A Munganga Promoção Cultural

A MUNGANGA PROMOÇÃO CULTURAL: O Brejo Isso!

sexta-feira, 20 de março de 2020

CORONEL SIMPLÍCIO PEREIRA DA SILVA - UM DOS PROPRIETÁRIOS DA NASCENÇA


"A fazenda Nascença pertenceu aos Santos até 1850, data em que foi adquirida pelo coronel Simplício Pereira da Silva, célebre mandatário do Pajeú. Depois de Simplício, a Nascença passou, respectivamente, às mãos de João Alves Biró, Manuel Inácio Medeiros, Antônio Leite Rabelo da Cunha, Raimundo Tavares de Souza, Basílio Gomes da Silva e José Jacinto de Araújo." (Otacílio Anselmo e Silva).



Casarão da fazenda Nascença.


Simplício Pereira da Silva, o "Peinha de Mão", nascido no ano de 1784, consta ter falecido na fazenda Baixa Grande, freguesia de Jardim, Ceará, aos 10 de janeiro de 1859, com 75 anos de idade. Capitão, depois Tenente Coronel da Guarda Nacional, promovido em 19 de novembro de 1842, quando prendeu os implicados na Revolta do Exú, denominada de Pré-Praieira, foi proprietário das fazendas Olha D'água da Boa Vista e Cachoeira, residia em Belmonte (atual São José do Belmonte) e seus interesses políticos abrangiam as vilas de Barbalha e Santo Antônio na Barra de Jardim, também comarca de Crato. Foi um grande líder da família Pereira do Pajeú, destemido e inquieto.

Por sua pequena estatura era alcunhado por Peinha de Mão. Cel. Simplício participou de muitas aventuras e a literatura diz que gostava de matar índios. Entre batizados e pagãos, matou até perder a conta. Peinha de Mão lutou com um bando de cabras do Pajeú contra o Coronel de milícias, Joaquim Pinto Madeira, o homem da "Coluna, do Trono e do Altar". O coronel Simplício foi um dos principais combatentes dos fanáticos da Pedra do Reino, ocorrido em Belmonte, Pernambuco, em 1838. Neste fato triste e cruel, Simplício Pereira perdeu dois irmãos: Alexandre Pereira da Silva e Cipriano Pereira da Silva.

Dizem que Simplício Pereira, guiado por um índio traiçoeiro, assassinou na Serra Negra, município pernambucano de Floresta, o chefe do Partido Liberal em Pajeú de Flores, o Cel. Francisco Barbosa Nogueira Paz.

O coronel Simplício casou duas vezes, primeiro com Ana Joaquina do Amor Divino (Dona Ana Nunes), falecida na fazenda Baixa Grande, em Jardim, aos 12 de junho de 1878, com origens na Casa da Torre, filha de Aniceto Nunes da Silva e de Antônia Lourenço Aragão. O segundo casamento foi com Cândida Firmino dos Santos, realizado no pátio da Fazenda Nascença, no arraial de Brejo dos Santos, freguesia de Jardim, adquirida em 1850. Sua permanência lá durou ao menos até 1858, quando foi batizada sua filha Maria Pereira dos Santos, fruto do segundo casamento, nascida em 02 de dezembro de 1858 e batizada no Sítio Brejo pelo padre Joaquim de Sá Barreto, vigário da vila de Barra do Jardim (atual Jardim - CE).

As histórias sobre Simplício Pereira, em seu tempo, são infinitas. O apelido de Peinha de Mão ocorria por ser um homem pequeno, porém o que lhe faltava em altura, sobrava em coragem e ousadia. "Conta-se que certa vez Simplício foi aprisionado por sete ou oito índios e um deles o levava nas costas amarrado. Por ser ele pequeno como a peia que se colocava nas patas dianteira dos cavalos no sertão, conseguiu soltar-se com uma faca que trazia escondida e cravou o índio, saindo em desembalada correria para a casa da fazenda, ali assediado de flechas, entrincheirou-se e matou os índios que o levavam preso".



CORONEL SIMPLÍCIO PEREIRA E O ALDEAMENTO DE JARDIM 



O texto abaixo tem como base as informações obtidas por Irineu Nogueira Pinheiro para o livro Efemérides do Cariri, de 1963. 

Mais de um século depois do descobrimento do Cariri pelo homem branco, continuava ali a luta entre o aborígene e os descendentes dos primitivos povoadores. 

Na primeira metade do século XIX, em Jardim, viviam Xocós e Huamães, remanescentes de suas tribos, a alimentar-se de caça e, também, já que esta não era bastante, de carne de gado alheio que encontravam no mato. Daí questões entre eles e os fazendeiros, que os assassinavam quando podiam, sem piedade. 

No Ceará, ou melhor, no Brasil sempre mataram índios como se fossem bichos do mato. 

Costumavam vender os indígenas jardinenses mel e cera de abelha, cujo dinheiro mal dava para comprarem fumo que muito apreciavam. 

