A Munganga Promoção Cultural

A MUNGANGA PROMOÇÃO CULTURAL: O Brejo é Isso!

quinta-feira, 7 de maio de 2020

NARRATIVAS DO MEU BREJO ARCAICO: A CONSTRUÇÃO DO POVOADO

Foto: IBGE.

Na época do Segundo Reinado do Imperador Dom Pedro II, a povoação do território de Brejo dos Santos, em 1858 consistia de duas casas: o prédio-logradouro de um curral pertencente ao coronel Aristides Cardoso dos Santos e uma vivenda pertencente a Antônio José de Sousa e sua esposa, Senhorinha Pereira Lima, bisneta do patriarca do sítio Brejo, Francisco Pereira Lima. Na vivenda de Antônio e Senhorinha, o tropeiro se abastecia de farinha, arroz, fumo, bebida, descansava os animais e depois partia em rumo de Jardim.

Foi exatamente naquele ano de 1858 que se iniciou a formação urbana do antigo domínio da viúva Maria Barbosa, com a chegada de José Francisco da Silva, vindo de Águas Belas, em Pernambuco, em companhia de sua esposa e filhos. Logo após a chegada de José Francisco da Silva, sobretudo por serem inimigos do coronel Clementino Cavalcanti, chefe político de Águas Belas, se juntaram numerosos parentes seus, acompanhados de suas famílias, esboçando assim o povoamento.

Fonte: Acervo de Maria Santana Leite (Marineusa).

Anos depois, outras famílias chegavam ao povoado, como os Sá Batinga, de Cabrobó, no Pernambuco; os Pereira de Lucena (chegaram em 1867) e os Alves de Moura (chegaram em 1877), vindos de Nazaré, município paraibano de Sousa, na Paraíba.

Com a chegada de mais colonos, veio também o alento civilizador que modificou o cenário, dividindo os latifúndios em propriedades produtivas, incentivando agricultura e a pecuária, estabelecendo o pequeno comércio, construindo o seu núcleo populacional, o qual, mal desabrochara, sofreu o impacto da Cólera, nos meados de abril de 1862. 

Passados seis anos, em dezembro de 1868, os pioneiros resolveram construir um templo no povoado, cujo terreno foi ofertado por Francisco Alves de Moura. Padre Ibiapina, peregrino e missionário do interior do Nordeste, traçou as medidas e lançou a pedra fundamental. Conta a tradição que o Padre Ibiapina ao se dirigir à área escolhida para ser medida, dissera em tom profético: “Estenda a linha que será Matriz!”. Com efeito, a linha foi estendida e a capela se tornou Matriz.

Após 85 anos aproximadamente, em dezembro de 1949, alguns anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, a localidade agora se chamando Brejo Santo, registrou-se um fato lamentável na Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus. Estavam reformando já o velho templo e trabalhadores se encontravam retirando as colunas de sustentação do teto. Em dado momento a cobertura veio abaixo, matando dois pedreiros e saindo muitos feridos.

Fonte: IBGE.

A querida Maria Santana Leite, nossa Dona Marineusa (in memorian), em seu livro Reminiscências, 2000, nos apresenta o já Brejo Santo, na década de 1950. Nas páginas 29 e 30, ela descreve a Igreja Matriz pouco tempo após a reforma.

“Como as pessoas que desconhecem a nossa história, eu me perguntava: porque a Igreja tem a porta principal voltada para a Várzea”? Tem-se a impressão que há algo errado. Porque ela não está de frente para a praça, para o comércio, para o paço municipal? Foi então que perguntando ao meu pai, ele me explicou: Brejo Santo nasceu daquele lado. Primeiro a Nascença, onde tudo começou; depois a Rua Velha onde estavam alocados: a Prefeitura, o comércio, a cadeia, praticamente toda a Vila, com exceção da Taboqueira.

Eu, porém, lembro-me dela, já com toda a área construída, apenas com uma parte inacabada, onde se viam os tijolos sem revestimento. A escada de acesso ao coro era de madeira, o piso de tijolo de adobo e havia uma pequena quantidade de bancos feitos de tariscas de madeira. Como os assentos não eram suficientes, muitos paroquianos possuíam suas próprias cadeiras, semelhantes a genuflexórios. Eram em madeira envernizada, com assentos móveis, em palhinha. “Algumas possuíam até almofadas oferendo assim melhor comodidade aos seus proprietários.

O sino que comunica aos fiéis os eventos tem uma melodia diferente para cada acontecimento. O compasso diverge, para a chamada da missa, o enterro de adulto ou de anjo (criança).
Delimitando o altar do Sagrado Coração de Jesus, estava a mesa da comunhão para os homens. Entre a parte que foi inicialmente a capela e o restante do templo, havia outra mesa de comunhão, para mulheres e crianças, exatamente no local onde estão as colunas mais largas. Ficavam, portanto os homens na parte da frente e as mulheres e crianças na parte detrás.

Os altares já eram os mesmos de atualmente, inclusive as imagens. Do altar-mor, o do Sagrado Coração de Jesus, foram retirados dois anjos laterais. Estes ali estavam como se fossem guardiões: cada um segurava à mão um candelabro de cinco velas.”

“O ano de 1957 foi também especialíssimo para a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus de Brejo Santo. Ela, que desde 1948 até este ano havia recebido como vigários cooperadores os sacerdotes: Rubens Gondim Lóssio (1948-1949), Luís Antônio dos Santos (1949-1951), Manoel Pereira Bezerra (1951-1956) e Nicodemos Benício Pinheiro (1956-1957), é agraciada com a vinda do novo vigário cooperador, o neo-sacerdote Pe. Dermival de Anchieta Gondim, oriundo da cidade do Jardim.”


O Brejo é Isso!


Por Bruno Yacub Sampaio Cabral

Leia também:

 70 ANOS DO DESABAMENTO DA IGREJA MATRIZ

Dermival de Anchieta Gondim: Um Homem de Fé e Respeito


Fontes bibliográficas:

- Esboço Histórico do Município de Brejo Santo, Otacílio Anselmo e Silva, Revista Itaytera n° 02, de 1956, pág. 187;
- Anuário do Ceará, anos 1953/1954, págs. 57 e 58;
- A Escalada do Tempo, Marineusa Santana Leite, 2002, págs. 21 a 24;
- Reminiscências, 2000. Marineusa Santana Leite, págs. 29 e 30.

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