quarta-feira, 29 de abril de 2020
HISTÓRIAS EXTRAORDINÁRIAS DE UM MENINO SERTANEJO
sábado, 25 de abril de 2020
A PEDRA DO URUBU, A CACIMBINHA E A NASCENÇA
Se ela soubesse do plano em curso… Melhor que não soubesse!
A gente não tinha medo de bandidagem. Brejo era uma cidade pacata. O primeiro medo foi atravessar a BR-116, movimentada de carros e carretas que cruzavam de todos os cantos do Brasil. Depois, seguimos até a Matriz do Sagrado Coração de Jesus, entramos para nos benzer. Olhamos o Senhor Morto, deitado numa tumba de vidro; fui me admirar, pela enésima vez dos olhos vivos de uma Nossa Senhora enorme, vestida de azul, com olhar penoso, trancada em uma das torres da igreja, e seguimos no rumo da Usina…
Pouco depois avistamos a pedra do Urubu, suspensa no alto, acima de uma casa, entulhada de mato. O acesso não era fácil, mas arrumamos um jeito de nos embrenhar no mato, pagar o preço de furar os pés nalguns espinhos de juá e chegar até o rochedo, por veredas íngremes, rodeado de ossos.
De cima da pedra, vi o Brejo como nunca havia visto: vasto na amplidão. Havia gigantes coqueirais dispostos sobre a várzea, como resistentes soldados do seu tempo, com seus troncos finos suspensos sobre o pântano. Também se via claramente a desigualdade social, constatável na diferença das moradas do resto da cidade e das taperas que se erguiam Serrote, uma favela de gente pobre, esquecida pelo Estado. Eu ainda não tinha consciência política, porque menino quer é brincar; mas tenho certeza de que foi minha primeira indagação sobre a injustiça social: Por que uns têm tanto; e tantos, tão pouco? Tive de despertar do devaneio, para seguirmos para a Cacimbinha.
Passamos por uma lavanderia pública, mas não nos demoramos. Algumas mulheres se aglomeravam, cercadas de meninos, para lavar roupa, chorar lamentações e rir de bobagens. Não achamos o lugar interessante, melhor seguirmos para ver aquela estrada bonita, cercada por um paredão rochoso.
A estrada da Cacimbinha realmente era um lugar deslumbrante. Até o ar que a cercava era diferente: frio, perfumado dos cheiros que desciam de cipós, de musgo e flores silvestres. Um tropel de jumentos, armados de cangalhas, ia e voltava, carregando água para as circunvizinhanças e para toda a cidade, acompanhado de homens, mulheres e crianças, com uma lata ou um balde de cargas.
A Cacimbinha era, então, aquele tanque de pedra aberto no pé desse paredão de rochedo, que se estende naquela região. Naquele reservatório, filtrava-se incessantemente uma água cristalina, que matava principalmente a sede da gente do Serrote, desprovida de água encanada; mas muita gente ganhava a vida vendendo essa água da Cacimbinha para famílias das mais abastadas da cidade. Eu me admirei, na minha inocência infantil, e perguntei para a aglomeração:
- Mas ela se enche sozinha?
Ao que uma forte mulher me respondeu, equilibrando um imenso balde de flandre, cheio d’água, sobre uma rodilha na cabeça:
- Não, menino. Quem enche a Cacimbinha é Deus! - e seguiu, passo certo, desafiando os pedregulhos, segurando um menino pelo braço, mais parecendo uma atração de circo, não derramava uma gota d’água, não vacilava no seu destino.
Por fim, deixando a Cacimbinha, depois de passarmos por um juazeiro, que servia de cemitério para santos quebrados, avistamos os primeiros reflexos da água da Nascença! Marmeleiros e camarás compunham a perfumaria natural. Santo Deus! Era a coisa mais linda que eu já tinha visto em Brejo Santo. Foi como se tivesse descoberto um tesouro. Aquela lagoa natural, gênese da história da cidade, era imensa. Era um paraíso.
Demos um jeito de passarmos rasteiros sob o arame e ali estávamos, em silêncio diante do êxtase. Inspecionamos o local e encontramos uma pequena trilha, que levava até uma pedra: nosso eleito trampolim. Nadei, boiei e me diverti como um rei naquele dia.
A Cacimbinha e a Nascença secaram, mas permanecem cheias na saudade de um menino. Felizmente, a pedra do Urubu resiste, em dias melhores, e hoje é um desses portais por onde me reconecto a esse passado feliz.
