A Munganga Promoção Cultural

A MUNGANGA PROMOÇÃO CULTURAL: O Brejo Isso!

domingo, 3 de maio de 2020

CEMITÉRIO INDÍGENA ENCONTRADO EM BREJO SANTO (1977) É DESTAQUE NACIONAL

Múmia de um indígena. Obra de Jean-Batpiste Debret. 
Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. 1834


Em 1977, enquanto se extraía areia para construção de casas, no Baixio dos Bastos, hoje conhecido como Baixio dos Lopes, foi descoberto um importante achado arqueológico.

Eram urnas funerárias indígenas intactas. Estudiosos da capital se deslocaram a Brejo Santo para inspecionarem os achados. O advento foi destaque nos jornais Tribuna do Ceará e O Fluminense.

Nas três urnas, havia a marca de respeito dos índios em relação aos mortos, sepultados com esmero dentro dos potes de barro artisticamente pintados (igaçabas ou camocins).

A urna n. 1 era desenhada com listas circulares e retangulares alternadas na cor preta, sobre um campo amarelado. A segunda, embora nos faltem informações mais detalhadas, também era colorida. A última era composta de tampa e talha, com um acabamento primoroso, apresentando traços circulares e retas rubro-negras contrastando com um fundo alaranjado.

Nas urnas, repousavam os restos mortais de dois adultos e de uma criança, provavelmente da mesma família. Com os mortos adultos, encontravam-se colares de búzios com dentes de cutia e contas de uma pedra verde (amazonita). No camocim onde foi encontrada a criança, havia objetos de seu uso, tais como, passarinhos de barro e pedras coloridas, que talvez serviram de brinquedos para o garoto.

Conforme discorre o professor Pedro Adjedan David de Souza, em sua tese de especialização em Arqueologia Social Inclusiva (URCA- 2008): "A descoberta de material arqueológico na referida área não se limita ao passado recente, pois, nos últimos anos, por ocasião de duas grandes obras federais realizadas no local, novos achados continuam a comprovar a existência passada dos Kariri, possivelmente antes e durante o processo de expansão colonial oriundo da Casa da Torre de Garcia D’ávila. Em novembro de 2008 a Zenettini Arqueologia, empresa contratada para promover o resgate arqueológico na área impactada pelas obras da Ferrovia Transnordestina, no trecho Missão Velha-Ce – Salgueiro-PE, constata no seu relatório final, a existência de material lítico e cerâmico em superfície, por meio de diversas coletas em pontos distintos da área em discussão, descritos como ‘Sítio Topo do Morro do Baixio dos Bois’, ‘Sítio Cemitério dos Índios’, ‘Sítio Baixio dos Lopes’ e ‘Sítio do Topo do Morro’. Estes sítios estão localizados numa área de abrangência comum, no percurso da direção leste-oeste do Serrote da Nascença, hoje ladeados ao norte por três comunidades circunvizinhas: o Alto da Bela Vista, o Bairro Capilé e o Bairro Renê Lucena que avançam na urbanização irregular no provável lugar de aldeamento (...)."

Hérlon Fernandes Gomes

Com dados colhidos na Biblioteca Nacional e tese de especialização POR ONDE O CABOCLO ANDOU, PEDRAS E CACOS DEIXOU: REMANESCÊNCIA DA CULTURA MATERIAL DO POVO KARIRI NO SERROTE DA NASCENÇA EM BREJO SANTO – CE E A NECESSIDADE DE UMA POLÍTICA DE PRESERVAÇÃO PATRIMONIAL COMO MECANISMO DE INCLUSÃO SOCIAL , do professor Pedro Adjedan David de Sousa.

Jornal O Fluminense. 04/01/1977

Um comentário: