejo Santo. 

Tomados de empolgação, visitaram o cemitério indígena recém-descoberto em terras do Sr. Luís Bastos; deslocaram-se muitas vezes até as ruínas de Guaribas, cenário de luta sangrenta de chumbo cerrado; descortinaram distritos e ouviam os mais velhos, em busca das fontes orais mais distantes… Padre Antônio Gomes à época, infelizmente já estava acometido de Alzheimer e não pôde servir de diretriz ao trabalho daqueles jovens. 

As fontes bibliográficas eram raras e praticamente desaparecidas. Por muitos finais de semana, Fernando se deslocaria até Fortaleza, para se enfurnar na Biblioteca Menezes Pimentel a garimpar dados em velhos registros, livros raros e microfilmes, dos quais legou estudo sobre os primeiros habitantes e as sesmarias de Antônio Mendes Lobato e Lira, reconstruindo as veredas históricas do Brejo, desde 1718. Acrescentando o que ouviu da oralidade, como a história de Maria Barbosa e o caso do mestre Antônio, além de realizar estudo sobre os símbolos oficiais da cidade, Fernando intitulou sua pesquisa como De Brejo da Barbosa a Brejo Santo – breve sinopse do município. 


Biblioteca Pública Estadual Governador Menezes Pimentel

Dr. Lucena, auxiliado pelos conhecimentos de genealogia de Djalma, escreveu outro apêndice, intitulado Ruas, Educação e Origens Familiares. Ambos acordaram, também, sobre a necessidade de reeditar três importantíssimos documentos históricos sobre a cidade: Esboço Histórico do Município de Brejo Santo (1956) e A tragédia de Guaribas (1972), ambos de Otacílio Anselmo e Um Civilizador do Cariri (1955), de Padre Antônio Gomes de Araújo. 

Dr. Francisco Leite Lucena, então prefeito de Brejo Santo
Djalma Lucena, advogado, neto do Coronel Chico Chicote.
Profundo conhecedor da genealogia de Brejo Santo.
Importante colaborador na criação do livro.
Toda essa importante documentação foi reunida no livro intitulado BREJO SANTO - SUA HISTÓRIA, SUA GENTE. Em 1981, a Imprensa Oficial do Ceará imprimiu 2.000 desses exemplares, que foram presenteados à gente. 



Ao longo desses quase quarenta anos, desde sua publicação, o livro é uma raridade de ser encontrada, mas foi graças a ele, sem dúvida, que a história de nossa gente se perpetuou. Por muito tempo ele recebeu o título de O Livro do Brejo, por realmente ser único. Felizmente a produção bibliográfica foi avançando, ao longo do tempo, e outros autores vêm dando sua contribuição. 

Marcus Garvey, filósofo jamaicano, um dia disse que “um povo sem conhecimento de seu passado histórico, origem e cultura é como uma árvore sem raízes”. Tenho a impressão de que o advento desse livro, criado na ânsia altruísta de difundir o conhecimento e a cultura, foi um desses momentos raros, quando as raízes do nosso povo foram plantadas de forma profunda e fecunda. 

Fernando Maia da Nóbrega é hoje aposentado, reside em Fortaleza e mantém vivo esse amor pela história. Por onde passou, deixou um rastro dessa sua paixão, como na obra De Humaitá a Senador Pompeu, além do livro sobre a História da Caixa Econômica do Ceará. Já publicou na Revista Itaytera, além de contribuições para o blog do renomado e saudoso escritor Daniel Walker. Atualmente trabalha em livro em que resgata crimes históricos, além de personagens importantes na história do Cariri e adjacências, como Floro Bartolomeu, Chico Chicote, Belchior de Iguatu e Pinto Madeira. 

Francisco Leite de Lucena, conhecido por Dr. Lucena, é figura querida de Brejo Santo, onde reside e ainda atua, como respeitado médico. Continua a exercitar o gosto pela arte, não abrindo mão de uma boa leitura, de uma boa música e de rever um clássico da sétima arte. 

Djalma, advogado, vive em Brejo Santo. É apaixonado por história e genealogia. Uma fonte oral importante do conhecimento acerca da formação das famílias brejo-santenses. 

Aos senhores, curadores da história e da cultura, o nosso muito obrigado. 

O Brejo é Isso!

Hérlon Fernandes Gomes 


P.S.: Entrevistei Sr. Fernando Maia da Nóbrega, que me confessou o desejo de poder regressar a Brejo Santo e rever esses amigos queridos. Há uma omissão da nossa gente em relação ao autor, que até hoje não o agraciou com o título de cidadão brejo-santense. 

P.S.: Aproveitamos o ensejo para disponibilizar trecho de entrevista concedida por Dr. Lucena acerca do livro:





3 comentários:

  1. Parabéns ao Herlon por ressuscitar a memória da nossa terra.
    O Dr. Lucena foi,na época, um fantástico prefeito. Cabe a ele o desenvolvimento do moderno Brejo Santo.

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  2. Parabéns ao autor dessa postagem com breve relato sobre a história de Brejo Santo e, especialmente, pela menção da iniciativa do nosso colega economiário Fernando Maia ao instigar a busca dos documentos e relatos históricos da criação e desenvolvimento dessa importante cidade do Cariri cearense. Fernando Maia é isso mesmo, ele tem uma extraordinária percepção da vida e uma visão privilegiada de tudo o que circula ao seu redor, portanto, é merecedor dessa homenagem. Um abraço caro amigo. Paulo Roberto Borges de Lima

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  3. Que publicação magnífica! Obrigado por compartilhar gratuitamente o livro Brejo Santo, a maior parte dos meus ancestrais são desta cidade. Muito Obrigado!

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