Hérlon Fernandes Gomes
SOBRE A ORIGEM DA FAMÍLIA MARTINS DE MORAIS EM BREJO SANTO
Serra do Poço, Brejo Santo - CE. |
Capela de Nossa Senhora dos Remédios, no Sítio Nazaré, em Milagres. Local de sepultamento do Comandante Superior Pedro Martins de Oliveira Rocha, falecido com 120 anos de idade, segundo a tradição. |
Firmino Inácio de Sousa (Major Firmino) e Maria Martins Cardoso (Dona Sinhá Martins). |
Major Firmino Inácio (Pai) à esquerda, Antônio Martins (Filho) ao centro e Dona Sinhá Martins (Mãe) à direita. |
Aspecto atual da casa pertencente ao Major Firmino Inácio e Dona Sinhá Martins, no sítio Cachoeirinha, distrito do Poço, em Brejo Santo - CE. |
Interior da capela, parte ampliada a partir de 1919. |
Altar da capela, na parte edificada por Pedro Inácio dos Santos, na segunda metade do século 19. |
Local dos restos mortais do Major Firmino Inácio, Dona Sinhá Martins e seu filho, Antônio Martins. |
Capela Senhora Santana, no sítio Cachoeirinha, sede do distrito do Poço, em Brejo Santo - CE. |
O Riacho dos Porcos, hoje perenizado pelas águas da transposição do Rio São Francisco, margeia o sítio Cachoeirinha. |
A rica viúva Maria Pia - A baronesa das Cacimbas. |
Maria Pia ao centro, já idosa. |
Sobrado do coronel Pedro Martins Cardoso, na fazenda Cacimbas, em Brejo Santo - CE. |
FALECIMENTO DO CAPITÃO BARTOLOMEU MARTINS DE MORAIS
FALECIMENTO DO TENENTE GONÇALO DE OLIVEIRA ROCHA
Face leste da Serra do Poço. Registro feito a partir da Serra da Canabravinha. |
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O BREJO ARCAICO E A GUERRA DE PINTO MADEIRA
DOS SANTOS DO BREJO AO BREJO DOS SANTOS
sábado, 18 de abril de 2020
O BREJO ARCAICO E A GUERRA DE PINTO MADEIRA
CONFLITOS POLÍTICOS E SOCIAIS NO CARIRI ANTIGO
Local do fuzilamento de Joaquim Pinto Madeira, na manhã de 28 de novembro de 1834. Está localizado no Bairro que leva seu nome, em Crato - CE. Fonte: ejaf-escolajosealves.blogspot.com |
PADRE JOÃO MARTINS DE MORAIS
Fonte: Revista Trimensal do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; Tomo XVLIII; Parte I; Rio de Janeiro; 1885;pág. 432. |
O Brejo é Isso!
Por Bruno Yacub Sampaio Cabral.
Leia também:
Fonte bibliográfica
- ALENCAR, Tristão Gonçalves Pereira de; Expedição do Ceará em auxílio ao Piauí e Maranhão; revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; Tomo XLVIII; Parte I; Pág. 432; de 1885; Rio de Janeiro;
- ARAÚJO, Padre Antônio Gomes de; Os Arnaud no Cariri; Obras do Padre Antônio Gomes de Araújo vol. 3; Coleção Estudos e Pesquisas; vol. VII; Faculdade de Filosofia do Crato; 1980;
- ARAÚJO, Padre Antônio Gomes de; O magnífico Reitor da Universidade do Ceará;
Obras do Padre Antônio Gomes de Araújo vol. 3; Coleção Estudos e Pesquisas;
vol. VII; Faculdade de Filosofia do Crato; 1980;
- BRÍGIDO, João; Ceará, Homens e Fatos; Edições Demócrito Rocha;
Fortaleza; 2001;
- BRITO; Sócrates Quintino da Fonseca e; A rebelião de Joaquim Pinto
Madeira, Fatores Políticos e Sociais; Universidade Federal de Santa Catarina
(Mestrado); Florianópolis; 1979;
- IRFFI, Ana Sara R. P. Cortez; Pinto Madeira e seu exército de cabras:
Conflitos políticos e sociais no Cariri cearense pós independência; Clio,
Revista de Pesquisa Histórica; N° 35; Jan-Jun 2017; Recife;
- FILHO, J. de Figueiredo; História do Cariri; Volume 3; Capítulo 10° ao
14°; Coleção Estudos e Pesquisas; Faculdade de Filosofia do Crato; 1966;
- LEITE; Maria Jorge dos Santos; A influência das liberais no Cariri
cearense e a Sedição de Pinto Madeira; XXVII Simpósio Nacional de História;
Natal; 2013;
- LIMA, Francisco Augusto de Araújo; Famílias Cearenses Um; Editora
Premius; Fortaleza; 2001;
- LIMA, Marcelo Ayres Camurça; Acordo e conflito: Relação das
oligarquias agrárias, setores comerciais e camadas populares nas primeiras
décadas da República Velha, no Ceará; Revista de Ciências Sociais; V. 16/17; N°
1/2; Fortaleza; 1985/1986;
- MARANHÃO, Leite; Contribuição ao estudo genealógico das principais
famílias de Milagres; Revista do Instituto do Ceará; Tomo LXIV; Ano LXIV; Emp.