Pretendeu o governo aldea-los, mas ele próprio reconhecia que a terra sem lagos e rios perenes não garantia pescarias constantes, e em virtude de verões prolongados e secas periódicas, não proporcionava caça suficiente às necessidades dos aldeados. 

Era impraticável o projeto, mas teimaram em realiza-lo. No caso de Jardim, ao erro do aldeamento juntaram outro imperdoável, qual o de encarregarem da execução da empresa o coronel Simplício Pereira da Silva, potentado de más entranhas, inimigo fidagal dos indígenas que ele matava como as feras em toda a parte em que os encontrava, usando para este fim da traição e de todos os meios, quaisquer que eles fossem. 

Por intermédio do major Manoel José de Sousa, do Coité, conseguiu Simplício entender-se com os indígenas e seu cacique. 

Não querendo este submeter-se ao aldeamento proposto, agarrou, de repente, o coronel Simplício, no meio da conversa, o couro do ventre do chefe índio, torceu-o com força entre o polegar e o índice de sua mão direita, dizendo-lhe num tom de imenso despeito e rancor: 

- E por que não te queres aldear, capitão velhaco? 

Em fúria, gritou o cacique ao coronel, apertando-lhe, violentamente, em revide, o couro da barriga: 

- Por que tu, também, és um capitão velhaco. 

Mas enfim, por ameaças ou por persuasão, ou o que é mais provável, por ambas as coisas, aldearam, após algum tempo, os indígenas jardinenses. 

Em 1845, uma grande seca atingiu a Província do Ceará. No ano seguinte, por falta de recursos, permitiram que os indígenas deixassem sua aldeia e fossem viver no mato, onde quisessem, à maneira de seus antepassados. 

Mantinha-se vigilante o ódio de Simplício Pereira. Passados poucos anos, um certo Félix, vaqueiro de uns dos sobrinhos e tutelados do coronel, matou a tiro de bacamarte ao mísero Cacique dos Xocós. 

Para caracterizar, mais uma vez, a prepotência e crueldade de Simplício Pereira, narraremos o seguinte episódio. 

Certo dia, numa de suas propriedades, em sua casa de morada almoçavam juntos, patriarcalmente, o coronel Simplício e alguns agregados seus. De primeiro, comiam, regra geral, à mesma mesa amos e moradores, a manejarem colheres e não facas e garfos, a rasgarem a carne assada com as mãos, a roerem ossos de galinha ou de criação, segurando-os com os dedos da mão direita, até tirar-lhes todas as fibras, a dentes. 

Sucedeu que, no meio do almoço do coronel, sacudiu fora, pela janela, um dos que estavam à mesa o osso que ele já descanara, de todo. Fê-lo, porém, o osso bater no coronel Simplício sentado à sua frente. 

Frio medo coou na alma do pobre homem que, logo, suspendeu a comida e se desfez em mil desculpas. Tremeram os que assistiram à cena e lhe previram o desfecho. 

Foi dura e inapelável a resposta do potentado: “Coma para depois morrer.” 

Mas qual a causa do ódio implacável de Simplício Pereira contra os indígenas de Jardim? 

Pelo ano de 1838, um tal João Antônio começou a pregar que, em Pedra Bonita ou Pedra do Reino, em dois rochedos ali erguidos, encantava-se o reino de El-Rei Dom Sebastião, de Portugal, falecido, havia séculos, em Alcacer Quibir, na África. 

Temerosos das consequências que lhes poderia proporcionar o fanatismo de Pedra Bonita ou Pedra do Reino, levados, talvez, também, por sentimentos de violência que lhes eram inatos, resolveram cinco irmãos da família Pereira, muito numerosa em Pernambuco, intervir o reduto dos fanáticos, prende-los ou mata-los. 

Na luta à mão armada, morreram dois dos irmãos. Juraram os três restantes vingar as vítimas em todas as circunstancias que lhes fossem propícias. 

Para cumprimento desse terrível voto foi que Simplício Pereira matou indígenas em Jardim, como se fosse caça do mato.



O Brejo é Isso!

por Bruno Yacub Sampaio Cabral


Fonte Bibliográfica

- NEVES, Venício Feitosa; O Patriarca, Crispim Pereira de Araújo "Ioiô Maroto"; Editora e Gráfica Real; Cajazeiras - PB; 2016;
- OLIVEIRA, Tomas Paoliello Pacheco de; Revitalização étnica e dinâmica territorial, Alternativas contemporâneas à crise da economia sertaneja; Contra Capa Livraria Ltda; Rio de Janeiro - RJ; 2012;
- SILVA, Otacílio Anselmo e, Esboço Histórico do Município de Brejo Santo, em revista Itaytera N° 2, Instituto Cultural do Cariri, Crato - CE, 1956;
- CABRAL, Bruno Yacub Sampaio; Dos Santos do Brejo ao Brejo dos Santos; Revista O Brejo; Ano 1; N° 1; 2019; Brejo Santo - CE;
- PINHEIRO, Irineu Nogueira; Efemérides do Cariri; Imprensa Universitária do Ceará; 1963;

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