Editora Fortaleza Ltda; 1950;
- PINHEIRO, Irineu; Efemérides do Cariri; Imprensa Universitária do
Ceará; 1963;
- PINHEIRO, Irineu; Joaquim Pinto Madeira e a Revolução de 1832; Revista do Instituto do Ceará; Tomo LVII; Ano LVII; Emp. Editora Fortaleza Ltda; 1943;
- PINHEIRO, Raimundo Teles; Guerra do Pinto (síntese); Revista do Instituto do Ceará; Tomo XCIX; Ano XCIX; Fortaleza; 1985;
- SOUSA, Carlos César Pereira de; Milagres: nossa terra cariri; Fortaleza; Expressão Gráfica e Editora; 2021;
- STUDART, Guilherme; Diccionário Bio-bibliográfico Cearense: Joaquim Pinto Madeira; Typo-lithographia A Vapor; v. 2; Fortaleza; 1910;
- http://ejaf-escolajosealves.blogspot.com/2015/03/joaquim-pinto-madeira.html
quarta-feira, 8 de abril de 2020
UM CIVILIZADOR NO CARIRI - PARTE III (FINAL)
CORONEL BASÍLIO GOMES DA SILVA
80 ANOS DE FALECIMENTO
08.04.1940
08.04.2020
UM CIVILIZADOR NO CARIRI
Maria da Conceição de Jesus, esposa de Basílio Gomes faleceu em 06.07.1919, como mostra o Livro de Registro de Óbitos da paróquia de Brejo Santo, 1918 - 1921, fls. 31 verso.
Capa do Livro de Registros de Óbitos da paróquia de Brejo Santo. |
Página 35 do Livro de Óbitos (1938 - 1946), da paróquia de Brejo Santo, onde se encontra o registro original do falecimento de Basílio Gomes da Silva. |
Detalhe do registro de óbito de Basílio Gomes da Silva, datada em 08 (oito) de abril de 1940 e não 07 (sete) de abril de 1940. |
Lápide do Cel. Basílio Gomes da Silva. Seu túmulo se encontra no cemitério público São João Batista, em Brejo Santo - CE. |
Jazigo da família Leite Basílio, onde se encontra os restos mortais do coronel Basílio Gomes da Silva. |
O Brejo é Isso!
Por Bruno Yacub Sampaio Cabral
Leia também:
BASÍLIO GOMES DA SILVA: UM CIVILIZADOR NO CARIRI - PARTE UM
BASÍLIO GOMES DA SILVA: UM CIVILIZADOR NO CARIRI - PARTE DOIS
Extraído do texto "Um Civilizador do Cariri"; do Padre Antônio Gomes de Araújo; publicado na revista A Província; Ano 3; N° 3; em 7 de julho de 1955; Crato - Ceará; págs. 127 a 146.
Leia na íntegra, o livreto intitulado de "Homenagem à memória do coronel Basílio Gomes da Silva, o honrado chefe de Brejo Santo", escrito pelo Padre Leopoldo Fernandes Pinheiro, em julho de 1940.
Homenagem à Memória do Coronel Basílio Gomes da Silva O honrado chefe de Brejo Santo
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Serra do Poço, Brejo Santo - CE. Em Esboço Histórico do Município de Brejo Santo , Otacílio Anselmo nos traz as seguintes informações s...
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Tese de José Américo Monteiro Lacerda para a revista Itaytera, n° 39, de 1995. Padre Antônio Gomes de Araújo: Nasceu em 06 de janeiro ...
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Coronel Domingos Leite Furtado. Segundo informações de Francisco Augusto de Araújo Lima em seu livro - Famílias Cearenses Um - ...